Alemanha
Uma viagem de conto de fadas pelas estradas e castelos da Rota Romântica

A estrada estava vazia e como companhia a bela paisagem invernal da Bavária. Olhando para os campos cobertos de neve fofa e os pinheiros cobertos por flocos de neve, no melhor cenário natalino, tive a certeza de que a época mais bonita para explorar essa região é mesmo o inverno. Embora eu não precisasse ter escolhido justamente o inverno mais rigoroso dos últimos 100 anos na Europa! A temperatura externa marcava 15 graus negativos. Agradeci, emocionada, o desconhecido que inventou o climatizador de temperatura de carros, bendito seja! A cada quilômetro rodado entendia por que chamam aquele trecho da Bavária de Rota Romântica. Os campos repletos de pinheiros (ainda mais belos com neve), os castelos ao longo do percurso, as cidadezinhas medievais, tudo parece fazer parte de um conto de fadas. De repente, um barulho estranho me fez retornar ao mundo real. Ainda me perguntando o que seria aquilo, vi o para-brisa rachando de um extremo ao outro. Com um pequeno atraso na minha programação – e a descoberta de que nem o para-brisa resistiu ao frio intenso, além dos 500 euros de prejuízo – segui viagem até a cidade de Schwangau.

Como acontece com todos os visitantes, assim que cheguei à pequena cidade de Schwangau fiquei impressionada ao ver no topo da colina o Castelo de Neuschwanstein. Sim, estou falando do castelo mais famoso da Alemanha, aquele que teria inspirado Walt Disney a projetar o Castelo da Cinderela. É verdade também que a opulência de Neuschwanstein ofusca o outro belo castelo da cidade, o Hohenschwangau, antiga residência oficial dos reis da Bavária. Visitando Hohenschwangau se conhece um pouco mais sobre a história de Ludovico II, rei da Bavária entre 1864 e 1886. Apaixonado por arte e arquitetura, Ludovico II dedicou anos de sua vida ao projeto de construção de Neuschwanstein, mas como nunca se satisfazia com a obra do castelo, efetuava constantes alterações em seu projeto e, consequentemente, jamais chegou a ver a conclusão de Neuschwanstein. Como a outra paixão de Ludovico II era a música, foi o grande mecenas do compositor Richard Wagner. Apesar de as obras de Wagner serem de um valor incontestável, tudo leva a crer que o interesse do rei da Bavária pelo compositor teria ido muito além do seu apreço artístico. Solteiro convicto, a descoberta de seus diários levam a crer que Ludovico II suprimira sua homossexualidade por toda a vida e, considerando que tudo em seus palácios faziam referência a Wagner, especula-se que o rei da Bavária nutrira um amor platônico pelo grande compositor alemão. Fofocas à parte, o castelo de Hohenschwangau, construído em estilo neogótico sobre fundações medievais, conta com um grande cisne no alto e é um espetáculo arquitetônico em meio à floresta bavára. O seu interior mantém muitos móveis e objetos da época de Ludovico II e de seu pai, Maximiliano II, dando uma ideia mais precisa de como era a vida dos reis da Bavária.

Depois da visita pelo Hohenschwangau era chegada a hora de subir a colina para visitar o Neuschwanstein. A subida a pé dura cerca de meia hora, só que optei por encarar a fila para subir com a carruagem que faz o percurso de um castelo ao outro, mais para dar um ar de conto de fadas a minha visita do que por preguiça. Roubada total! Não contava com a malandragem dos demais visitantes que furavam a fila de forma deslavada, o que me custou uma espera de 2 horas e os pés congelados por causa do frio. Para completar a minha decepção, a carruagem não tem nenhum charme e está a anos-luz de distância daquela da Cinderela! No retorno não pensei duas vezes e desci a pé, parando aqui e ali para mais uma fotinha…

Após me refazer da experiência congelante com muito chocolate quente, comecei a me concentrar na beleza estonteante do castelo de Neuschwanstein. A vista do castelo é estupenda, sobretudo no inverno, quando se pode ver os pinheiros do bosque cobertos de neve e o lago congelado. Lá de cima, o castelo de Hohenschwangau parece pequenininho em meio ao bosque e montanhas da região! Embora o rei Ludovico II nunca tenha vivido em Neuschwanstein, o castelo foi ricamente decorado com afrescos e mobílias do século XIX. Merecem destaque a dourada Sala do Trono e a Sala de Canto, que foi construída especialmente para o compositor Richard Wagner – de novo ele – com uma acústica excepcional. A maquete do castelo dá uma ideia bastante precisa de sua grandiosidade. Louco ou não, Ludovico II continua fazendo a alegria dos milhares de turistas que visitam a sua “obra-prima” todos os anos.

Uma vez vista uma das maiores atrações turísticas da Alemanha, segui pela Rota Romântica em direção ao norte. A parada seguinte foi na pequena Neuburg an der Donau, localizada no alto de um promontório voltada para o rio Danúbio. A grande atração da cidade é o Scholossmuseum Neuburg, construído entre 1534 e 1665 por Ottheinrich, o Magnânimo. Mesmo após a construção da parte nova da cidade, as torres redondas do castelo ainda dominam o cenário local. No interior do castelo, o grande destaque é o pátio cercado por arcadas e decorado por estátuas, além dos belos afrescos pintados por Hans Schroer. Ali também funciona um museu com objetos militares, quadros e objetos da família que governou a cidade em seu período mais próspero. Já a capela do castelo, construída em 1543, foi a primeira capela protestante da Alemanha. A 35 km de Neuburg fica a charmosa cidade de Donauworth, conhecida como a Pérola do Danúbio. A pequena Donauworth foi o palco do violento confronto entre luteranos e católicos que culminou com a Guerra dos Trinta Anos. Hoje a cidade convida os seus visitantes a um passeio tranquilo pela Reichstrasse, a principal rua do seu centro histórico, cujo destaque é a beleza colorida de seu casario.

