Bonito
É bonito, é bonito e é bonito

Atire a primeira pedra o/a over 40 que não tenha na ponta da língua o refrão da música O Que É, O Que É? do Gonzaguinha. Apaixonada que sou, sei quase toda a música de cor, mas para resumir, lembremos apenas aquele trechinho “eu sei, eu sei que a vida devia ser bem melhor e será, mas isso não impede que eu repita, é bonita, é bonita e é bonita”. Com tantas mazelas nesse mundo de Covid-19, como não lembrar dessa música quando nos deparamos com as inigualáveis belezas naturais de Bonito? Esse santuário natural localizado em Mato Grosso do Sul é tão encantador que não poderia ter recebido um nome mais apropriado. É Bonito!

E nesse período em que a vacinação finalmente avança em nosso país, é justamente a melhor época para visitar Bonito! Entre os meses de maio e setembro as chuvas dão uma trégua na região, permitindo que as águas sempre cristalinas das cachoeiras e rios atinjam o seu auge, proporcionando uma visibilidade ímpar. Sim, as temperaturas são mais frias e os banhos de cachoeiras acabam exigindo um pouco mais de coragem, mas o fato de encontrar esse pequeno paraíso natural menos muvucado e ainda mais bonito compensa em muito a temperatura mais fria das águas. Então, vamos lá porque é hora de viver e não ter a vergonha de ser feliz!

Do cerrado pantaneiro a polo do ecoturismo

O município de Bonito é parte do Parque Nacional da Serra da Bodoquena, que também abrange os municípios de Jardim, Porto Murtinho e Bodoquena, mas ganhou vida própria e fama internacional como um dos maiores polos de ecoturismo no Brasil, atraindo centenas de milhares de visitantes anualmente.

O pequeno município de pouco mais de 20 mil habitantes nasceu a partir das terras da Fazenda Rincão Bonito. Já na Fazenda Anhumas, após um incêndio de grandes proporções nas áreas da fazenda nos idos dos anos 1970, um peão e seu filho descobriram um grande buraco no chão, cuja profundidade atingia mais de 70 metros. Esse buraco ganhou o nome de Abismo de Anhumas e viria a se tornar uma das maiores atrações turísticas da região.

Graças a uma parceria bem-sucedida entre órgãos governamentais, empresas privadas e ONGs, Bonito se tornou um dos mais importantes polos do ecoturismo no Brasil e referência internacional. Com controle rígido de número de visitantes e de tempo de permanência em cada uma das atrações, bem como outras regras de preservação ambiental, Bonito consegue explorar de forma sustentável o turismo na região. Mesmo os fazendeiros, que foram os mais resistentes, passaram a vislumbrar o potencial turístico do lugar e alguns deles até adaptaram suas propriedades para receber visitantes, oferecendo passeios e trilhas pelo interior das fazendas.

Águas Cristalinas

Anualmente, milhares de pessoas são atraídas a Bonito por causa das águas cristalinas de seus rios e cachoeiras. A cristalinidade dessas águas se deve à sua origem de rocha calcária e atinge o seu ápice exatamente nesse período do ano, quando começa a época da seca na região. Durante o período da primavera/verão, as águas se tornam mais turvas por causa das chuvas, mas nada que impeça os visitantes de se embasbacarem com a transparência de rios e cachoeiras.

Uma das experiências mais marcantes de Bonito para os amantes de ecoturismo é justamente nadar ao lado de cardumes de peixes no Rio Sucuri. Na verdade, graças à ajuda de máscara, snorkel e roupa de neoprene, a experiência é de flutuar ao lado dos peixes ao longo do rio, uma atração acessível até mesmo para quem não sabe nadar. O controle do ecossistema é tanto que os peixes não se agitam e nadam tranquilos em companhia dos hóspedes humanos. A beleza da vegetação subaquática em contraste com o azul das águas também merece a atenção dos visitantes. Mas se a ideia for mesmo se sentir dentro de um aquário, a melhor pedida é correr para a nascente do Rio Baía Bonita, que passou a ser conhecida como Aquário Natural. Lá os visitantes podem flutuar por 20 minutos ao lado de cardumes de tranquilos Piraputangas, peixe típico da região que se alimenta sobretudo de vegetação e precisa de águas límpidas para viver.

Já para os corações mais aventureiros, o Rio Formoso oferece experiências mais radicais, como a prática de rafting. Descer as correntezas do rio a bordo de um bote é um dos passeios mais divertidos de Bonito. São cerca de 5 quilômetros de trajeto passando por cachoeiras e vivendo muita adrenalina ao descer uma corredeira, com a premiação de uma parada para banho ao final do percurso. Também é possível encarar um outro percurso de boia-cross, mas o incômodo de se “instalar” na boia já foi suficiente para a minha preferência pelo bote. A área dedicada à prática de rafting e boia-cross fica na estrutura do Parque Ecológico, onde é possível descansar, almoçar e até fazer uma cavalgada para ver com calma a bela vegetação do lugar.

