Munique
Os Encantos da Bela Capital da Bavária

Casaco pesado e impermeável ok. Botas resistentes e forradas por pelos no interior ok. Pashminas ok. Luvas ok. Tocas ok. Pronto, o check list para viajar pela primeira vez para Munique em pleno inverno alemão estava quase completo! Para arrematar, me vesti com uma couraça dura para suportar a antipatia dos alemães, pois era assim que os imaginava. Pessoas eficientes, mas muito antipáticas. Uma vez na capital da bela região da Bavária, no sul da Alemanha, comecei a me surpreender com a receptividade local. Em hoteis, restaurantes, museus e todos os outros lugares que frequentei, sempre me deparei com pessoas educadas e, pasmem, gentis e simpáticas! Alguns até arriscavam algumas palavras em português para demonstrar a atenção pelos brasileiros. Claro, que essas palavras não iam muito além de “bom dia” e obrigado”, mas me senti feliz pelo simpático gesto. Bom, o meu vocabulário em alemão também não vai muito além disso… Enfim, voltei de Munique com um outro conceito dos alemães: eficientes sim, simpáticos também!

A cidade de Munique, embora grande, tem a maioria de suas atrações turísticas concentradas em seu centro histórico, o que facilita muito a vida de seus visitantes. O melhor ponto de partida é a Marienplatz, a principal praça do centro da cidade. Nessa praça ficam os prédios da Velha Prefeitura (Altes Rathaus) e da Nova Prefeitura (Neues Rathaus). A Neues Rathaus fica em um prédio imponente, construído entre 1867 e 1908 em estilo neogótico. A bela fachada do palácio de 100 metros exibe estátuas de reis e duques, além de figuras místicas e de santos inspiradas em crenças medievais. O maior destaque do palácio é a Torre do Relógio, com 85 metros de altura. O seu carillon feito com estátuas de caveleiros, dançarinos e outras figuras toca três vezes ao dia, atraindo um grande número de pessoas na praça para assistir ao belo espetáculo. Também é possível visitar o interior da torre do relógio e, lá de cima, a vista da cidade é maravilhosa. Já a Altes Rathaus, a velha sede da prefeitura, foi construída no século XV e funcionou também como prisão. Atualmente, na torre da antiga sede da prefeitura fica o Museu dos Brinquedos (Spielzeug Museum), com peças de brinquedos de todas as partes da Europa e, também, das Américas, um passeio divertido para crianças de todas as idades. Embora Munique seja uma daquelas cidades a qual as pessoas podem visitar em qualquer época do ano, é em dezembro, quando eu fui pela primeira vez, que a Marienplatz se transforma, sediando o mercado de natal da cidade, um dos mais tradicionais e bonitos de toda a Europa.

Da Marienplatz já se vê as imponentes torres da Catedral de Munique, a Frauenkirche. A catedral, construída em estilo gótico, é um dos principais cartões-postais da cidade. As torres têm 99 metros de altura e do alto delas é possível admirar uma vista incrível da cidade e arredores. Para se ter ideia da importância da catedral, o ponto zero da cidade é a cúpula da sua torre norte. A cripta da igreja abriga os túmulos dos reis da Bavária, inclusive o de Ludwig, o Bávaro. Outra igreja que vale uma visita é a Michaelskirche, dedicada a São Miguel. Essa igreja foi construída em estilo renascentista no século XVI a pedido do Duque Guilherme V para oferecer aos jesuítas, cujo grande destaque é a sua grande abóbada, menor apenas do que a abóbada da Basílica de São Pedro, no Vaticano. É na cripta da Michaelskirche que estão os túmulos de parte da dinastia Wittelsbach, dentre os quais o de Ludwig II da Bavária, o rei que idealizou e mandou construir o famoso castelo de Neuschwanstein, que servira de inspiração a Walt Disney para construir o castelo da Cinderela.

