Canadá
Entre arranha-céus e uma natureza exuberante, conheça todo o fascínio do país mais ao norte das Américas

Por Zélia Rodrigues

Foi debaixo de um sol de rachar o coco no litoral da Bahia que 17 anos atrás ouvira um canadense de Toronto contar como era sua vida no inverno do Canadá, com uma temperatura que chegava a 25 graus negativos! Gelei só de imaginar um frio daqueles, ainda mais porque até aquele momento jamais tinha vivenciado a experiência de passar um inverno no hemisfério norte. Muitas viagens e invernos depois, as baixas temperaturas do inverno canadense não me assustam mais, embora eu ainda prefira a época da primavera-verão, quando os dias são mais longos e as temperaturas mais agradáveis.

O país reconhecido por seu alto IDH e qualidade de serviços públicos encanta os brasileiros, habituados à desordem na qual está instalado o nosso país, mas se engana quem pensa que os canadenses são chatos. Embora os canadenses sejam constantemente satirizados pelos americanos, como em um dos memoráveis episódios dos Simpsons, eles também sabem se divertir e são muito receptivos com os estrangeiros. E se a ordem e o bom funcionamento de tudo no Canadá fascina os brasileiros, o modo irreverente e expansivo dos brasileiros também fascina – e muito – os canadenses. Afinal, não tem gelo que não derreta sob o calor brasileiro!

Com um território continental e sua história de colonização inglesa e francesa, o Canadá proporciona aos visitantes tantos atrativos que são necessárias muitas viagens para se conhecer todas as maravilhas desse país continental. Nessa jornada elegemos a cidade mais cosmopolita do Canadá para a nossa viagem pelo país mais ao norte das Américas.

Toronto

Por receber voos diretos diariamente a partir de São Paulo, Toronto é a principal porta de entrada de brasileiros no Canadá. Localizada na província de Ontário, Toronto é o centro financeiro-econômico do Canadá e uma das cidades mais vibrantes do país. Por ser o principal centro de negócios do Canadá, essa metrópole também se tornou o centro nervoso do mundo da arte e cultura, oferecendo uma infinidade de opções culturais para os seus moradores e visitantes. Se acontece no Canadá, acontece em Toronto! Embora seja uma das maiores cidades do país, Toronto mantém excelentes níveis de qualidade de vida e segurança, sendo constantemente eleita como uma das melhores cidades para se viver e desafiando a tese de que uma grande metrópole perde em níveis de segurança e qualidade de vida. A cidade que foi originalmente batizada como York pelos britânicos e rebatizada como Toronto em 1834, também é uma das cidades mais multiculturais do mundo, sendo extremamente receptiva com os imigrantes. As diferenças de etnias são facilmente observadas em uma rápida caminhada pela cidade, onde se nota uma convivência harmônica e respeitosa. A diversidade não é apenas tolerada no Canadá, ela é valorizada, a ponto de o lema local ser “Diversity Our Strenght”, ou seja, a Diversidade é a nossa força”.  

A “Manhattan de Toronto” é formada por prédios altos e modernos cercados pelo Lago Ontário, criando uma das paisagens mais bonitas da cidade. Nessa ilha de concreto se destaca a CN Tower, o maior cartão-postal da cidade. Com 553 metros de altura, a torre é um dos locais mais visitados de Toronto e proporciona uma vista panorâmica espetacular da cidade. Inaugurada em 1976, a CN Tower foi construída pela rede ferroviária canadense para resolver os constantes problemas de comunicação causados pelos arranha-céus, construídos cada vez mais altos na cidade. Na época, a CN Tower foi considerada a construção mais alta do mundo, vindo a ser superada somente três décadas depois, quando a construção do prédio Burj Khalifa de Dubai foi concluída. Os elevadores modernos e de alta velocidade levam os visitantes do térreo até o observatório principal, 114 andares acima, em menos de 1 minuto. No observatório os visitantes têm uma perspectiva única da cidade, ao pisarem no chão feito em vidro, um teste e tanto para quem sofre com problemas de altura. Feito com vidros de alta resistência, os funcionários garantem que é possível até dançar sobre eles, mas sinceramente não sei se alguém já decidiu fazer esse teste. Já os paredões em vidro proporcionam as mais belas vistas de Toronto. A 346 metros de altura, você pode ver a cidade de uma perspectiva única e, de repente, ela parece pequena quando está, literalmente, aos seus pés. Se a ideia for levar a adrenalina ao limite, a dica é encarar a Edge Walk, uma caminhada de 30 minutos no lado externo da Sala da Cúpula da torre. A Edge Walk não é para qualquer um – certamente não é para mim –, mas quem encara diz ser uma das experiências mais incríveis que já teve na vida! Acredito, mas continuo preferindo observar o cenário na segurança de um piso de concreto. Com ou sem essa dose extra de adrenalina, para coroar essa visita incrível, vale a pena finalizá-la com um jantar no restaurante instalado na torre, onde a vista 360 graus do skyline de Toronto iluminado complementará o menu e, certamente, restará como uma das melhores experiências vividas na cidade mais cosmopolita do Canadá.

