Grécia, berço da civilização – SuoViaggio Edição n. 5
Zélia Rodrigues - PublisherRevistas Publicadas Europa, Grécia, Revistas 2015
Grécia, berço da civilização
Nesta edição o tema é a Grécia, mais especificamente a capital Atenas e as principais ilhas cíclades. Berço da civilização moderna, a Grécia tem muita história para contar em cada uma das suas relíquias arqueológicas, algumas tão bem preservadas que parece inimaginável que tenham mais de 2.500 anos!
O país é repleto de ilhas, são mais de 6.000 no total! Claro, que só uma pequena parte é habitada, cerca de 230. As ilhas mais famosas e desenvolvidas para o turismo são as das cíclades, sendo Delos a ilha sagrada, ao redor da qual circundam as demais ilhas.
Ao escrever sobre a Grécia me bateu aquela nostalgia… Apesar de suas mazelas econômicas, sobretudo graças aos maus governantes, a Grécia é um país incrível e rico em tradições e beleza natural. O povo é gentil e hospitaleiro, mesmo falando um idioma totalmente incompreensível!
O meu conselho para quem ainda não visitou a Grécia é: vá! E para aqueles que já tiveram a oportunidade de visitá-la é: volte!
A Grécia merece ser visitada e revisitada quantas vezes forem possíveis!
Grécia
História, Antiguidade e MarSendo formada em Direito e grande curiosa por temas ligados à história e filosofia, a cultura grega me acompanha há anos. Somando a esses interesses a grande paixão que tenho pelo mar, a Grécia era um destino de viagem mais do que desejado, era necessário.
Em 2013 decidi festejar o meu aniversário na Grécia, para desespero do meu marido que é acostumado a baixas temperaturas e temia o auge do verão grego. Mas, me valendo do poder de persuasão feminino, o convenci de que não sofreria muito com o calor e, assim, desembarcamos em Atenas em julho, quando fomos recepcionados por uma temperatura de 37 graus! Mas graças aos bons deuses gregos, o clima local é bastante seco e constantemente ventilado.
Passei 3 dias em Atenas, perambulando pelo centro da cidade e me encantando com a hospitalidade e simpatia dos gregos, a exceção dos funcionários públicos e motoristas de táxi. Caminhei pelas ruas do centro administrativo e passei pelo Parlamento, palco de frequentes manifestações contra a política econômica, mas naquele dia o único “tumulto” que presenciei foi o de centenas de turistas chineses que desembarcavam em um ritmo frenético dos ônibus que estacionavam de frente para o parlamento. Para escapar da invasão chinesa, fui visitar o pouco conhecido Museu de Arte Cíclade, instalado em uma bela casa na parte residencial da cidade. Fundado por Dolly Goulandris com a rica coleção privada que amealhou em conjunto com o seu marido, Niko, ao longo de vários anos, conta com obras que remontam ao período de 3.000 a.C., constituindo o maior acervo de objetos das cíclades do mundo. Dediquei algumas horas do meu dia para entender melhor a história e cultura antiga daquele povo, através do rico acervo do museu. Para fechar a noite, nada melhor do que um jantarzinho tipicamente grego, onde a palavra de ordem foi… exagero! Estava faminta e pedi o que seria razoável para uma pessoa que havia caminhado por horas, mas no momento em que o garçom quase precisou de uma mesa extra para servir os pratos, me dei conta de que a expansividade dos gregos é transmitida em seus pratos. Como um dos meus maiores prazeres é comer bem, mandei ver sem medo de ser feliz!
O dia seguinte foi dedicado às duas maiores atrações da cidade: a Ágora Antiga e a Acrópole. Viajei no tempo enquanto caminhava pelas ruínas da Ágora Antiga, berço da democracia ocidental, onde os atenienses se reuniam para discutir os assuntos da cidade. A minha viagem no tempo foi bruscamente interrompida por uma funcionária do local que gritava que os portões seriam fechados. Superado o choque de realidade e de volta ao presente, segui morro acima a caminho da Acrópole, situada a 150 metros acima do nível do mar! Quando me deparei com o Parthenon, o cansaço sumiu e voltei novamente a viajar no tempo, imaginando como foi possível construir naquela época uma obra de tamanha magnitude. Mas se me embasbaquei com o Parthenon e me encantei com o Teatro de Dionísio, fiquei sem palavras quando cheguei perto das incríveis cariátides – estátuas de mulheres substituindo colunas – do templo de Erecteion. A riqueza de detalhes é impressionante, sobretudo para uma construção do século V a.C.! Lá de cima, olhei para a Ágora Antiga logo abaixo e, mais ao fundo, para a parte moderna da cidade de Atenas, pensando em como um povo que nos deixou os valiosos ensinamentos de Sócrates, Platão, Aristóteles, Epicuro, Pitágoras, Arquimedes e tantos outros pôde não ter evoluído com a sociedade moderna. Infelizmente, a civilização moderna não produziu um novo Sócrates, capaz de nos ajudar na busca de resposta para essa questão.