E falando na família real da Bavária, que tal conhecermos o palácio que serviu de residência a ela? A Residenz, como é chamada, é o palácio no qual viveram os reis da Bavária em Munique por quatro séculos, até 1918. O belo palácio foi construído com diferentes estilos arquitetônicos, com salas em estilo renascentista e outras em estilo rococó. Já a ala real foi construída em estilo neoclássico. O maior destaque do palácio é a sua imponente escadaria que conduz os visitantes aos andares superiores. A Residenz foi atingida por um longo e terrível bombardeio durante a Segunda Guerra Mundial, que destruiu quase que por completo o prédio. No pós-guerra foi feito um ótimo trabalho de restauração, mas em seu interior existem impressionantes fotos em exposição da destruição sofrida pelo prédio. O palácio funciona como um museu desde 1920, cujo acervo conta com peças da família real bávara, como quadros, esculturas, objetos em prata e porcelana e móveis de época. Porém, o grande destaque do museu é a ala real, na qual são exibidos os tesouros dos Wittelsbach, inclusive as coroas reais. No interior do palácio fica o Cuvilliés Theater, o belo teatro em estilo rococó que outrora era de uso exclusivo da família real. O teatro, construído entre 1751 e 1755 e luxuosamente decorado em vermelho e dourado, sediou a primeira apresentação da Ópera Idomeneo de Mozart, em 29 de janeiro de 1781.

Já em um bairro tranquilo a oeste do centro de Munique, os Wittelsbach construíram a residência de verão da família. O Castelo e o Parque de Nymphenburg ocupa uma área de mais de 52 hectares. Para chegar na entrada principal do castelo, passa-se por um lindo jardim com um lago no meio, que durante o inverno congela e se transforma em pista de patinação para os locais. No interior do castelo foram preservados móveis e objetos da época em que a propriedade era ocupada pelos reis da Bavária, inclusive uma vasta coleção de porcelanas e os quadros preferidos de Ludwig II. Vale a pena também dedicar uma visita ao Marstallmuseum, que abriga a bela coleção de carruagens reais. Após a visita pelo interior do castelo, dedique o resto do dia para aproveitar a beleza e a tranquilidade do jardim botânico, um dos mais importantes do mundo. Casas de caças, lagos e uma infinidade de plantas e simpáticos patinhos nos fazem companhia durante o passeio. O jardim botânico é um espetáculo em qualquer época do ano. Durante a primavera/verão é repleto de verde e flores coloridas; no outono as cores vão mudando para o vermelho-amarelado; e no inverno o branco da nave dá um charme para lá de especial ao cenário bucólico. Independente da época, a paisagem é sempre deslumbrante!

Depois dessa imersão no luxo e beleza das propriedades da antiga família real da Bavária, chegara o momento de voltar a uma vida mais popular, mas igualmente típica da região, era hora de mergulhar no mundo das cervejas da Bavária! Como grande amante de cervejas que sou, aguardei ansiosa por esse delicioso momento. Mas, antes de cair matando nos canecões cheios de ouro líquido, vale a pena conhecer mais sobre a história da bebida mais popular em todo o mundo. O Museu da Cerveja e da Oktoberfest é uma parada obrigatória para quem quer conhecer mais sobre o universo cervejeiro, cujo acervo exibe fotos e desenhos que contam a história da Oktoberfest, a maior festa cervejeira do mundo. O museu fica em um prédio de 1340, inicialmente ocupado por artesãos e comerciantes, que foi reestruturado sob o comando de Ferdinand Schmid, ex-chefe cervejeiro da Augustiner. O museu foi inaugurado por ocasião da Oktoberfest de 2005 e, através das visitas guiadas, é possível perceber a importância dessa bebida antiquíssima, cuja produção na Alemanha se iniciou com os monges e atingiu um estágio de popularidade como nenhuma outra. Para quem pretende viajar para Munique para aproveitar a Oktoberfest, prepara-se para ir em setembro, pois apesar do nome, a festa começa no final de setembro e termina no começo de outubro. Nos 16 dias de festa vários eventos são realizados, sendo a cerimônia de abertura um dos mais legais. São mais de 12 horas diárias de muita música, comida típica e, claro, cerveja no Theresienwiese, o local que sedia a Oktoberfest. Um certo caos também está incluso no pacote, mas depois de algumas canecas de cerveja até essa confusão será divertida! Se você curtir uma boa cerveja, mas não puder ir a Munique na época da Oktoberfest, não se preocupe, porque na cidade onde essa bebida reina, qualquer dia é dia de cerveja! As duas cervejarias mais tradicionais estão abertas diariamente. A Augustiner, em funcionamento desde 1328, é a cervejaria mais antiga da Alemanha e uma das marcas mais emblemáticas de toda a Alemanha. Já a Hofbrauhaus, famosa em todo o mundo, existe há mais de 500 anos. Todos as noites – e dias também – seus amplos salões lotam de turistas e locais que, entre uma caneca e outra, curtem a atmosfera típica da Bavária, com música ao vivo e garçons e garçonetes vestidos em trajes típicos. Pegue a sua caneca e viva a essência da Bavária!

