Londres
O Coração da Inglaterra

Quando falamos de lugares que queremos visitar, é natural que idealizemos um pouco e criemos expectativas sobre cada um desses lugares. Muitas vezes as nossas expectativas correspondem ao que encontramos quando, finalmente, chegamos aos tão sonhados destinos. Outras vezes, sonhamos tanto que acabamos por nos decepcionar ao nos depararmos com os destinos da vida real. Porém, também acontece de visitarmos um determinado lugar que não estava em nossa lista de desejos, pelo qual não nutríamos um grande entusiasmo, mas quando chegamos lá nos surpreendemos positivamente. Assim aconteceu comigo em relação a Londres, que era para mim mais uma etapa obrigatória da minha peregrinação pela Europa do que um destino dos sonhos. Viajei para lá pensando que deveria ser uma cidade legal, mas sem grande expectativa.

Decidi começar o meu tour por Londres conhecendo o que a cidade tem de mais tradicional, uma verdadeira instituição londrina: um típico Pub! Comecei pelo Cittie of Yorke, um tradicionalíssimo Pub de 1430, decorado com algumas mesas dentro de cabines, ao estilo de um confessionário, e tive a sorte de encontrar o último desses confessionários vago. Como a minha lista de pecados era extensa, pedi a Yorkshire Stingo, uma das excelentes cervejas Ale de edição limitada da Samuel Smith´s, cervejaria do século 18. Como tudo o que é bom tem seu valor, a garçonete me advertiu sobre o preço da cerveja (cerca de R$ 80) antes de abrir a garrafa. Mas pagaria até mais para provar uma das melhores cervejas locais! E para acompanhar? Bom, para não abrir mão do tradicional… fish and chips! Voltando ao meu confessionário, tive um dos momentos mais especiais da minha estadia londrina. Sentindo o sabor da Stingo explodir na minha boca e, lentamente descer pela minha garganta, meu coração acelerou. Fechei os olhos e me deixei tomar por aquela paixão imediata e avassaladora. E ali confessei o meu primeiro pecado: eu amo Londres! Quando o êxtase passou, pude observar ao redor. Na mesa em frente tinha três gerações de uma família! Fiquei encantada em ver neto e avô brincando na mesa do pub. Ao lado, um grupo de Bridgets Jones a procura de um Mark Darcy e, estretegicamente posicionados do outro lado, um grupo de rapazes altos, musculosos e ligeiramente bêbados, que estavam mais para Daniel Cleaver do que para Mark Darcy, infelizmente. Algumas horas e garrafas depois, me sentia muito alegre e cheia de energia para adentrar a noite, mas o sino tocou avisando que era hora de ir embora. Justamente agora que está ficando divertido?! Sim, os londrinos bebem muito, mas terminam cedo.

Na manhã seguinte acordei com a luz do sol entrando pela ampla janela do quarto. Fui abençoada com sol em pleno inverno londrino! Só então me dei conta da vista estupenda que tinha da janela. O Parlamento, o Big Ben, a Catedral de Westminster e a London Eye estavam todos ali! A vista era tão bonita que poderia ter ficado por ali mesmo, mas decidi andar por outras bandas e visitar a Torre de Londres. Embora a fila para visitar as joias da Coroa tenham me causado uma dor enorme nas pernas, valeu a pena enfrentá-la. Me apaixonei por um anelzinho básico, repleto de diamantes, safiras e outras pedrinhas preciosas, mas infelizmente a Rainha não estava disposta a me emprestá-lo no momento… Pena, teria ficado muito bem em mim! Sem pedras preciosas, mas igualmente imponente é a Tower Bridge, logo em frente à Torre de Londres. Para os mais corajosos, a experiência de caminhar sobre o chão de vidro, a 42 metros de altura, vendo passar os carros pela ponte inferior e o movimento do Tâmisa, ainda mais abaixo, é uma das sensações mais incríveis que se pode ter em Londres. Já para aqueles que sofrem de vertigem, como é o meu caso, a dica é ir pelas beiradas, mas não deixe de atravessar a famosa ponte! A visita também inclui a Sala de Máquinas Vitoriana, onde é possível ver como funciona os mecanismos da ponte mais importante da Grã-Bretanha. É impossível não se embasbacar ao apreciar a beleza e a imponência da Tower Bridge, com toda a sua riqueza de detalhes e mecanismos modernos, sobretudo para a época em que foi construída.      De todos os cartões-postais de Londres, esse é o meu favorito. O cair da tarde aliado ao cansaço foi um convite irrecusável a descansar… em um Pub! O escolhido da noite foi o The Rose, localizado às margens do Tâmisa e convenientemente próximo ao hotel em que estava hospedada.