Na minha última noite em Atenas jantei no restaurante do terraço do hotel, cuja vista da Acrópole iluminada e vigiada pela lua cheia, conferia um espetáculo à parte! Confesso que não me lembro o que comi, mas jamais me esqueci da vista maravilhosa que me acompanhou naquele jantar.
Após visitar as obras dos povos das cíclades, me senti apta para fazer a exploração de campo e parti para Mykonos, a primeira das ilhas cíclades que visitei. Famosa em todo o mundo por suas intermináveis baladas, optei por ficar em um hotel pé na areia de frente para a praia de Platis Yialos, na parte mais tranquila da ilha. A praia é uma das mais bonitas de Mykonos, com areia branquinha e um mar azul e calmo, tão calmo que até parecia uma grande piscina! O tour do primeiro dia foi intenso, entre a praia, a piscina e a cama do terraço. Sim, eu disse cama. Não era uma espreguiçadeira, era realmente uma cama de casal adaptada para a varanda! Deitar ali com o barulhinho do mar e aquela imensidão de beleza foi uma das coisas mais relaxantes que eu poderia ter feito em Mykonos. Mykonos?! A ilha das baladas, com a galera jovem dançando semi nua até amanhecer? É, isso realmente acontece, mas na praia apropriadamente chamada de Paradise, localizada no lado oposto de Platis Yialos. O único sinal de badalação e bebedeira que presenciei foi ver algumas moças e rapazes retornarem para o hotel, enquanto eu tomava café da manhã na varanda. Aliás, é muito simples encontrar uma praia deserta em Mykonos, basta ir a qualquer praia entre às 8 da manhã e às 4 da tarde, porque o movimento nas praias só começa no final do dia, quando a galera começa a acordar, graças ao peculiar fuso horário local.
Aproveitei a estadia em Mykonos para visitar o parque arqueológico da ilha de Delos, localizada a meia hora de barco do porto de Mykonos. Conhecida como a ilha dos deuses, lá teriam nascido os filhos de Zeus, Apolo e Artemis. Além dos templos dos deuses gregos, é possível visitar várias preciosidades arqueológicas em Delos, como 5 dos 9 leões de mármore, esculpidos há mais de 2.600 anos para proteger o Lago Sagrado onde teria nascido Apolo. Hoje, o lago está seco e os leões vistos lá são réplicas, pois os originais estão guardados no museu da ilha. Outras atrações imperdíveis de Delos são o Teatro, a Casa de Dionísio e a Casa de Cleópatra. Mas, na verdade, acho que tudo lá é imperdível! Claro que caminhar por Delos não é fácil, sobretudo no verão, pois não há nenhum ponto de sombra em toda a ilha e existem algumas subidas íngremes, como a que nos conduz ao Santuário de Zeus, no ponto mais alto da ilha. Parei várias vezes durante a subida pensando que não iria conseguir chegar ao topo, mas a vontade de “conquistar” Delos foi mais forte e consegui. Cheguei exausta, é verdade, mas bastaram poucos minutos de vista exuberante para eu esquecer o cansaço da subida. Feliz por ter vencido o calor e o cansaço, visitei todo o sítio arqueológico de Delos, que não por acaso, é parte da lista de Patrimônio da Humanidade da UNESCO desde 1990.
De Mykonos fui para a pequena ilha de Ios, pouquissíma conhecida pelos brasileiros, mas igualmente linda! Lá optei por um charmoso hotel boutique na praia de Mylopotas. O hotel parece um labirinto, pois são várias áreas separadas que compõem a belíssima estrutura. O meu quarto se localizava na parte mais alta do hotel. Assim que entrei, corri para a varanda. A vista é para fazer qualquer pessoa se embasbacar. Eu tinha o mar azul turqueza logo ali! Quando o fim do dia chegou, sentei na varanda, abri uma garrafa de um dos melhores espumantes italianos (sempre carrego um na mala) e me entreguei ao dolce far niente… Em lugares como Ios, problema ou estresse são palavras inúteis, porque não se conhece o significado das mesmas. No dia seguinte, visitei o centrinho da ilha, com aquelas ruazinhas tipicamente gregas, onde se perder parece ser a regra. Na volta, passei pela praia antes de retornar ao hotel e relaxar no Spa, com uma massagem tão relaxante que me adormentei e nem vi a hora passar. Me apaixonei por Ios! Poderia ter ficado ali por todo o verão, mas Santorini me aguardava.
