Ligúria encantadora – SuoViaggio Edição n. 8
Zélia Rodrigues - PublisherRevistas Publicadas Europa, Itália, Revistas 2015
Ligúria encantadora
Para essa oitava edição de SuoViaggio trazemos um dos destinos mais encantadores da Itália, a Ligúria. A costa ligure é dividida entre as rivieras Ponente e Levante, estando a capital Gênova localizada em uma posição bastante centralizada. Nesse artigo, exploramos a Riviera di Levante, a qual abriga cidades famosas em todo mundo como Portofino e as Cinque Terre.
Não importa o quanto eu viaje pela Itália, sempre fico com a sensação de que conheço muito pouco de cada região. Foi com essa sensação que retornei da Ligúria, pois com tantos lugares encantadores, sempre tem algo novo para ser descoberto e vivenciado.
Os atrativos da região são inúmeros: cidades lindas e encantadoras, mar exuberante, povo acolhente, clima agradável e comida maravilhosa.
Embarque com a gente nesse bela viagem pela Ligúria!
Ligúria
Entre o Mar e a TerraOlhando a Ligúria no mapa vê-se uma estreita faixa de terra, imprensada entre o mar e os alpes. A cidade de Gênova, localizada no centro da região, separa a costa entre as chamadas Riviera di Ponente, ao oeste de Gênova, e a Riviera di Levante, ao leste da capital da Ligúria. Seja ao oeste ou ao leste, a pequena região da Ligúria é repleta de cidadezinhas charmosas e tem um mar de tirar o fôlego de seus felizes visitantes.
Considerando a sua localização central, optei por Gênova para iniciar a minha viagem pela região. Importante cidade portuária da Itália, Gênova é uma cidade agitada em qualquer época do ano. Caminhar pelo seu centro histórico é se deparar a cada esquina com tesouros da arquitetura italiana, com destaque para o percurso pela famosa Via Garibaldi, uma rua tão importante e tão arquitetonicamente rica que foi declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 2006. Os palácios da Via Garibaldi serviram de referência de arquitetura moderna para várias cidades europeias, demonstrando a influência de Gênova no século XVI, período conhecido como “o século dos genoveses”. Hoje, os mais belos e importantes palácios sediam instituições governamentais e bancos, como o Palazzo Carrega Cataldi (número 4), sede da Câmera de Comércio; o Palazzo Angelo Giovanni Spinola, também conhecido como Palazzo Doria (número 5), construído pela família Spinola de banqueiros e, atualmente, de propriedade do Deutsche Bank; o Palazzo Podestà (número 7), de propriedade dos herdeiros do Barão Andrea Podestà, figura importante da política local no século XIX; o Palazzo Doria Tursi (número 9), sede da prefeitura; o Palazzo Rosso (número 18), construído pela família Brignole-Sale no século XVII, vindo a ser doado à cidade em 1874, junto com a coleção de arte da família para abrigar um museu de arte; e o Palazzo Bianco (número 11), que também foi de propriedade da família Brignole-Sale e sedia atualmente a pinacoteca da cidade.
