Sint Maarten / Saint-Martin
Conheça o pedacinho da Europa no qual é verão o ano inteiro e, de quebra, ainda tem carnaval fora de época

Não compartilho com a máxima de que “no Brasil o ano só começa depois do carnaval”. Mas não se pode negar que os quentes meses de janeiro e fevereiro nos proporcionam aquele maravilhoso clima de festa e diversão, embalado pelo período de férias que se encerra com o feriadão de carnaval, quando toda aquela magia do verão vem tristemente interrompida pelas águas de março. Difícil não sentir aquela sensação de quero mais ao voltar para a rotina. Porém, esse período não precisa ser doloroso. Adaptando a boa e velha receita para os corações partidos, costumo dizer que só se cura a dor do fim de uma viagem, planejando a próxima viagem.

Mas se o início do outono no Brasil e as ainda baixas temperaturas na Europa não entusiasmam os mais reticentes, sugiro abrir a mente e ampliar o mapa europeu, pois tem uma parte da Europa na qual é verão o ano inteiro! Entre o Oceano Atlântico e o Mar do Caribe está uma ilhota europeia que compensa em beleza o que não tem de tamanho. Sint Maarten, colonizada pela Holanda, e Saint Martin, colonizada pela França, são dois pequenos paraísos caribenhos. E esta época do ano é a melhor para desfrutar de todos os encantos desses paraísos, com um clima excelente, fora do período de risco de furacões (quem se lembra do terrível furacão Irma?), hotéis e restaurantes menos lotados e preços mais amigáveis. Bora que é hora de conhecer a Europa caribenha!

Saint Martin ou Sint Maarten?

Afinal, que ilha é essa?

Nenhuma ilha do Caribe desperta tanta confusão com o seu nome do que a Ilha de São Martinho, aqui traduzida para o português para facilitar a nossa vida. Afinal, a ilha se chama St. Martin ou St. Maarten? Depende de qual parte da ilha você está pisando. Na verdade, a Ilha de São Martinho teve seu território dividido entre franceses e holandeses, portanto, a parte norte da ilha ficou sob o domínio da França (St. Martin), enquanto a parte sul ficou sob o domínio dos holandeses (St. Maarten). Ocupada por holandeses e franceses desde o início do século XVII, a ilha foi oficialmente dividida entre ambas as nações em 23 de março de 1648, através do Tratado de Partilha, assim permanecendo até a atualidade.

Localizada nas Antilhas, a ilha foi descoberta em 1493 por Cristóvão Colombo, que ali chegou no dia de São Martinho de Tours (11 de novembro), daí a origem de seu nome. Com uma área de apenas 87 quilômetros quadrados, São Martinho é uma das menores ilhas do Caribe. Mas a dimensão diminuta da ilha acaba sendo um ponto alto do local para os seus visitantes, que podem conhecer suas praias paradisíacas em poucos dias. Embora a maior porção territorial da ilha esteja na parte francesa, a principal porta de entrada para visitantes estrangeiros é o Aeroporto Princess Juliana, localizado no território holandês, próximo à capital Philipsburg. Recebendo voos da Europa e dos Estados Unidos, principalmente, o acesso à ilha do Brasil é sempre via conexão, sendo a rota via Panamá a mais prática, pois não fazendo conexão nos Estados Unidos, os brasileiros não precisam ter visto norte-americano. A ilha também está na rota de diversas companhias de cruzeiros pelo Caribe, mas normalmente as paradas em St. Martin / St. Maarten são muito breves.

Para conhecer bem a ilha que vale por duas, o ideal é passar pelo menos uma semana no local, dedicando um tempo para visitar a beleza mais descontraída de St. Maarten e respirar o ar très chic de St. Martin. Entre um e outro, ainda temos a cultura creole com suas músicas, danças e culinária de lamber os beiços. E para quem não dispensa umas comprinhas durante as viagens, toda a ilha – lado holandês e lado francês – é duty free.

Sint Maarten

O lugar onde a Holanda é mais quente

Sint Maarten conta com um território de apenas 34 quilômetros quadrados, mas não vão faltar atrativos para visitar o local onde a Holanda é mais quente – e animada. Deixando a imagem de moinhos e tulipas para uma outra viagem, mergulhamos no verde esmeralda do mar de Sint Maarten.

