Costa Azul
Mergulho no azul do mar

Quando eu mergulhei no azul do mar
Sabia que era amor e vinha pra ficar
(…)
Foi assim, como ver o mar
Foi a primeira vez que eu vi o mar
Onda azul, todo azul do mar
Daria pra beber todo azul do mar
Foi quando mergulhei no azul do mar

Sobrevoando a região de Côte d’Azur e apreciando a imensidão e a beleza singular do seu mar do alto, comecei a cantarolar a música do Flávio Venturini e, assim, sem ter a intenção, me apaixonei. O nome da região sul da França, cercado pelas águas de diferentes tons de azul, não poderia ser mais apropriado. Uma vez em terra, a paixão ganhou ainda mais força. Cidades históricas, construções em tons pastel, belas avenidas à beira-mar e um toque especial do glamour francês compõem a poesia dessa romântica região francesa.

O melhor ponto de partida para descobrir os encantos da Costa Azul é a cidade de Nice, que conta com aeroporto e faz conexões com várias cidades europeias, além da capital Paris. Composta de pequenas e charmosas cidades, nessa viagem me ative ao trecho que vai de Nice até Saint-Tropez, com direito a uma escapadinha até o Principado de Mônaco, encravado entre as regiões da Costa Azul na França e da Ligúria na Itália.

A bela cidade de Nice é uma das maiores da França e carrega uma rica história. Foi fundada pelos gregos nos idos do século 350 a.C. e, mais adiante, foi um importante porto do Império Romano. Entre 1388 e 1860 foi parte do reino dos Savóia, até que ocorreu a unificação da Itália e Nice foi cedida à França. Embora francesa, Nice ainda guarda uma grande herança arquitetônica italiana, que pode ser vista pelas suas construções em tons pasteis, típicas da região italiana da Ligúria. O centro histórico da cidade perde em charme e beleza para a zona costeira, mas está tentando se reinventar com a atração de artistas e de novas lojas e restaurantes. Dentre as construções históricas, destaca-se a Catedral de Ste-Réparate, construída no século XVII em estilo barroco. A cúpula da igreja, toda decorada com azulejos coloridos, se destaca no cenário da cidade. O seu belo interior também merece uma visita. Outra atração imperdível do centro histórico é o Palácio Lascaris, a antiga residência da família de nobres Ventimiglia-Lascaris. O palácio foi construído em estilo barroco no século XVII por Jean-Baptista Lascaris, descendente dos condes de Ventimiglia. Desde 1970 funciona um museu no palácio dedicado a exposições temporárias, mas a rica decoração em madeira e tapeçaria flamenga foi preservada. Com um teto ilusionista e uma imponente escadaria central fica difícil manter a atenção em apenas uma parte do palácio. Também vale a pena perambular pela Cours Saleya, onde diariamente acontece um tradicional mercado de flores e, assim, se deixar envolver pelas cores e perfumes dessa cidade tão viva e empolgante.

Deixando o centro em direção ao mar, caí na famosa e movimentada Promenade des Anglais, a principal via de Nice. No século XIX, quando os nobres ingleses viajavam para passar o verão na Itália, Nice se tornou um ponto de parada para o descanso e, assim, os ingleses foram descobrindo os encantos dessa bela cidade e começaram a se instalarem por lá. Então, uma vez estabelecida, em 1830 a colônia inglesa construiu os 8 quilômetros da Promenade des Anglais. A avenida que era repleta de casarões e jardins da aristocracia inglesa, hoje abriga muitos hoteis, cassinos e restaurantes. Se eu tivesse que eleger apenas um programa para fazer em Nice, elegeria uma longa e lenta caminhada pelo calçadão da Promenade no fim da tarde para ver o sol se pôr no mar sentada em um de seus muitos banquinhos, um espetáculo que na natureza nos oferece durante quase todo o ano. Um dos mais belos casarões da época dos ingleses foi preservado e hoje abriga um museu. O Palais Masséna, com o seu estupendo jardim, é uma das joias arquitetônicas da Promenade do século XIX e merece uma visita. O acervo do museu conta a história da Riviera Francesa, do final do século XIX até a Belle Époque, através de móveis e objetos desse período. Os grandes destaques do museu, porém, são a máscara mortuária de Napoleão e as joias da imperatriz. Na Promenade também não faltam opções para curtir a noite de Nice. São inúmeras opções de bons restaurantes e bares, além de cassinos para quem gosta de se divertir com as roletas ou máquinas de caça-níqueis.

