Croácia
Um País a ser Descoberto

Rica em belezas naturais, a Croácia sempre sofreu com ocupações ao longo de sua história. Romanos, bárbaros, eslavos, húngaros, turcos e venezianos dominaram o país ao longo dos séculos. Somente após o fim da I Guerra Mundial é que a Croácia se tornou um país independente, porém, tal independência durou pouco, pois alguns meses depois a Croácia se tornou parte da Iugoslávia, dominada pelos sérvios. A independência definitiva do país foi conquistada somente depois da Guerra dos Balcãs, em 1995.

Após a guerra pela independência, a Croácia começou o seu processo de reconstrução, fazendo importantes investimentos no setor de turismo, com o objetivo de se tornar um dos 20 principais destinos turísticos do mundo até 2020. No que depender de beleza natural e arquitetônica, hospitalidade e simpatia, a Croácia chegará facilmente a esse objetivo! A melhoria da infraestrutura também tem crescido ano após ano, sendo que o país já conta com hoteis de excelente nível, pessoal bem treinado e várias opções de passeios. Hoje, 20 anos após o fim da guerra, a Croácia é um país vibrante! Embora seja repleta de eventos culturais, museus e parques de tirar o fôlego, é no quesito Sol e Mar que a Croácia deixa muitos países europeus comendo poeira.

Iniciei a minha viagem pelo norte do país, na capital Zagreb. Admito que o primeiro impacto que tive da cidade foi um tanto negativo. A tarde era chuvosa e passei por prédios que remontavam à época da União Soviética, construções feias e mal cuidadas. Porém, quando cheguei na zona central da cidade o impacto negativo logo se dissipou, pois vi uma cidade bonita, com prédios bem conservados e muitas opções de bares e restaurantes.

O centro histórico de Zagreb é localizado no alto de uma colina e, por isso, chamado de Gornji Grad (Cidade Alta). Na era medieval, o local do atual centro histórico, era ocupado por duas cidades rivais, separadas apenas por um córrego. As cidades de Kaptol e Gradec travaram vários conflitos sangrentos às margens do córrego Medverscak, que as separava. Hoje, a região é a mais vibrante da cidade, sobretudo durante os meses de verão, quando os bares e restaurantes ocupam as calçadas com suas mesinhas cheias de gente alegre e bonita. Foi em um desses bares que tive uma explicação do peculiar modo de servir dos croatas. Era fim de tarde quando decidi beber uma cerveja e beliscar alguma coisinha, mas quando perguntei à atendente do bar o que tinha para comer, já que não tinha visto nenhuma opção no cardápio, ela me olhou como se eu tivesse feito a pergunta mais estranha do mundo e respondeu que ali era um bar e no bar se bebe; se eu queria comer, teria que ir ao restaurante, porque é no restaurante que se come. Simples assim! Ok, então eu bebo sem comer e pedi a minha cerveja. Depois de alguns minutos a moça reapareceu com a cerveja e o cardápio do restaurante vizinho, para eu escolher alguma coisa para comer. Escolhi o que pensei ser uma tábua de frios para acompanhar a minha cervejinha croata, mas foi aí que o garçom do restaurante interviu para explicar que para comer, eu deveria me sentar em uma mesa do restaurante. Humildemente perguntei se eu poderia levar a minha cerveja para a outra mesa, pois àquela altura já não sabia mais se era correto beber no restaurante. Para minha sorte o sistema croata permite beber em restaurantes, desde que se coma também! A demora do restaurante para servir uma simples tábua de frios começou a me incomodar. Como paulistana, estou acostumada a um serviço bastante ágil e, considerando que só tinha outra mesa ocupada além da minha, tive dificuldade em entender porquê eu estava esperando por mais de 40 minutos para ser servida! Antes que eu pudesse reclamar pela demora, o garçom apareceu com uma bandeja enorme e temi que fosse o meu pedido. Sim, era o meu pedido! Eu havia pedido um prato misto, pensando ser um misto de frios. Mas, na verdade, eu pedi o prato típico da Croácia, que se chama misto, só que é um misto de carnes!!! A bandeja continha tanta carne que dava para alimentar um exército, com algumas batatas assadas no forno para complementar a refeição. A quantidade era tanta que o jantar que havia programado para aquela noite foi imediatamente cancelado em meus pensamentos. Como pensar em jantar se estava praticando o pecado da gula naquele instante? O que parecia um exagero se mostrou a quantidade exata de comida, porque tudo era tão bom, mas tão bom, que comi até lamber os dedos! Foi o engano mais delicioso que já cometi em toda a minha vida!!!

No dia seguinte, dediquei a jornada para caminhar pela cidade e queimar as inúmeras calorias acumuladas no dia anterior. Perambulei pelo centro histórico, onde estão os prédios da presidência e do parlamento, me encantei com o telhado feito de azulejos da Igreja São Marcos, com os brasões de armas da Croácia, da Dalmácia, da Eslavônia e de Zagreb, e visitei o Museu da Cidade. Depois, caminhei para a outra parte do centro, onde visitei a bela Catedral de Santo Estevão, o Palácio do Arcebispo e a Torre de Lotrscak, cuja vista da cidade é belíssima! Em meio às visitas, parei em um bar para descansar um pouco, mas como já me sentia uma expert local, pedi apenas uma cerveja!