No dia seguinte fui bater perna pelo charmoso e luxuoso bairro de Kensington. Infelizmente o dia não era tão ensolarado, mas mesmo assim fiz uma longa caminhada pelo Hyde Park, passando pelo Palácio de Kensington, atual residência de William e Kate, e pelo memorial construído em homenagem à Princesa Diana. Saindo do parque decidi dar uma olhadinha na Harrod´s que, mais do que a maior loja de departamentos de Londres, é um ponto turístico. Embora a loja seja maravilhosa e estivesse em plena liquidação, o meu cartão de crédito entrou e saiu de lá sem ser tocado. O caos dentro da loja espantou toda e qualquer vontade de comprar qualquer coisa! Parecia que todo o grupo de consumistas compulsivas amigas de Becky Bloom estava na Harrod´s naquela tarde, brigando ferozmente pela echarpe verde. Escapei rapidamente da selvageria da Harrod´s para enfrentar 2 longas horas de espera por uma mesa no Hard Rock Cafe. Mesmo sendo um ponto muito turístico, não poderia ir embora de Londres sem passar por lá. O ambiente é tão agradável e o pessoal tão simpático que rapidamente esqueci da longa fila de espera, enquanto tomava uma cerveja, acompanhada de um hamburguer monstro e ao som de muito rock and roll!

Eis que chegou a hora de visitar os principais cartões-postais da cidade! Comecei assistindo a cerimônia de troca de guarda do Palácio de Buckingham, que efetivamente é um belo espetáculo. Com a multidão que se aglomerava nas imediações, aliada à imprudência e à falta de educação de boa parte dos turistas, considerei um espetáculo extra o empenho dos policiais em manter a ordem e a segurança dos próprios pedestres apenas com o poder de suas vozes e expressões rigorosas. Definitivamente, aquele não é um trabalho fácil! De lá, fui fazer a clássica foto com o Big Ben ao fundo, mas economizei aquela de dentro da cabine telefônica. Urgh! Era a hora de encarar a fila para visitar a Abadia de Westminster, consagrada em dezembro de 1065. A igreja mais  importante da Inglaterra é mundialmente conhecida por sediar as coroações de monarcas e os casamentos de membros da Família Real Britânica. Cumprido o meu tour real, aproveitei o cair da noite para um tour agradavelmente plebeu pelo boêmio bairro de Covent Garden. Passei rapidamente pelos neóns e pelo tumulto de Piccadilly Circus para entrar em um pub muito típico, com aquela infinidade de torneiras de cervejas enfileiradas no balcão. Um sonho para qualquer apaixonado por cervejas!

As opções culturais de Londres são inúmeras, com vários teatros e museus espalhados pela cidade. Londres também abriga um dos mais importantes teatros de ópera do mundo, o Royal Opera House. Mesmo para aqueles que não são grandes fãs de óperas, vale a pena fazer uma visita pelo interior do teatro, com a possibilidade de conhecer, inclusive, o backstage do The Royal Ballet. Para os amantes de musicais, como é o meu caso, a cidade sempre oferece uma agenda vasta de belos espetáculos, sendo necessário verificar o calendário no momento da viagem para tentar encaixar os melhores espetáculos no roteiro. Partindo para os museus, Londres também abriga o British Museum, um dos maiores e mais importantes museus da história do mundo, o qual conta com um acervo de mais de 8 milhões de objetos que retratam a história da humanidade, desde a sua origem até a atualidade. Destaco a sala que retrata uma biblioteca, onde tem está exposto um grande globo terrestre. Outra boa opção é o famoso museu de cera de Madame Tussauds, onde os visitantes se divertem ao ver as imagens de cera das celebridades. Essa é a grande oportunidade de fazer aquele selfie com a Rainha! Uma parte menos bela, mas igualmente impressionante do museu, são as cabeças quilhotinadas de Luis XVI e Maria Antonieta. Por fim, um museu menos considerado pelos visitantes, mas que vale muito a pena conhecer, é o Victoria & Albert Museum. Especializado em Design e Artes Decorativas, o Victoria & Albert, fundado em 1852, é o maior museu do mundo nesse gênero. Para quem se interessa por moda, a ala que retrata a sua evolução, desde o século XVII até a atualidade, com um amplo acervo de roupas, sapatos, bolsas e acessórios, é imperdível! Além do acervo permanente, o museu tem sempre alguma exposição temporária interessante. Atualmente, por exemplo, está em exibição a mostra Shoes: Pleasure and Pain, a qual expõe mais 200 pares de sapatos superextravagantes de todas as regiões do mundo.

Na minha última noite em Londres, sentada em um outro pub, fiz o balanço da viagem e já comecei a pensar em quando voltaria para visitar – e revisitar – as atrações da cidade, beber e ouvir música nos pubs que não deu tempo de ir e assistir aos musicais que não consegui assistir dessa vez. Londres é assim, uma conquistadora que vai te cativando um pouco por vez, até você cair de amores por ela!