Com um clima excelente, de inverno ameno e sol que brilha quase todo o ano, Nice é uma daquelas cidades que pode ser visitada em qualquer época do ano. Mas, Nice fervilha mesmo durante os meses de verão e no mês de maio, quando recebe boa parte do fluxo de pessoas que vão assistir ou participar do GP de Fórmula 1 de Mônaco e do Festival de Cinema de Cannes, as duas vizinhas ilustres da cidade. Portanto, para quem gosta de agitação, o final de maio é o momento ideal para visitar Nice!

A poucos quilômetros de Nice fica outra joia da Riviera Francesa, Cannes. Internacionalmente conhecida como a cidade do famoso e disputado Festival de Cinema, Cannes é puro charme. Durante o festival, a chance de ver de perto uma estrela de Hollywood é grande, mas a disponibilidade em hoteis e restaurante são poucas e os preços vão para a estratosfera. Porém, é possível curtir a cidade em outros períodos menos disputados e igualmente maravilhosos. A melhor forma de começar o passeio pela cidade é com uma vagarosa caminhada pelo Boulevard de la Croisette, a principal avenida de Cannes. É lá que fica o Palais des Festivals, onde é realizada a cerimônia da Palma de Ouro, além de uma infinidade de hoteis, bares, restaurantes e boutiques de luxo. Com várias palmeiras e jardins ao longo de seus 2 quilômetros de extensão e mais o mar azul turquesa de um lado e os prédios da Belle Époque de outro, o passeio pelo charmosíssimo Boulevard de la Croisette é uma das maiores delícias de Cannes!

Deixando o burburinho do Boulevard de la Croisette, subi o morro – literalmente – para conhecer a parte histórica de Cannes, também chamada de Cidade Velha, que fica nas encostas do Monte Chevalier. O grande destaque do bairro Le Suquet (cidade velha) é o Museu de la Castre, situado no antigo castelo dos monges Lérins, governantes de Cannes entre os séculos X e XVI. O vasto acervo do museu compreende arte primitiva de diferentes localidades do mundo, instrumentos musicais e quadros de pintores da Provença, principalmente do século XIX. As peças de arte primitiva e antiga fazem parte dos achados do Barão Lychlama, um importante explorador do século XIX. No pátio interno fica a torre do antigo castelo, que fora fundamental para a defesa dos monges. Um atrativo a mais da Cidade Velha é a maravilhosa vista da cidade e do mediterrâneo que se tem de lá!

E já que estamos falando dos monges Lérins, que tal mergulhar mais nos monumentos históricos dessa época? A uma curta distância da costa de Cannes fica o pequeno arquipélago de Lérins, formado pelas ilhas Sainte-Margherite e Saint-Honorat, além das pequenas e desabitadas Tradelière e Ferreolo. A Ilha Sainte-Margherite é a maior delas e abriga o forte que foi construído para a defesa dos monges Lérins. Foi também nesse forte que o misterioso Homem da Máscara de Ferro ficara preso por mais de 10 anos, até a sua morte. A sua cela está aberta à visitação pública. Durante séculos foram desenvolvidas diversas teorias sobre a identidade desse misterioso prisioneiro, dentre as quais a de que se tratava de um irmão gêmeo ou a de um irmão ilegítimo do rei Luís XIV, que o trancafiara para evitar contestação ao trono. Mas, de fato, a identidade do enigmático prisioneiro permanece desconhecida até hoje, já tendo inspirado livros e filmes. Já na Ilha de Saint-Honorat o grande destaque é o complexo da Abadia de Lérins, que compreende um monastério e a uma grande torre. No século XI, após um terrível massacre, os monges reconstruíram o monastério e a torre fortificada que servia de refúgio durante os constantes ataques sofridos pelos monges. A antiga destilaria do monastério foi reativada e, atualmente, se produz no local renomados licores e vinhos. Vale muito a pena fazer a visita aos vinhedos – que é bem curtinha – com uma degustação no final. E, para de se despedir da ilha em grande estilo, nada melhor do que um delicioso almoço no restaurante da abadia para saborear os pratos e vinhos locais, além da divina vista do mediterrâneo que arrebata corações.