De Zagreb segui para o Parque de Plitvice, um dos parques mais bonitos que já tive a oportunidade de visitar. A economia da região gira em torno do turismo gerado pelo parque. Os restaurantes e pousadas têm se esforçado cada vez mais para melhorar os seus serviços, afim de atrair um viajante mais exigente, com muita vontade de aproveitar as belezas da natureza, mas sem abrir mão do conforto. O Parque de Plitvice, com seus 300 km2 de florestas, cachoeiras e lagos arrasadores, foi declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1979, mas somente após a independência da Croácia que o parque passou a ser destino de turistas de todo o mundo. Além da preservação natural, o parque se preocupa em facilitar a vida de seus visitantes. Logo na entrada, é possível verificar o traçado das três rotas possíveis, classificadas em leve (6 horas), moderada (8 horas) e intensa (12 horas). Optei pela rota moderada, cujo percurso dura cerca de 8 horas e mescla caminhadas com percursos feitos à bordo de ônibus e barco elétrico. No início do percurso, o ônibus elétrico me levou à parte mais densa da floresta, onde é possível ver alguns animais vivendo livremente. Em seguida, bastou seguir as direções das várias passarelas espalhadas ao longo do parque para me aproximar da exuberante natureza local. Várias cachoeiras podem ser vistas ao longo do percurso, mas são os lagos que deixam os visitantes de queixo caído. Ao todo, são 16 lagos dentro do parque, cuja tonalidade da água cristalina vai do verde ao azul, dependendo da luz que recebe. Após concluir mais da metade do percurso, atravessei de uma margem à outra com o barco elétrico, onde encontrei várias barracas de comidas e bebidas. Aproveitei para descansar e almoçar com calma as deliciosas carnes que os croatas preparam. Após o merecido e necessário descanso, encarei a etapa final de caminhada até a conclusão da rota. Voltei para a pousada cansada, mas feliz e agradecida pela oportunidade que tive de conhecer um lugar tão especial e bonito como o Parque Plitvice!

Após uma noite de sono intenso, estava recuperada para prosseguir com a viagem pela Croácia, pois a região da Dalmácia, no sul do país me aguardava. Comecei pela histórica cidade de Dubrovnik, localizada na ponta da Dalmácia. Por causa da sua extraordinária beleza natural e importância histórica, Dubrovnik foi apelidada como a Pérola do Adriático. A cidade antiga, cercada por muralhas, foi declarada como Patrimônio da Humanidade em 1979 pela UNESCO. Um dos melhores passeios é percorrer a cidade do alto dos muros, pois somente assim é possível ter as melhores vistas da cidade antiga e também do mar e das muitas ilhas próximas. No interior da cidade antiga, vale a pena visitar o Palácio do Reitor, o Palácio Sponza e o Mosteiro Franciscano. Dediquei alguns minutos para descansar contemplando a Fonte de Onofrio, um dos principais monumentos da cidade. Seja para um drink no final do dia ou para um bom jantar, as ruazinhas da cidade antiga abrigam ótimos bares e restaurantes com mesinhas externas.

O tempo de permanência em Dubrovnik pode variar muito, pois além da cidade antiga, é possível visitar as várias ilhas da região em passeios de 1 dia. Mljet, Korcula e Elafite são as principais ilhas da região e podem ser visitadas com barcos de passeio que partem do porto de Dubrovnik. Mas havendo a oportunidade, a melhor forma de desfrutar das belas ilhas do sul da Croácia é alugando um veleiro, pois assim é possível ter independência sobre o tempo de permanência em cada local, além de ter uma viagem mais tranquila e prazerosa.

A Croácia tem tantas e tão belas ilhas que a tarefa mais difícil no momento da organização da viagem foi selecionar apenas algumas para serem visitadas. Eu poderia ter passado todo o verão por lá, pulando de ilha em ilha, mas como isso não foi possível, destaco duas ilhas incríveis: Brac e Hvar. A Ilha de Brac é a terceira maior da Croácia e esbanja beleza, mesclando cenários de praias de areia branca e fina com mata extensa. Na costa sul da ilha está localizada a Zlatni Rat, ou Praia do Chifre Dourado. Essa praia tem a forma de uma língua que se estende até o mar, com formas que mudam de acordo com as marés, o que a torna única! Já a Ilha de Hvar, um pouco mais ao sul, é a ilha mais in do Mediterrâneo, carinhosamente chamada de nova Ibiza. Embora Hvar venha atraindo um número grande de jovens baladeiros, que chegam à ilha dispostos a aproveitar ao máximo as festas das casas noturnas, que esquentam ainda mais o verão europeu, também acolhe muitíssimo bem os casais e as famílias, com pequenas praias (algumas privadas), restaurantes excelentes e um mar inteiro para ser explorados a bordo de lanchas. É imperdível visitar a Fortaleza Espanhola, localizada nas colinas da ilha. A construção data do século XVI, quando a ilha estava sob o domínio veneziano, e foi fundamental para proteger a população local dos ataques dos otamanos, graças à vista panorâmica da ilha e de seu entorno. Hoje, essa vista presenteia os seus visitantes com as melhores fotos de Hvar, do porto e de ilhas próximas.

Terminei a minha viagem pela Croácia em Split, uma das maiores e mais importantes cidades do país. O centro histórico de Split é dominado pelo que restou do palácio do imperador romano Diocleciano, que ali se refugiou em 305, após deixar o governo do Império Romano, e viveu até a sua morte. Muito do palácio foi conservado, como o Portão de Ouro, a entrada principal do palácio e, ainda hoje, a porta de entrada do centro histórico. No subterrâneo do palácio, funcionam pequenas lojas de artesanatos e souvenieres, enquanto que no Peristilo os visitantes encontram agradáveis bares para descansar e observar o vai e vem de locais e visitantes. Foi ali que sentei e, sem pressa, revivi os momentos maravilhosos que passei nesse país de beleza ímpar e povo hospitaleiro… A Croácia já está na minha lista de países a serem revisitados.