Um jeito bacana de conhecer melhor a cultura local é percorrendo as ruas de Philipsburg, a pequena capital de Sint Maarten. A primeira experiência interessante será entender as muitas línguas faladas na cidade, o que nos faz sentir em uma torre de babel. Embora os idiomas oficiais sejam o holandês e o inglês, outras línguas são muito faladas na cidade, como o francês, o espanhol e, para nossa comodidade, até o português. Muitos locais deixam o holandês de lado e ente si mantêm as suas línguas crioulas, como o papiamento, muito usada nas ilhas holandesas do Caribe, e o sranan tongo, a língua original do Suriname. Mesmo se sentindo em uma torre de babel, no final todos se entendem, já que a receptividade do povo de St. Maarten é um de seus pontos altos.

A capital da parte sul da ilha foi fundada em 1763 por John Philips, daí a origem de seu nome “a cidade de Philips”. A arquitetura local parece ser parte do set de filmagem de um filme, com seus traços arquitetônicos característicos e o colorido que contrasta com o verde das palmeiras. A cidade é um ótimo ponto de partida para percorrer a parte holandesa da ilha, pois fica às margens da agitada Great Bay, onde se concentra um grande número de hotéis e restaurantes. É também entre a Great Bay e a Little Bay que fica o Fort Amsterdam, um dos principais cartões-postais de St. Maarten. O forte foi construído em 1631 pelos holandeses para defender o território dos espanhóis, restando ainda parte da muralha, alguns baluartes e casas originais da época de sua construção. De lá se tem uma vista maravilhosa da região, avistando o Porto de Philipsburg, além de um ótimo ângulo para apreciar as baías que o circundam. O forte também atrai visitantes interessados em avistar o pelicano marrom, o pássaro típico da ilha, que costuma se alimentar na área oeste do forte.

Dentre as praias de Sint Maarten, a Maho Beach é, sem dúvida, a mais famosa de todas. A grande particularidade dessa praia é estar na rota dos aviões, pois fica ao lado do aeroporto internacional da ilha. Embora o barulho seja intenso, muitas pessoas vibram com a sensação de tomar sol olhando para os aviões que vão e vem durante todo o tempo. Mesmo fora da areia a agitação em Maho Beach continua, já que a região conta com ótimos resorts, restaurantes e cassinos. Independentemente de ser adepto(a) da jogatina, vale a pena dedicar uma noite para conhecer o Casino Royale, o mais tradicional de Sint Maarten. O cassino conta com o maior teatro da ilha, no qual todas as noites rola algum espetáculo, de shows de música a Stand Up com comediantes de Las Vegas. Detalhe: os shows são gratuitos.

A cerca de 1 quilômetro da singular Maho Beach fica outro megapoint de Sint Maarten, a Simpson Bay. Com uma faixa de areia bem mais longa e diversas opções de bares, restaurantes, boates e cassinos em seu entorno, a Simpson Bay tem o título de faixa de areia mais badalada do lado holandês da ilha. Mas, se a ideia for deixar a agitação de lado e se deleitar com a beleza natural do Caribe, vale a pena pegar o carro e ir até Cupecoy Beach, quase na fronteira com o lado francês. A pequena faixa de areia de Cupecoy ganha um charme todo especial por causa das falésias à beira-mar. Outra dica para quem procura sossego na ilha é dar uma paradinha na Mullet Bay, que tem águas tão calminhas que mais parecem a de uma piscina natural, sendo perfeita para simplesmente ver a vida passar.

E para os foliões já saudosos dos dias intensos de carnaval, aí vai uma dica valiosa: Em Sint Maarten tem festa de carnaval em abril! Nem de longe o carnaval da ilha pode ser comparado ao brasileiro, mas garante uma boa dose de folia. Neste ano, o carnaval de Sint Maarten começa em 14 de abril e se estende até 03 de maio. Com um sugestivo convite para “experimentar a vida”, os organizadores do carnaval de St. Maarten preveem quase três semanas de festas, com diversos eventos na ilha. O ponto central do carnaval é a capital, Philipsburg, que sediará uma série de eventos como concursos, o Dia de Diversão das Famílias, shows e, sim, também haverá alguns desfiles pelas ruas de Philipsburg. Não espere grandes carros alegóricos e fantasias impressionantes, mas pode aguardar por muita animação e muito suingue, no melhor estilo caribenho.

Seja para curtir um carnaval fora de época, tentar a sorte em seus cassinos ou simplesmente relaxar em praias paradisíacas, St. Maarten é um excelente destino para estender a estação mais animada do ano quando as águas de março insistem em nos lembrar o fim do verão brasileiro.