Outra forma incrível de apreciar toda a beleza do fundo das águas cristalinas de Bonito é mergulhando na Lagoa Misteriosa. Localizada próxima ao Rio da Prata, a lagoa fica aberta para passeios apenas entre abril e outubro, pois quando a época das chuvas começa, as águas ficam turvas e não se tem a mesma visibilidade do fundo da lagoa. Aliás, o tom azul turquesa da Lagoa Misteriosa é justamente o motivo que mais causa embasbacamento aos seus mergulhadores! Mesmo quem nunca mergulhou antes pode se batizar nesse lugar mágico para apreciar toda a beleza da caverna e se encantar pelos mistérios da lagoa. Já os mergulhadores experientes, podem descer até 25 metros de profundidade e apreciar melhor as rochas dessa caverna subaquática de 220 metros de profundidade, sendo uma das mais profundas do Brasil. Mas o Rio da Prata é democrático e também acolhe não mergulhadores e, até mesmo, pessoas que não sabem nadar, oferecendo a opção de flutuação pela parte rasa de suas águas ao lado dos peixes da região.   

O crème de la crème de Bonito

Em um lugar como Bonito fica difícil escolher a melhor ou as melhores atrações, pois cada uma delas tem a sua particularidade e esbanja beleza, mas ouso selecionar duas atrações que podem ser consideradas imperdíveis, seja por causa da beleza ímpar seja pela importância para a atração de turistas. Então, vamos às atrações must see dessa região incrível.   

O Abismo Anhumas é uma das maiores e mais incríveis atrações de Bonito. Essa caverna, descoberta meio que por acaso na década de 1970, só foi aberta à visitação pública em 1999, após anos de preparação para fornecer segurança aos seus visitantes. Com uma profundidade de 70 metros, o abismo somente pode ser acessado através da prática de rapel, o que limita algumas pessoas de acessá-lo, mas os instrutores são muito bem treinados e atenciosos na condução das descidas e subidas. Contando com um equipamento de elevação, os visitantes não precisam se esforçar para a descida, basta se agarrar ao cabo de aço e deixar que o motor elétrico faça o “trabalho duro”. Para quem não tem medo de altura, esse momento é ideal para apreciar de pertinho as estalactites em suas diferentes formas. Ao chegar no fundo da caverna, é impossível não se encantar com o tom verde-esmeralda das águas cristalinas do lago do abismo. E se a visita for entre os meses de dezembro e janeiro, a experiência fica ainda mais especial, pois nesse período um facho de luz entre pela fenda da caverna iluminando as águas e dando-lhes uma coloração ainda mais bonita. Uma plataforma flutuante foi construída para os visitantes sobre o lago, onde é possível tirar fotos incríveis e apreciar a beleza ímpar do lugar. Para quem tem certificado de mergulho, é possível mergulhar até 18 metros de profundidade, possibilitando a experiência de ver de pertinho os enormes cones de calcário submersos que fazem a fama do abismo. Mas mesmo sem mergulhar a experiência no abismo é magnífica, podendo fazer o passeio de contemplação em um bote, através do qual se vê os detalhes das diversas formações rochosas do interior da caverna com muita tranquilidade.

A outra atração must see de Bonito é a estupenda Gruta do Lago Azul. Com fácil acesso, essa atração é imperdível para qualquer pessoa que não tenha limitação de locomoção. A caverna fica a uma distância de 21 quilômetros de Bonito, sendo necessário percorrer uma trilha de 200 metros até a cavidade da caverna, de onde começa a descida por uma escadaria de cerca 300 degraus até a chegada ao lago azul. Se para descer todo santo ajuda, a volta é mais complicada, mas os guias fazem algumas paradas para descanso. Durante o percurso pela escadaria, é possível admirar as formações geológicas, com os espeleotemas de diferentes formas e tamanhos artisticamente lapidados pela natureza em milhares de anos. A beleza das formações rochosas é tamanha que nem se sente o cansaço do percurso. Ao chegar no fim da escadaria, nos deparamos com o estupendo lago de água azul turquesa. Não é permitido entrar na lagoa, mas poder admirar a beleza ímpar do interior da caverna com as águas cristalinas em tom de azul turquesa já é um privilégio e tanto para os visitantes da gruta. No período do dia em que um feixe de luz ilumina o interior da gruta, é possível avistar as pedras que estão no fundo da lagoa, a mais de 70 metros de profundidade. Pesquisadores já descobriram que o fundo da lagoa guarda fósseis de animais pré-históricos e estima-se que a formação geológica da gruta tenha cerca de 10 milhões de anos. Numa classificação pessoal das diversas atrações de Bonito, a Gruta do Lago Azul é, certamente, a que eu classificaria como nº 1. Imperdível!