De volta ao chão, é o momento de se jogar na confusão da Yonge-Dundas Square, carinhosamente chamada de Times Square de Toronto, por causa de seus enormes letreiros luminosos e o fluxo constante de pessoas que circulam entre duas das mais agitadas ruas do centro. Essa área comporta uma grande gama de lojas e restaurantes, sendo um ótimo ponto de partida para explorar a região. Mas para ter uma experiência original, o melhor local para circular e fazer compras é no PATH. Essa grande área subterrânea, com 30 quilômetros de extensão, foi construída para ser uma alternativa de compras e lazer na cidade durante o inverno, quando as baixas temperaturas não permitem que as pessoas circulem muito ao aberto. Toda a área do PATH é aquecida, com uma temperatura constante para que os visitantes possam circular numa boa pelas suas ruas subterrâneas, mesmo quando os termômetros da cidade lá em cima marcam temperaturas negativas. A construção que é um mix entre um enorme shopping center e uma verdadeira cidade subterrânea, é totalmente interligado ao metrô e aos principais edifícios da cidade. Com um inteligente sistema de localização, onde cada letra indica uma direção, o PATH é um sistema eficiente que caiu no gosto de residentes e turistas.

Assim como os brasileiros, os canadenses também adoram esportes, mas os esportes mais difusos por lá são os menos conhecidos pelos brasileiros. E daí? A beleza de se viajar não é justamente vivenciar a cultura do local visitado? Então, acho que vale a pena deixar o futebol de lado e se aventurar em mundos desconhecidos. Uma boa forma de saber mais sobre o hóquei, a grande paixão nacional, é visitando o Hockey Hall of Fame. Esse museu interativo dedicado ao hóquei é uma forma superbacana de conhecer a história desse esporte e, de quebra, ainda sentir-se como um astro do hóquei ao simular jogadas em algumas posições do esporte, como a de goleiro e de atacante. O museu também conta com uma ampla coleção de artigos ligados ao esporte e conta com um sumário de todos os campeões desde a temporada 1892-1893! Os grandes destaques do museu são os muitos troféus conquistados em grandes competições e os objetos pessoais das grandes lendas do esporte. Aliás, vale a pena dedicar um tempo para ver o hall da fama das maiores estrelas do hóquei de todos os tempos, mesmo que as pessoas ali retratadas sejam ilustres desconhecidas para nós brasileiros. Outro esporte muito popular no Canadá é o beisebol e o estádio do Toronto Blue Jays já é um espetáculo por si só. O Rogers Centre foi inaugurado em 1989 com uma arquitetura moderna, sendo o primeiro estádio do mundo a ter uma cúpula retrátil, que pudesse ser aberta ou fechada de acordo com as condições climáticas. Para conhecer mais sobre os detalhes arquitetônicos do estádio, os visitantes podem fazer um tour guiado, onde também vai poder ver os bastidores do estádio que sedia alguns dos mais importantes eventos da cidade.     