Saint-Martin

Saint Martin, a parte francesa da ilha, está localizada na região norte e ocupa uma área de 53 quilômetros quadrados. Minúscula para os padrões brasileiros, mas bem maior do que a parte holandesa, Saint Martin acabou sendo o nome de referência da ilha, provavelmente pelo charme da língua francesa em confronto à dureza da língua holandesa. Mas assim como ocorre no sul, a miscelânia de línguas também impera no norte, com destaque para as línguas crioulas.

Uma grande diferença entre as duas partes da ilha é o fato de que o território de Saint Martin é repleto de montanhas, sendo também um paraíso para os amantes de trekking. Logo de cara, próximo à capital Marigot, fica o Marigot Hill, com 307 metros de altura. Mas é entrando para o centro da ilha que se pode ver as montanhas mais altas de St. Martin, como a Montagne France e o Mont Caréta, ambas com 401 metros de altura. Porém, o pico mais alto e famoso de toda a ilha é o Pic Paradis, cuja altura chega a 424 metros. Para quem estiver dispostos a trocar o chinelo pelo tênis, vale muito a pena encarar a caminhada – e uma subida íngreme – para chegar ao pico do paraíso de St. Martin, de onde se tem uma vista panorâmica simplesmente espetacular da ilha, sobretudo da Happy Bay, com o seu mar azul realçando a paisagem. Do alto da montanha também se tem uma vista privilegiada do Fort Louis e de Sint Maarten.

De volta às terras baixas francesas, as belas praias de St. Martin agradam a todos os públicos. Se a ideia é relaxar, a melhor pedida é a charmosa Long Bay, na parte oeste da ilha. Em meio a casas e resorts de luxo, a longa faixa de areia dessa praia atrai um público sofisticado em busca de tranquilidade para um autêntico savoir vivre. Outra ótima praia para quem busca sossego é a pouco conhecida Anse Marcel, localizada na ponta norte da ilha. Já para quem quer mesmo é ver e ser visto, as praias de Orient Bay e de Grand Case são imperdíveis. Essas duas regiões são os maiores points do lado francês da ilha, com diversas opções de bares, restaurantes e boates, especialmente na extensa orla da Orient Beach. Diversamente da parte holandesa, não existem cassinos em St. Martin, mas nem por isso falta animação nessas áreas, que compensam muito bem com locais animados e sofisticados.

E como não tem visita ao paraíso sem um pôr de sol de arrasar, a visita à tarde ao Fort Louis é programa obrigatório. O Forte construído na capital Marigot no século XVIII, com o intuito de defender os armazéns do porto de saques dos piratas ingleses, também serviu de defesa para a cidade de ataques inimigos. Graças ao seu fácil acesso, o Fort Louis se tornou um dos principais pontos turísticos de Marigot, especialmente nos fins de tarde, quando muitos visitantes são atraídos para assistir ao mais belo pôr do sol de St. Martin.

Arredores de St. Martin

Com a dimensão relativamente pequena da ilha de St. Maarten / St. Martin, vale a pena dedicar um ou dois dias para visitar as ilhas dos arredores. Partindo de Baía de Cul-de-Sac, no lado francês, em poucos minutos de ferry se chega a Ilet Pinel, uma pequena ilha de águas calmas que nos convida para um delicioso dia de dolce far niente. Já para quem não consegue ficar muito tempo parada, Pinel também é perfeita, pois conta com trilhas de nível fácil para quem quiser explorar o interior da ilha, conhecendo a flora e a fauna local.

Já quem dispuser de um pouco mais de tempo, também dá para dar uma esticadinha até Anguilla, pois do Porto de Marigot saem as balsas que ligam Blowing Point na Anguilla com Marigot em St. Martin em cerca de meia hora, sendo possível fazer um bate-volta até a ilha britânica, famosa pelos seus resorts de luxo e por se um dos redutos de celebridades no Caribe. Embora Anguilla mereça muito mais do que um simples bate-volta, em um dia de visita dá para circular pela região de West End e ver o Anguilla Arch, o maior cartão-postal da ilha e, quem sabe, esbarrar com alguma celebridade no caminho.

E depois de dias descobrindo essa interessante ilha, dividida entre a Holanda e a França, onde é calor o ano inteiro, a comida creoula faz um interessante mix com a cozinha europeia e o povo é mais sorridente, elejo o Fort St-Louis para me despedir dessa ilha tropical de encantos mil. E lá do alto do antigo forte, à medida em que o sol vai se pondo no horizonte, sinto toda a leveza no coração que apenas os lugares especiais são capazes de nos proporcionar.