Camboja – SuoViaggio Edição n. 57
Zélia Rodrigues - PublisherRevistas Publicadas Ásia, Camboja, Revistas 2023
Camboja
Mergulhe na história e na beleza natural de tirar o fôlego de um dos países mais fascinantes do Sudeste Asiático
Nessa edição de SuoViaggio atravessamos o globo para fazer a nossa primeira incursão no exótico continente asiático e revelar a você os encantos de um dos países menos conhecidos pelos brasileiros no continente, o Camboja. Após anos de sofrimentos decorrentes por uma das mais sangrentas guerras civis da história recente, o Camboja tem se esforçado para deixar esse triste passado para trás, investindo em infraestrutura turística moderna para atrair cada vez mais o turismo ocidental. Além dos magníficos templos de Angkor, exploramos outras atrações da cidade de Siem Reap, a principal meta de viajantes estrangeiros. Mas decidimos ir além do óbvio e fomos explorar o sul do país para conhecer as belas praias e ilhas cambojanas. Se você acha que os únicos atrativos do Camboja são os templos do Império Khmer, vai se se surpreender pelos cenários paradisíacos de suas praias!
E você sabe qual país ostenta o título de maior produtor de vinhos do mundo? A nossa coluna Vinho & Eu deste mês traz essa e outras informações interessantes sobre o mundo da vinicultura, como o fato de os três maiores produtores de vinhos representarem metade da produção global! Vem com a gente para desvendar os detalhes desse fascinante universo.
Camboja
Mergulhe na história e na beleza natural de tirar o fôlego de um dos países mais fascinantes do Sudeste AsiáticoO continente asiático guarda uma certa aura de mistério que lhe confere um grande fascínio aos ocidentais. Espiritualidade elevada, cultura milenar, métodos medicinais alternativos, alimentação saudável e longevidade são alguns exemplos do que a Ásia tem para oferecer ao mundo. E entre dois gigantes asiáticos (China e Índia) fica a região da Indochina, formada por Vietnã, Laos e Camboja, uma das regiões mais encantadoras de todo o continente.
Quando falamos do Camboja, é natural que façamos uma associação imediata ao período em que o país foi assolado por uma das guerras civis mais sangrentas do século XX, mas desde que a paz foi instaurada na região na década de 1990 muito tem sido feito pela reconstrução do Camboja. Embora o Khmer Vermelho tenha destruído muitos monumentos antigos, o país ainda guarda grande parte da herança da época em que esteve sob o reino do Império Khmer, que por mais de cinco séculos governou o Camboja e outros países da região, deixando um grande legado religioso e arquitetônico, como os templos de Angkor, construídos nas imediações da cidade de Siem Reap. Aliás, exatamente por causa dessa rica herança de seis séculos que a renomada revista Forbes elegeu Siem Reap como um dos 23 lugares para se visitar em 2023. Considerando que a melhor época para viajar para a Indochina começa em novembro, quando as monções dão uma trégua, ainda dá tempo para seguir o conselho da Forbes e embarcar em uma viagem para o Camboja, um país que proporciona experiências arrebatadoras aos seus visitantes.
Anúncio AdsTemplos que valem um patrimônio
Assim como em outros países asiáticos, o Camboja é majoritariamente budista, contando com inúmeros templos por todo o país. Mas é nos arredores da cidade de Siem Reap que fica o maior e mais importante complexo de templos budistas do Camboja, o Angkor. A antiga capital do Império Khmer teve o seu momento mais próspero entre os séculos IX e XV, começando quando o reino do Khmer foi instituído pelo rei Jayavarman II, que declarou a sua independência de Java, iniciando um período próspero para o povo de Angkor que durou até o declínio do reinado no início do século XV. Seis séculos depois, podemos ter uma ideia do que o Império Khmer representou em seu período percorrendo as ruínas da cidade antiga de Angkor.
A imponência das construções em meio a um cenário natural de tirar o fôlego com florestas, lagos, colinas e arrozais dão uma ideia do que representara no passado, quando Angkor se destacava como uma das maiores e mais modernas cidades de sua época. Somando mais de mil, os magníficos templos de Angkor foram declarados Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1992, sendo que muitos desses templos foram restaurados recentemente.
Dentre os muitos templos de Angkor construídos durante o Império Khmer, o principal deles é o Angkor Wat, cuja imagem se tornou o símbolo não apenas da região, mas de todo o Camboja. O Angkor Wat foi construído no reinado de Suryavarman II, entre os anos de 1113 e 1150, quando a religião do império era o hinduísmo. Assim, as paredes do templo retratam as leis do universo do hinduísmo, com representações do Monte Meru, a montanha sagrada considerada o lar dos deuses. Porém, no decorrer dos séculos seguintes a religião do Império Khmer se alternou entre o hinduísmo e o budismo e o templo foi sofrendo alterações entre uma e outra crença, resultando em um templo que contempla traços característicos de ambas as religiões. Mas, embora os templos do Império Khmer fossem construídos para a morada dos deuses, uma das grandes particularidades do Angkor Wat é que lhe foi prevista também a função de mausoléu para o rei Suryavarman II. Além disso, o Angkor Wat também acabou se tornando o centro político do Império Khmer, ao abrigar o palácio real.
