Verona x Veneza
O amor está no ar

Temperatura caindo, muitos coraçãozinhos enfeitando a cidade e longas horas pensando no programa para a tão aguardada Noite dos Namorados. Bom, considerando que as comemorações ocorrem à noite, acho que o Dia dos Namorados, deveria se chamar a Noite dos Namorados. Enfim, deixando de lado as reflexões inúteis, o que importa mesmo é o clima de romance do mês de junho. Cada um encontra a sua forma de comemorar essa data tão especial… pode ser um jantar romântico à luz de velas num restaurante bacana – depois de 2 horas de fila, já que os restaurantes não aceitam reserva para a data –, uma viagem para alguma pousada romântica ou, para quem dispõe de maior disponibilidade de tempo e dinheiro, uma viagem a alguns dos lugares mais românticos do mundo. Se, assim como eu, você se cansou das filas intermináveis debaixo de frio e garoa para ter um jantar romântico e não pode ir a uma pousada romântica e aconchegante porque tem que trabalhar, te convido a embarcar nessa viagem por duas das cidades mais românticas de todo o mundo.

Verona – A cidade do maior romance de todos os tempos

William Shakespeare elegeu a cidade de Verona para ambientar o seu romance sobre Romeu e Julieta. Sabia das coisas esse velho inglês! Na minha opinião, ele não poderia ter escolhido lugar melhor e mais romântico para o romance do jovem casal apaixonado pertencente a famílias rivais. Mais de quatro séculos depois, a história de Romeu e Julieta continua a fazer parte do imaginário – e roteiro – dos visitantes da cidade. A casa de Julieta, localizada no centro histórico da cidade, é uma das maiores atrações turísticas de Verona. O balcão de onde Julieta aguardava o seu Romeu serve de cenário para as Julietas de um dia. Embaixo, fica o pequeno jardim de onde Romeu fazia suas incontáveis juras de amor. O interior da casa tem como ponto alto o quarto de Julieta, onde é possível imaginar a jovem apaixonada a espera de seu amado, sonhando com o fim do ódio entre suas famílias para, então, poderem se casar e serem felizes para a sempre, como reza a cartilha dos contos de fadas. Quisera, porém, o destino – sob as mãos de Shakespeare – que esse conto de fadas tivesse um final diferente e trágico. Julieta toma uma poção que a faz parecer morta, mas quando Romeu a encontra pensa que sua amada está realmente morta, então, desesperado, se envenena. Quando Julieta desperta de seu sono profundo, encontra o corpo de seu amado sem vida, então, num ato de dor dilacerante pela perda de seu amor, apunhala o próprio coração para morrer junto ao seu Romeu. Apenas com a morte, Romeu e Julieta puderem, finalmente, ficarem juntos e eternizarem o seu amor.

Embalada pelo clima de romance da célebre história de amor proibido de Romeu e Julieta, deixei a casa de Julieta e fui caminhando em direção a Piazza delle Erbe, enquanto o meu cérebro imaginava a jovem apaixonada fazendo esse mesmo caminho e suspirando por Romeu. Imaginei o frenesi do mercado que acontecia na praça, dos senhores ilustres andando em direção ao Palazzo del Podestà, das senhoras descansando na Fontana Madonna… Sentada em um caffè, me pus a imaginar quantas histórias de amores proibidos guardavam as pequenas ruas e praças do centro histórico de Verona. Quantos Romeus e quantas Julietas tiveram seus amores sufocados pela intolerância de seus pais? Quantas tragédias poderiam ter sido evitadas se prevalecesse sempre o amor genuíno das pessoas? Perdida em meio a tantas divagações, peguei a direção do Museu dos Afrescos, onde fica a tumba de Julieta e teria ocorrido o fim trágico desse belo e comovente romance. E, embora soubesse se tratar “apenas” de um romance, não pude conter as lágrimas imaginando o triste fim do jovem casal de apaixonados.