De arranha céus a castelos

Deixando os modernos arranha céus e entrando na parte da cidade chamada de Toronto Antiga, se descobre os traços europeus deixados em Toronto, com algumas casas históricas que foram transformadas em museus e são imperdíveis para quem quiser conhecer melhor a história da cidade. A Casa Loma é a mais famosa dessas casas e foi construída entre 1911 e 1914 pelo financista Henry Pellat. Atraindo milhares de pessoas anualmente, essa casa em forma de castelo é patrimônio histórico da cidade e conta com 98 cômodos, elegantemente decorados com mobiliário típico da época e diversas obras de arte. Em razão da grande paixão de seu criador pelos castelos europeus, a Loma também conta com diversas passagens secretas, que continuam despertando o interesse dos visitantes até hoje. Os anos de residência da família Pellat nessa casa foram marcados por inúmeras festas e eventos beneficentes, mas mesmo tendo passado para a administração pública da cidade, essa inclinação para eventos permaneceu e, além de ser aberta à visitação, a Casa Loma é um dos locais mais requisitados para a realização de eventos privados. Visitar a Casa Loma é voltar ao início do século XX e descobrir como as famílias abastadas de Toronto viviam, através dos móveis e objetos de decoração preservados e da coleção de carros antigos. Depois da visita no interior da casa, vale a pena dedicar um bom tempo para percorrer os belos jardins da propriedade, em meio às fontes que enaltecem ainda mais a beleza do lugar.

Outra villa histórica da cidade que vale uma visita é a Spadina, localizada a poucos passos da Casa Loma. Essa casa antiga foi adquirida pelo banqueiro James Austin em 1866, tendo sido a residência da família por três gerações. Desde que foi transformada em museu, a Spadina proporciona aos seus visitantes a incrível experiência de sentir como era viver na Toronto do início do século XX, através dos móveis e objetos de decoração da época, além de objetos que contam a história da cidade. O ponto alto da visita é percorrer os jardins deslumbrantes da propriedade, onde inúmeras festas de gala foram realizadas durante a residência dos Austin na casa, sobretudo durante os loucos anos 1920, até o declínio da família na grande depressão de 1930.

De dose em dose, uma imersão na cultura canadense

Toronto é uma cidade em constante transformação e essa característica da metrópole pode ser vista no Distillery District, uma zona industrial que se transformou num dos locais mais in da cidade. No antigo complexo industrial da destilaria Gooderham & Worts funciona atualmente lojas, bares, restaurantes, teatros e galerias de arte, atraindo o interesse tanto de moradores quanto de turistas. A variedade de bares e restaurantes é tão grande que vale muitas visitas ao local até poder experimentar tudo, mas para quem curte destilados e quiser fazer jus à antiga fábrica, uma parada no Spirit of York é obrigatória. A marca de destilados canadense oferece um tour guiado aos sábados, onde os visitantes podem ver as etapas de produção das bebidas e terminar a visita com uma degustação de 3 destilados selecionados. Além dos locais fixos, o Distillery District também promove uma série de eventos durante o ano, principalmente durante o verão, quando a área externa se transforma em uma grande praça com espetáculos ao vivo. Unindo o velho ao novo, o Distillary District se transformou em quase duas décadas numa das maiores e melhores atrações de Toronto.

Outro local da cidade que ganhou uma nova roupagem é a Roundhouse – a antiga garagem de trens de Toronto – ao se tornar a fábrica da cervejaria Steam Whistle. Com vagões antigos decorando a entrada da fábrica e uma localização privilegiada, de frente para o Rogers Centre e praticamente aos pés da CN Tower, a Steam Whistle ganha a atenção geral e se tornou, rapidamente, uma das principais atrações de Toronto. Até mesmo quem não é lá muito fã de cerveja não resiste ao ambiente convidativo criado entorno da cervejaria. Já para os cervejeiros de plantão, vale a pena dedicar mais tempo no local para conhecer o interior dessa fábrica de cerveja artesanal que caiu no gosto dos canadenses. A cervejaria idealizada por três jovens que sonhavam em produzir uma cerveja de qualidade internacional se concretizou em 2000 e, desde então, a Steam Whistle vem se consolidando como uma marca forte na cidade, mesmo produzindo apenas um tipo de cerveja, a Pilsner. A cervejaria oferece visitas guiadas onde as pessoas podem entender todo o processo de produção da cerveja, desde os ingredientes até o engarrafamento, considerando os aspectos ecossustentáveis que a marca aplica em seu processo, com direito à degustação ao final da visita. Mas, se a ideia for se sentir como um(a) local, a melhor pedida é ir tomar umas Steam Whistle antes de um jogo do Blue Jays e depois seguir para o estádio com a trupe. Dependendo da quantidade de cerveja ingerida ficará até fácil entender as regras do beisebol!