Dada a sua grande importância histórica e arquitetônica, o complexo de templos de Angkor Wat foi o responsável por ter colocado o Camboja no mapa do turismo internacional, sendo esse o templo mais bem conservado de todo o complexo de Angkor, apesar de seus quase nove séculos de existência. A imponência do templo com seu principal recinto medindo 65 metros de altura o faz se destacar em meio à paisagem local, principalmente quando o tempo permite que seu reflexo seja visto na água do lago que o rodeia. O Angkor Wat é o mais perfeito exemplar da arquitetura Khmer, que privilegiava a concepção arquitetônica externa, já que poucos tinham acesso ao interior do templo. Para a arquitetura Khmer a forma do quadrado era sinônimo de perfeição, por isso a forma do complexo de templos é quadrada com o prasat central (templo construído em forma piramidal) representando o Monte Meru, enquanto os outros prasats de alturas inferiores representam as montanhas que rodeiam a morada dos deuses. A escadaria íngreme para subir ao recinto central representa no hinduísmo o percurso para a ascensão ao Monte Meru, enquanto o lago do perímetro é a representação dos oceanos. Com todas essas representações religiosas e a riqueza de detalhes com que foi concebido, o Angkor Wat é um dos templos mais extraordinários do mundo, unindo representações das duas principais religiões da Ásia a uma arquitetura singular. Nada se compara à experiência de vê-lo de perto, pois apenas assim é possível admirar e entender os detalhes de sua concepção, seja no aspecto arquitetônico, seja no aspecto decorativo, com suas diversas inscrições e desenhos em baixo-relevo.
A grandiosidade de Angkor Wat é incontestável, mas a ampla área da cidade antiga, cuja extensão exata ainda não foi identificada, guarda outros tesouros do período em que a Indochina era dominada pelo Império Khmer, formando um dos conjuntos arquitetônicos mais impressionantes do mundo. Dentre as preciosidades do lugar, o Angkor Thom também merece um destaque especial, pois foi a última capital de Khmer, construída sobre as ruínas de Yasodharapura, a capital anterior destruída pelas forças dos chams. Construída a pedido de Jayavarman VII entre os séculos XIII e XIV, quando o Império Khmer alcançou o seu apogeu ao abranger outros países da região como Vietnã, Laos, Tailândia, Malásia e Indonésia, Angkor Thom funcionava como centro geográfico e espiritual do Khmer, cujo maior símbolo era o templo Bayon, com diversas cenas históricas e mitológicas esculpidas em baixo-relevo. Nas torres que circundam o pico central do templo foram esculpidos rostos sorridentes, que podem ser vistos ainda hoje, transmitindo uma serenidade que acaba por envolver os seus visitantes. Como responsável pela introdução do budismo em seu reino, até então orientado pelo hinduísmo, o rei Jayaverman VII construiu os maiores templos de Angor Thom ao transformá-la em capital do Império Khmer. Além do Bayon, outros templos que valem uma visita mais atenta são o Preah Khan, o Ta Prohm, o Chau Say Tevoda, o Banteay Srei e o Ta Keo.
A visita ao complexo de Angkor é uma das experiências mais marcantes que um viajante pode ter ao visitar o Camboja. Independentemente de sua religião ou de seu nível de compreensão do hinduísmo e do budismo, é impossível não sentir a sensação de paz que os templos proporcionam, mesmo quando estão lotados de visitantes.
Siem Reap além de Angkor
Embora a cidade de Siem Reap tenha se tornado famosa por abrigar o complexo de templos de Angkor, seria um erro visitá-la sem dedicar algum tempo para conhecer as outras atrações que a principal cidade turística do Camboja tem a oferecer. Com o crescimento do turismo estrangeiro a partir dos anos 2000, a cidade foi se desenvolvendo cada vez mais para atender a esse público, vindo a se tornar uma cidade vibrante, com muitas opções de hotéis e restaurantes para diferentes gostos – e bolsos. Para se ter uma ideia melhor da cultura cambojana, vale a pena dedicar um tempo para percorrer as ruas de Siem Reap e o tuk-tuk é o melhor meio de transporte para um passeio, onde se verá lugares típicos em meio a uma infinidade de pizzarias, mas mesmo se bater aquela vontade de pizza, melhor resistir para não se decepcionar. Para uma experiência mais autêntica, o Old Market é uma boa escolha para provar a comida da região. Como grande produtor de arroz, os cambojanos têm uma infinidade de pratos elaborados com arroz, como o Lort Cha ou o Nom Banh Chok, algumas das comidinhas de rua mais populares do Camboja. À noite, vale a pena circular pela Pub Street e pelo Angkor Night Market onde os rostos ocidentais já costumam ser maioria. Outro lugar bacana para circular e fazer umas comprinhas é o Siem Reap Art Center Night Market, onde se pode encontrar produtos artesanais e seda. Lá também ocorrem apresentações diárias de espetáculos da dança Apsara, uma dança típica do país realizada por mulheres com movimentos leves e harmoniosos feitos para enfeitiçar os homens, já que as apsaras representam os espíritos divinos femininos.