Enfim, o cenário romântico de Verona teria inspirado Shakespeare a escrever um dos maiores romances de todos os tempos, enquanto a obra de Shakespeare teria contribuído para Verona ficar ainda mais romântica. Fato é que Verona está entre as cidades mais românticas e bonitas da Itália – e do mundo.

Veneza – A cidade de muitos amores em muitos canais

Se Verona guarda a inocência do romance proibido de Romeu e Julieta, Veneza guarda os segredos – nem tão secretos assim – de Giacomo Casanova, o James Bond de Veneza. Enquanto Verona respira um grande amor puro, Veneza exala muitos amores. Não sem merecer, Veneza avança ao longo dos séculos como uma das principais metas para casais apaixonados, presente em todos os rankings das cidades mais românticas do mundo. Afinal, quem resiste ao charme dos pequenos canais venezianos vividos em um passeio de gôndola? Eu mesma não resisti aos encantos venezianos e dei uma passadinha por lá durante a minha lua de mel.

O coração de Veneza é a Piazza San Marco, onde fica a magnífica basílica com o mesmo nome, guardada pelas quatro esculturas em bronze de cavalos. Atualmente, as esculturas que ficam na fachada da basílica são réplicas, pois as originais estão protegidas dos efeitos da deterioração do tempo no museu que fica no interior da basílica. Do alto de seu campanário se tem uma bela vista do Canal Grande e da sempre movimentada praça logo abaixo. Aliás, perambular pela San Marco, mesmo com o furdunço constante, é uma delícia. Caminhar sob os arcos dos palácios que circundam a praça entretida com as vitrines das lojas, se sentar em um dos bares ou restaurantes e apreciar o movimento, isso é vivenciar Veneza. Também é ali que fica a outra grande atração da cidade, o Palazzo Ducale. O complexo arquitetônico do século IX era o símbolo do poder político e econômico do ducado veneziano, na época em que Veneza formava um poderoso império mercante. Mas, mesmo com afrescos de Tintoretto, o que mais fascina do prédio é a Ponte dos Suspiros, que no passado ligava o palácio do duque à prisão. Segundo reza a lenda, os prisioneiros, ao passar pela ponte e ver o canal grande, suspiravam pelo vislumbre de liberdade, antes de serem trancafiados nos calabouços da prisão. Lenda ou realidade, não sei. Só sei que a ponte realmente transmite algo de especial. Mas, se durante o dia a praça já é um espetáculo, é à noite que a San Marco revela o pleno da sua magia. Iluminada, com o som das orquestras dos cafés embalando os casais apaixonados, fica difícil não se render aos encantos de Veneza. Até mesmo o(a) solteiro(a) mais convicto(a) se apaixonaria nesse cenário de blockbuster açucarado! A saudável rivalidade entre as orquestras dos tradicionais cafés Florian e Quadri rendem uma diversão a mais na noite veneziana – que poderia nunca terminar.     

E, para finalizar essa viagem pelos canais e amores venezianos, não poderia deixar de fazer o famoso passeio de gôndola. Clichê ou não, fato é que é impossível visitar Veneza e não fazer esse passeio incrível. É bem verdade que o clima de romance se perde um pouco quando o gondoleiro passa pelo Canal Grande, sempre muvucado, especialmente nas imediações da Ponte Rialto. Mas, basta alguns metros de navegação para chegar aos pequenos canais que consagraram Veneza como a cidade dos romances. Passar sob as pequenas e charmosas pontes venezianas enquanto o céu vai mudando de cor ao entardecer é, sem dúvida, um dos melhores programas a se fazer na cidade. Em meio a esses pequenos canais, é possível ver muitos monumentos importantes da cidade, além da casa de Casanova, o maior e mais famoso sedutor italiano. E é assim, entre pequenos canais e suas muitas pontes, que Veneza é mais Veneza. E o amor? Ah, o amor está no ar!