Um pouco mais ao norte, parei na charmosa cidadezinha de Nördlingen. A cidade foi construída no século XVII no meio da bacia de Ries, uma enorme cratera originada há milhões de anos por causa do impacto de um meteoro. Olhando a cidade do alto é possível ver a sua forma arredondada. Nördlingen teve muita importância durante a Idade Média, pois foi uma das cidades que se manteve livre do Sacro Império Romano, tonando-se um importante centro de comércio. Cercada por murulhas medievais e com 14 torres, Nördlingen é uma das cidades mais bem conservadas e bonitas da Rota Romântica. A melhor forma de visitar a cidade é percorrendo as suas murulhas, com parada obrigatória para subir na Torre Daniel (campanário) de 90 metros de altura – a mais alta de todas –, a qual proporciona uma vista lindíssima da cidadela e de seus arredores. Para os interessados em saber mais sobre a história dessa pequena notável da Bavária, vale a pena fazer uma visitinha no Stadtmuseum, que conta a história da cidade, desde a sua fundação, até a sua importante participação na Guerra dos 30 Anos. Não pude deixar a cidade sem antes parar em uma de suas cervejarias para me sentir como uma autêntica bavára, cercada de canecas de cerveja, salsicha e batata!

Seguindo viagem, era chegada a hora de superar um importante desafio: percorrer toda a cidade de Dinkelsbühl a pé! Logo que passei pela Torre Wörnitzer, na entrada da cidade medieval, tratei logo de registrar a minha conquista com uma fotinha. Dali segui com o meu objetivo em mente rumo às torres de Nördlinger, Seringer e, finalmente, Rothenburger Tor. Assim, 30 minutos após a minha chegada à cidade, completei todo o percurso de Dinkelsbühl. Desafio cumprido em 1/8 do tempo previsto! Sim, Dinkelsbühl é pequenininha, mas não por isso deixa de ser um dos grandes atrativos da Rota Romântica da Bavária. Aproveitei o tempo extra para visitar o belo interior da Catedral de São Jorge, apreciar a arquitetura das casas coloridas com madeirame à vista e brincar na neve fofa que encontrava no meio do caminho. Depois de tantas calorias gastas, tratei de recuperá-las com uma deliciosa torta e chocolate bem quentinho. Afinal, o frio era a desculpa perfeita para consumir muitas e muitas calorias!

Me aproximando do fim do itinerário, cheguei a Rothenburg ob der Tauber. A minha relação com Rothenburg OBT é o que se pode chamar de “amor à primeira vista”. Me apaixonei pela cidadezinha com ar medieval assim que cheguei em seu portão de entrada. As murulhas medievais que outrora delimitavam a cidade, hoje delimita o seu centro histórico muito bem preservado. A melhor forma para se apreciar as belezas de Rothenburg ODT é percorrer os muros que a circulam parando nas torres para apreciar a paisagem. Parti do Galgentor, o portão principal da cidade, que na Idade Média era o ponto de execução de condenados. Não sei se por causa desse fato histórico ou por causa da minha maldita vertigem – ou ambas as coisas –, tive uma grande dificuldade para superar o meu medo e subir a escadinha que conduzia à passarela das muralhas. Uma vez lá, fui me encantando mais e mais a cada passo, a cada parada. O charme de Rothenburg OBT é ir-re-sis-tí-vel!!! Com o cair da noite (ainda durante a tarde), as casinhas francônicas cobertas de neve iam ficando ainda mais belas, como em um verdadeiro conto de fadas. Valeu a pena ter encarado o medo inicial! Depois de apreciar a cidadezinha por cima, era hora de descer e vivenciá-la por baixo. As ruas da cidade, ainda com os enfeites natalinos e cobertas de neve, são de uma beleza impressionante. O meu único desprazer foi ter que me despedir dessa joia bavára…

A minha última etapa na Rota Romântica foi em Würzburg, a maior cidade do itinerário. Olhando para a cidade hoje, não se imagina que Würzburg foi quase totalmente devastada por uma série de bombardeios durante a II Guerra Mundial. Esse fato é lembrado no museu que funciona atualmente no interior da Residenz, antiga residência oficial do Príncipe-Bispo de Würzburg e Patrimônio Cultural da UNESCO. O interior do palácio, com sua escadaria imponente e afrescos do veneziano Giovanni Battista Tiepolo, é um espetáculo à parte. A beleza de Würzburg continua a encantar durante o passeio pelo seu centro histórico, com parada obrigatória na Alte Mainbrücke, a bela ponte que liga as duas margens do rio Main. A travessia da ponte mais antiga de Würzburg pode – e deve- ser lenta, pois além das belas esculturas sobre a ponte, temos uma vista excelente da Festung Marienberg, antiga fortaleza situada no ponto mais alto da cidade. A subida até a Marienberg não é das mais fáceis, mas todo o cansaço é compensado quando se vê Würzburg do alto da imponente fortaleza. Que vista!!! Além de ser um excepcional mirante, a Marienberg conta com um museu cujo acervo retrata 1.200 anos de história da cidade.

Do alto da Marienberg, aprecio novamente as torres da igreja St. Killian, a Mainbrücke, o rio Main e  um pouco de neve aqui e acolá, chegara a hora de me despedir de Würzburg e da Bavária. Depois de 5 dias intensos e inesquecíveis em meio às lindíssimas paisagens da Rota Romântica, deixei Würzburg totalmente apaixonada pela bela e romântica Bavária.