Para quem quiser chegar a Angkor mais preparado sobre a história do Império Khmer e dos templos, uma dica é antes visitar o Museu Nacional de Angkor. O museu conta com 8 galerias e a visita começa com um vídeo explicativo sobre Angkor. As galerias são dispostas de forma cronológica, contando a história do Império Khmer desde a sua origem até o seu fim, no século XV. Um dos pontos altos do museu é a grande galeria onde estão expostos mil estátuas de Buda. Outro museu interessante que fica nos arredores de Siem Reap é o Landmine Museum, que alerta o público sobre o problema de minas terrestres não detonadas no Camboja. Através de uma visita guiada se pode conhecer em detalhes o problema que o país enfrenta por causa dos milhões de bombas que ainda estão no país e que foram responsáveis pela morte ou mutilação de milhares de pessoas, além de ver exemplares de minas terrestres. Nessa mesma pegada, o Museu da Guerra conta a história da longa e triste guerra que assolou o país, considerada uma das guerras civis mais sangrentas da história. Diversos artefatos de guerra fazem parte do acervo do museu e através de uma visita guiada é possível compreender melhor esse marcante período da história do Camboja. Embora o tema seja um tanto pesado e triste, as visitas a ambos os museus são interessantes para quem gosta de compreender com maior profundidade o país visitado, pois dão uma visão melhor do que foi o Camboja e seus esforços para deixar tudo isso no passado e continuar seguindo para um futuro de paz. Os sorrisos sempre estampados nos rostos dos cambojanos são o retrato desse desejo de seguir em direção à uma vida de paz e alegria.
Bem-vindo ao paraíso!
É indiscutível que o grande chamariz do Camboja para o turismo internacional sejam os incríveis templos de Angkor, mas as belezas do país não se encerram em Siem Reap. Para quem se dispuser a explorar um pouco mais esse país fascinante do sudeste asiático, descobrirá um verdadeiro paraíso de mar esmeralda e praias de areia clara e macia. No sul do país, de frente para o Golfo da Tailândia, fica a Província de Sihanoukville, a cerca de 1 hora de voo a partir de Siem Reap. A cidade conta com praias tão lindas quanto as tailandesas, mas bem menos muvucadas – pelo menos enquanto não se tornam famosas no mundo. A beleza natural da região tem despertado o interesse de investidores e já vemos alguns resorts de luxo construídos para atrair viajantes que não abrem mão de conforto em suas viagens. Provavelmente, em alguns anos Sihanoukville e suas ilhas serão um destino tão famoso e disputado quanto Puket na vizinha Tailândia.
As praias mais incríveis de Sihanoukville são Serendipity, Otres e Independence. Por causa de suas belezas naturais, essas praias também são as mais populares da região, sendo que a Independence Beach foi a escolhida para receber os hotéis de luxo que começam a se instalar na região. Entre as praias de Independence e Serendipity fica a Fonte do Dragão, um dos maiores monumentos de Sihanoukville, cuja iluminação noturna cria um efeito instagramavel incrível. Um pouco mais ao norte, próxima a Hawaii Beach, fica a ponte que liga o continente à pequena ilha de Koh Puos, que abriga a Floresta Nacional, uma ampla área verde de conservação ambiental. Vale a pena dedicar um dia para visitar a ilha e se deleitar na belíssima Thik Beach, uma praia praticamente intocada onde a natureza é a grande protagonista.
Mas das ilhas da costa do Camboja, a mais incrível e a Koh Rong Samloem, acessível por balsas ou lanchas privadas que partem do Porto de Sihanoukville, localizado próximo a Serendipity Beach. Embora a ilha possa ser visitada em um bate-volte a partir de Sihanoukville, vale a pena se hospedar por lá para aproveitar a beleza estonteante do lugar. A Saracen Bay Beach é o ponto de chegada dos visitantes da ilha e, com o desenvolvimento turístico da região, também é o local onde estão concentrados os resorts à beira da praia. Para uma experiência mais reservada, a Lazy Beach, localizada no outro lado da ilha, é perfeita. Com apenas um restaurante, essa praia é ideal para passar algumas horas de puro relaxamento em meio a um dos cenários mais deslumbrantes do Camboja e – literalmente – esquecer da vida.