O único meio de transporte entre Ios e Santorini é o ferry. O problema é que naquele dia a linha de ferry que conecta as ilhas da região teve um problema, gerando horas de atraso! Infelizmente, perrengues podem acontecer em todas as viagens. Avisei ao escritório da Click Holidays sobre o novo horário previsto para a minha chegada em Santorini, que prontamente reorganizou o horário do serviço de transfer e chegada no hotel. Imprevistos como esse podem acontecer em qualquer lugar e em qualquer tipo de viagem, mas o que faz a diferença nessa hora é como e por quem a viagem foi organizada. Cheguei ao porto de Santorini depois da meia-noite, mas mesmo naquele horário o motorista me aguardava com um belo sorriso de boas-vindas no rosto e água gelada dentro do carro, pois como fazia calor imaginou – corretamente – que eu chegaria cansada e sedenta. Quando cheguei ao hotel Mystique, um dos melhores de Santorini, fui recebida por um simpático rapaz que me conduziu até a minha suíte. Qual foi a minha surpresa quando vi a hidromassagem pronta para uso! Naquele instante o estresse gerado pelo atraso do ferry se dissipou entre uma e outra gota de água morna. Preenchi o cardápio para o café da manhã do dia seguinte e fui dormir. Dormi tão profundamente que acordei com o barulho dos dois garçons chegando à varanda para servir o café da manhã! Havia agendado o café para às 9 da manhã e os rapazes chegaram pontualmente, muito preocupados se eu queria o chocolate quente ou frio, pois eu não havia especificado no formulário que deixei preenchido de madrugada no lado externo da porta. Bom, naquele dia tomei café da manhã o dia inteiro, porque acabei pedindo tantas coisas que faltou fome. Como era o dia do meu aniversário, decidi ficar de bobeira no hotel… Me revezei entre a piscina com borda infinita e vista para o mar Egeu, a hidromassagem com vista para o mar Egeu e uma cochilada sonhando com o mar Egeu. Quando a noite começou a cair, estava pronta para o meu jantar à luz de velas no restaurante com… vista para o mar Egeu! A reserva para aquela noite já havia sido feita, não sabia exatamente o que esperar, mas me senti feliz e, talvez, invejada, quando cheguei ao restaurante lotado e vi que a mesa mais bem posicionada estava reservada para mim! O sommelière me recomendou um vinho que se harmonizava perfeitamente ao meu prato, ambos excelentes. O jantar transcorreu maravilhosamente bem, sempre com um serviço discreto e impecável. Essa foi, definitivamente, uma das mais belas comemorações de aniversário da minha vida!
No dia seguinte saí da toca e fui explorar Santorini. Comecei pela vila de Oia, onde estava hospedada. Visitei a famosa igreja com a cúpula azul, passei pelos muitos moinhos de vento e flanei pelas ruelas da vila. Quando o fim do dia chega, Oia lota de viajantes em busca do pôr do sol mais bonito da ilha. E vale mesmo a pena, porque o pôr do sol visto de Oia é de tirar o fôlego! Abaixo de Oia está Fira, considerada a capital de Santorini. É a principal e mais movimentada vila da ilha, com várias opções de hoteis e restaurantes, além de lojas, bares e gelaterias. Fira com todo o seu movimento noturno é o local preferido dos jovens, enquanto Oia, por conta da sua exclusividade, é mais apropriada para as pessoas um pouco mais velhas e casais, sobretudo em lua de mel.
Confesso que não pude dedicar muito tempo às praias de Santorini. Red Beach é a praia mais famosa, por causa da particularidade da cor de sua rocha. De lá é possível ir de barco para a White Beach, muito agradável para passar algumas horas. Mas para aqueles que preferem um lugar mais tranquilo para relaxar, as vizinhas praias de Kamari e Perissa, localizadas a cerca de 10 km ao sudeste de Fira, são excelentes escolhas.
Após 12 dias na Grécia, me encantando com as várias riquezas históricas, arqueológicas e naturais, me despedi de Santorini – e da Grécia – com o sentimento de “quero mais”. Foi, sem dúvida, uma das viagens mais especiais que já fiz na vida. Na bagagem, levei muito aprendizado, novas experiências e, de quebra, um bronzeado típico de quem foi agraciada por uma melanina potente… αvτίο, Ελλάδα!