Não poderia deixar a Riviera Francesa sem visitar o pequeno e charmoso balneário de Saint-Tropez. Nas décadas de 1950/1960, quando Brigitte Bardot e Roger Vadim, seu marido, começaram a frequentar o balneário, o que era uma antiga vila de pescadores se transformou em um dos balneários mais famosos e exclusivos da Europa, atraindo o jet set internacional. Hoje, em seu pequeno porto, pequenos barcos de pesca disputam espaço com iates de luxo. Para quem gosta de curtir a noite, St-Tropez não decepciona com suas muitas e animadas casas noturnas. É fácil de entender o encantamento do casal cool dos anos 1960 Bardot-Vadim quando vemos as praias de St-Tropez, principalmente a Pampelonne e a Tahiti, as mais bonitas do balneário. Se durante a Segunda Guerra Mundial as suas praias serviram como importantes pontos de desembarque dos Aliados, atualmente, as suas areias claras e o mar azul turquesa são utilizados para o acolhimento e relaxamento de visitantes de todas as partes do mundo. Entregar-se ao “savoir vivre” francês é a regra em St-Tropez!

Mas, para aqueles que como eu também curte conhecer monumentos históricos, St-Tropez nos presenteia com a sua cidadela. Localizada no alto de uma colina, a Cidadela remonta ao ano de 1602, quando foram construídas a fortaleza e a grandiosa torre de defesa para proteger a cidade dos ataques dos espanhóis. Atualmente, a fortaleza abriga um museu dedicado a contar a história dos marinheiros da cidade, a partir do século XVIII, quando St-Tropez ocupava o lugar de terceiro maior porto da França. Depois de apreciar a coleção do museu e a arquitetura da fortaleza, chegara o momento de se embasbacar com a vista estupenda que se tem da cidade do alto da colina. Brigitte Bardot realmente sabia viver!

Mônaco – Um pequeno grande Estado

Embora seja um dos menores Estados independentes do mundo, o Principado de Mônaco é um dos maiores paraísos da Europa. Fundado em 1297 pela família Grimaldi, o pequeno principado, localizado entre a Riviera Ligure e a Riviera Francesa, conquistou o mundo com os incentivos tributários para atrair os milionários. Com uma localização privilegiada e um clima agradável todo o ano, atrai visitantes de todas as partes do mundo. Mas é durante o período de primavera-verão que o principado recebe o maior fluxo de visitantes. Ver iates de luxo ancorados no porto de Montecarlo se torna tão trivial quanto comer uma pizza em Nápoles. Homens e mulheres elegantes desfilam pelas luxuosas boutiques e restaurantes do entorno da Place du Casino. Tudo em Montecarlo é naturalmente chique! Não é por acaso que o circuito mais charmoso da Fórmula 1 é justamente o de Mônaco.

Na parte alta da cidade fica o Palais Princier, sede do governo e residência oficial dos Grimaldi. Aberto ao público apenas durante o período de primavera-verão, o palácio merece uma visita. Construído no século XIII, o exterior austero do palácio contrasta com o seu interior luxuoso. O ponto alto da visita ao interior do palácio é a coleção de carros antigos do Príncipe Rainier III, que ocupa uma área de 4 mil m2. São mais de uma centena de modelos antigos de marcas tradicionais como Maserati, Rolls Royce, Jaguar e Mercedes. Mesmo não sendo uma grande apaixonada por carros me encantei pela coleção. Para completar a visita, vale a pena ver a troca da guarda que ocorre diariamente. Pertinho do palácio fica o oceanográfico que serviu como centro de pesquisa do explorador Jacques Cousteau. O aquário de 6.500 m2 é mantido com água do mar e hospeda espécies raras de animais marinhos. Do terraço panorâmico se tem uma vista incrível do mar, o que por si só já valeria a visita.

De volta à parte baixa do principado, vale a pena flanar no entorno da marina, a mais chique e exclusiva da região e nas ruas do entorno da Place du Casino, repletas de boutiques de luxo, restaurantes e, claro, o legendário Casino de Monte-Carlo! Aliás, esse cassino merece absolutamente uma visita, mesmo que seja apenas para um jantar ou um drinque. Construído em 1863 por Charles Garnier, o arquiteto responsável também pela bela Ópera de Paris, o cassino é um marco na arquitetura local. O ambiente interno é elegante e luxuoso, com serviço impecável. Eu entrei, joguei e ganhei! Sorte de amadora, com certeza, mas além dos trocados que levei na bolsa, ganhei uma das melhores noites da minha vida!