Dachau… Uma triste, mas importante recordação

É importante relembrar os erros do passado para que os mesmos não sejam repetidos nunca mais. O Campo de Concentração de Dachau está aberto ao público com essa finalidade, recordar as atrocidades cometidas pelo Nazismo na Alemanha. Localizado a cerca de 30 Kms de Munique, é uma visita interessante para quem está na capital da Bavária e tem interesse em se aprofundar nessa triste marca da nossa história recente.

A inscrição “Arbeit Macht Frei” (O Trabalho Liberta) continua no grande portão de ferro na entrada de Dachau. Logo na entrada a guia nos dá uma explicação preliminar de como funcionou o campo de concentração e, uma vez lá dentro, podemos ver as fotos e as menções históricas da Alemanha na época do nazismo. Através de um bunker dormitório, preservado com as camas da época, conseguimos ver a situação calamitosa em que dormiam os prisioneiros. A guia nos explica que muitos morriam de fome por causa da pobre dieta à base de batata, com poucos nutrientes. Já outros morriam de frio por terem que trabalhar com poucos agasalhos em temperaturas extremamente baixas. Fugir de Dachau era impossível, mas na busca pela liberdade, muitos tentaram e morreram fuzilados nos muros. Enfim, chegamos na temida câmera de gás, onde inicialmente eram mortos aqueles considerados inúteis para o trabalho, sobretudo idosos, mulheres e crianças. Porém, o extermínio em massa de judeus ocorreu no fim da guerra, quando Hitler começou a perceber que poderia ser derrotado pelos Aliados.      

Os judeus foram, sem dúvida, as maiores vítimas do nazismo, mas não apenas eles. Homossexuais, simplesmente por serem homossexuais, e italianos, por terem sido considerados traidores depois que a Itália deixou o Eixo e passou a apoiar os Aliados, também foram terrivelmente torturados e mortos nos campos de concentração nazistas, especialmente em Dachau. Em um dos bunkers estão expostos fotos e documentos das vítimas que morreram em Dachau. De todas as imagens que vi, a mais impressionante foi a de um jovem rapaz morto, após ter sido submetido às experiências mais macabras que se pode imaginar. Os médicos nazistas selecionavam alguns prisioneiros para servirem de cobaias aos seus “experimentos científicos” e os submetiam às piores torturas que um ser humano pode sofrer. Naquela imagem eu vi o enorme sofrimento das vítimas do nazismo alemão. As lágrimas transbordaram. Senti revolta por ver o quanto a humanidade pode ser cruel.

O Memorial de Dachau é, certamente, um dos mais tristes museus do mundo. Mas, espero que permaneça lá cumprindo o seu papel de mostrar ao mundo os grandes erros do passado, para que esses erros não se repitam nunca mais.