Um arquipélago no meio do lago

Toronto é uma cidade e tanto, recheada de atrações capazes de agradar a diferentes públicos. Mesmo sendo uma das cidades mais cosmopolitas do mundo, Toronto nos reserva belas surpresas, que nem imaginamos quando pensamos em uma grande metrópole, como as charmosas Toronto Islands. Para sair da agitação de cidade grande e se sentir em uma bucólica cidadezinha de interior, basta pegar um ferry no centro de Toronto que em poucos minutos se chega nas ilhas lacustres da cidade, também conhecidas como Island Park. O local é formado pelo conjunto de 15 ilhotas que se interligam através de charmosas pontes, sendo facilmente percorrido de ponta a ponta por conter apenas 5 quilômetros de extensão. Durante o verão as pequenas faixas de areia próximas ao lago se tornam as praias dos residentes de Toronto, sendo a Hanlan´s Point Beach e Ward´s Island Beach as melhores. Na Hanlan´s o nudismo é permitido, mas se essa não for a sua praia, tem uma área para pessoas que preferem permanecer vestidas, ou que não são fãs de “roupas opcionais” como dizem os canadenses. Outro ponto da ilha que vale uma visita é o Gibraltar Point Lighthouse, um farol de 25 metros de altura construído no início do século XIX em forma hexagonal. Esse farol se destaca por ser um dos poucos faróis de lagos do mundo. As ilhas contam com opções de lazer para todas as idades e todos os gostos, mas além de diferentes quadras de esporte e passeios de bicicletas, dá para fazer uma passeio menos convencional e bem bacana pelas lagunas em canoa, pedalinho ou caiaque, com a companhia de muitas árvores no curso do passeio. E antes de voltar para a agitação de Toronto, vale a pena dedicar um tempinho – ou um tempão – para curtir a vista panorâmica do skyline da cidade a partir da ilha, pois de lá se tem um dos melhores ângulos da “Manhattan canadense”.

Cataratas do Niágara

As Cataratas do Niágara fica a apenas 140 quilômetros de distância de Toronto, sendo uma excelente opção de bate-volta para os visitantes da cidade. A forma mais prática para se chegar nas cataratas é alugando um carro, pois assim se tem independência de horário e se chega até a entrada do parque. Mas para quem preferir não dirigir até lá, tem a opção de ir de trem ou de ônibus, partindo do centro de Toronto.

Assim como as Cataratas do Iguaçú, as Cataratas do Niágara também estão na fronteira de dois países, cada qual com a sua entrada independente para o parque que protege as cataratas. O lado oeste está localizado na Província de Ontário, enquanto o lado leste é parte do estado de New York. O conjunto de cataratas prevê as Cataratas Canadenses, as Cataratas Americanas e as Cataratas Bridal Veil, ou Véu da Noiva, sendo esta última a menor das quedas d´água. As Cataratas Canadenses são as maiores de todas as três, recebendo cerca de 90% de todo o volume de água que passa no rio Niágara e com quedas d´água de 53 metros mediamente. Embora as Cataratas do Niágara não sejam muito altas, ganham dimensão em largura, sendo que as cataratas do lado canadense têm 671 metros de comprimento. Todo esse espetáculo natural fica a pouca distância do ponto de observação do lado canadense, de onde se tem uma vista panorâmica de tirar o fôlego. O barulho ensurdecedor das potentes quedas d´água não permitem que sejam mantidas as conversas, mas seria impossível mesmo conversar enquanto se vê um dos espetáculos naturais mais impressionantes do mundo. Também é interessantíssimo visitar as cataratas à noite, pois quando o sol se põe elas costumam receber iluminação artificial, formando um colorido incrível.

No lado canadense, é legal fazer o passeio que percorre alguns tuneis construídos nas pedras por detrás das cataratas, parando nos pontos de observação previstos no percurso, de onde os visitantes podem apreciar as cataratas da parte baixa das quedas d´água, tendo uma nova perspectiva desse espetáculo natural. Outra forma de apreciar as cataratas de pertinho é através do passeio de barco, que chega bem perto das quedas d´água. Desta forma, é possível sentir toda a força das quedas d´água e acabamos nos sentindo minúsculos diante da grandiosidade das cataratas. A adrenalina do passeio de barco é incrível, mas o embasbacamento em ver uma das maiores cataratas do mundo bem na sua frente é indescritível. Tem que viver para saber!