As grutas secas

Além da famosa Gruta Azul, Bonito conta com outras cavernas belíssimas e com fácil acesso para os visitantes, inclusive crianças, desde que não tenham dificuldades de locomoção. É claro que a beleza estonteante da Gruta Azul acaba ofuscando as suas vizinhas, mas vale muito a pena dedicar um tempo para visitar as outras grutas da região e se deixar encantar pelas singularidades das suas formações rochosas.

A Gruta São Mateus está localizada bem próxima do centro de Bonito e conta com a particularidade de ter entrada e saída diferentes, de modo que os visitantes fazem todo o percurso sem retornar para o lugar de onde partiram. O interior da gruta encanta com as diversas formas de estalactites, estalagmites e coraloides, que são pequenos nós formados nas superfícies de pedra calcária. Ao final do passeio pela gruta, vale a pena parar para conhecer o pequeno Museu Kadiwéu, que fica na estrutura receptiva da gruta. O acervo do museu é formado por objetos antigos que contam a história de Bonito e foram doados pelos moradores da cidade, além da exposição de animais da região empalhados.

Se assim como eu você não se cansar de ver estalactites, estalagmites e coraloides, vale a pena dedicar mais algumas horinhas para visitar a Gruta de São Miguel. Localizada próxima à Gruta do Lago Azul, a São Miguel acaba ficando um pouco ofuscada, mas a variação e beleza de suas formações rochosas são de encher os olhos. O interior da caverna é parcialmente iluminado e através de um fácil e breve percurso de apenas 200 metros, é possível apreciar de perto a arte da natureza esculpida em milhões e milhões de anos. Mesmo não sendo uma grande amante de arqueologia, foi impossível não me deixar envolver com a história da caverna, que remonta à época Pré-Cambriano, de mais de 4 bilhões de anos atrás.

Bonito, além da aventura

Se nesse momento você está imaginando que Bonito deve ser um lugar legal, mas que não é para você porque te falta um certo espírito aventureiro ou a sua preferência é mesmo por umas férias relaxantes e sem esforço, saiba que Bonito também é para você! Ao longo dos anos, Bonito vem desenvolvendo cada vez mais atrações tranquilas, que podem ser aproveitadas por qualquer pessoa, inclusive por famílias com crianças pequenas.

Uma boa pedida é a Praia da Figueira, uma tranquila praia de lagoa que conta com total infraestrutura para os visitantes. Com charmosos quiosques imersos na água, a Praia da Figueira é a mais bacana para curtir um dia tranquilo na região. Lá também é possível passar o tempo passeando de caiaque pela lagoa ou encarando uma divertida tirolesa. Bonito conta com outros balneários, como o Balneário do Sol e o Balneário Municipal, este localizado às margens do Rio Formoso, mas o Balneário de Figueira é aquele com mais atrações para entreter os seus visitantes por todo um dia.

Outro passeio inesquecível de Bonito é visitar o Buraco das Araras à tarde. Localizado nas proximidades do Rio da Prata, esse buraco de 105 metros de profundidade surgiu da erosão das rochas e abriga diversas araras, cujos ninhos nas paredes rochosas podem ser avistados pelos visitantes, através de dois mirantes estrategicamente localizados que permitem ótima visibilidade dos pássaros. Quando as araras regressam para seus ninhos enchem os olhos e ouvidos dos visitantes, com seus voos rasantes e seus cantos que ecoam pelo buraco. A beleza do espetáculo é tamanha que não precisa ser um ornitólogo ou um birdwatcher para se encantar com a contemplação das araras, especialmente as vermelhas, que abrigam o lugar.

Uma boa forma de passar o dia em contato com a estupenda beleza natural de Bonito, mas de forma tranquila, é visitando as fazendas que se renderam ao ecoturismo e abriram suas porteiras para os visitantes. Além da visitação, as fazendas oferecem almoços típicos para os visitantes, valendo a pena se entregar ao prazer de experimentar pratos regionais preparados em fogão a lenha, como os ensopados de piraputangas e a sopa paraguaia. Dentre essas propriedades, destacam-se a Fazenda Boca da Onça e a Fazenda Estância Mimosa.

A Fazenda Boca da Onça é uma das pioneiras do ecoturismo e conta com a Cachoeira Boca da Onça no interior de sua propriedade. A queda d´água de 156 metros de altura é a maior da região e um espetáculo que por si só já vale o passeio. O lugar conta também com ótima assistência receptiva e uma trilha de 4 quilômetros pela Serra da Bodoquena. Os visitantes podem nadar no Buraco do Macaco, uma piscina natural formada pela cachoeira que deságua numa pequena gruta. A Estância Mimosa é outra fazenda que se rendeu ao ecoturismo. No interior da propriedade os visitantes podem fazer uma trilha leve de 3 quilômetros, através da qual se passa por uma série de 7 cachoeiras, podendo fazer paradas para banhos nessas cachoeiras. Ao fim do percurso, as redes estrategicamente colocadas no entorno da casa sede são um convite para um descanso ao som do canto dos pássaros, em perfeita harmonia com a natureza exuberante de Bonito.