A história da cidade de Gênova sempre esteve ligada ao mar, sendo o seu porto, o maior da Itália, um dos principais pontos de referência da cidade. O desenvolvimento econômico da região, desde a antiguidade, sempre passou pelo tráfego naval, gerando profissionais de altíssimo nível em todas as atividades relacionadas ao gênero. Não é fruto do acaso que um dos navegadores mais importantes da história é um genovês. Cristóvão Colombo, desde a sua juventude alimentava a ideia de que existia uma terra além do oceano, mas foi apenas em 1492 que conseguiu o financiamento dos reis de Castiglia e de Aragão para a sua maior empreitada, a qual culminou com a sua chegada na América. Vários monumentos do grande navegador foram erguidos em Gênova e em outras cidades da Ligúria. Para sentir um pouquinho da paixão pelo mar dos genoveses, vale a pena visitar o Galata Museo del Mare. O maior museu marítimo de todo o mediterrâneo retrata a história da navegação em 4 andares, sendo o terceiro andar dedicado à imigração dos italianos na América. Come se não bastasse a rica coleção de cartas naúticas e reproduções de diferentes tipos de embarcações, o museu ainda oferece aos seus visitantes uma espetacular vista do porto e da cidade do alto de seu terraço panorâmico! Após experimentar como é a vida de navegadores e marinheiros, que tal ver um pouquinho das belezas que habitam o fundo do mar? Construído na área do porto antigo, o Aquário de Gênova se tornou uma das maiores atrações turísticas da cidade, com diversão garantida para adultos e crianças. O maior aquário italiano abriga mais de 12.000 exemplares de 600 espécies diferentes, que vivem em ambientes que reproduzem exatamente seus respectivos habitats naturais. Babei pelos golfinhos que brincavam e, de vez em quando, faziam a felicidade da galera posando para as câmeras como grandes astros. Não queria mais sair dali! Também me encantei pelos pinguins, leões marinhos e arraias, mas confesso que senti um certo asco de algumas espécies assustadoramente estranhas que jamais tinha visto antes.
De todas as maravilhas de Gênova, morri de amores mesmo por uma em particular, a focaccia genovese! Quando me serviram pela primeira vez aquela espécie de pão não imaginei o vício ao qual seria sucumbida. Se aquela massa simples à base de farinha, azeite de oliva e sal já me fez cometer o pecado da gula, o que dizer quando me apresentaram uma das suas versões mais “requintadas”, a focaccia com cobertura de cebola?! Não existe receio de hálito forte que resista a uma “vera focaccia genovese alla cipolla”! Esqueci do hálito, da balança e de todo o mundo e me acabei de comer focaccia genovese!!!
Alguns quilos mais gorda, segui em direção à Riviera di Levante. Em apenas 1 horinha já estava chegando em Lavagna, estrategicamente localizada na metade da riviera, com fácil acesso a várias cidades bacanas da costa leste da Ligúria. Foi então que comecei a subir, subir, subir. Quando finalmente avistei o estacionamento do hotel e pensei que as intermináveis subidas haviam acabado, descobri que tinha que fazer mais uma subida… e a pé! De quem foi a ideia de escolher aquele lugar para se hospedar?! Quando cheguei ao topo, totalmente sem fôlego e arrependida pela “infeliz” escolha, ergui a cabeça e me deparei com uma vista deslumbrante do mar, de qualquer ponto do quarto ou da varanda a vista era maravilhosa. Que feliz ideia a de escolher aquele lugar para se hospedar, pois além de perder as calorias adquiridas com as várias focaccias, ainda fui premiada com uma vista incrível!
Feliz e com a energia recarregada, era chegada a hora de explorar outros locais da riviera. Parti para Santa Margherita Ligure, uma charmosa cidade balneária localizada na chamada costa dos golfinhos, a mais exclusiva da costa ligure. Embora o dia estivesse ensolarado, a água ainda estava muito fria para encarar um banho de mar, mas tudo ali era tão bonito que não faltaram atrativos para compensar a falta de banho de mar. Depois de um longo passeio no lungomare, me deliciei com um ótimo prato de trofie al pesto, o prato típico da região. A bela paisagem do lungomare conta ainda com o castelo, construído em 1550 para defender a cidade dos ataques de piratas, mas aberto somente em ocasiões especiais como exposições e recepções privadas.
O sol da manhã seguinte foi o companheiro perfeito para aproveitar Portofino, o pequeno balneário de apenas 2,5 km2 de extensão que ganhou fama mundial por se tornar o reduto de verão dos milionários europeus. Ao circular pelas pequenas ruelas da cidade, entre as vitrines de joalherias, de galerias de artes e de lojas de grandes grifes internacionais, já se tem uma ideia do poder aquisitivo do público local. Quando se chega ao porto, o olhar se confunde entre a beleza dos iates ancorados e a do mar azul de água cristalina. Mas se os iates são privados, o maravilhoso mar de Portofino está à disposição de qualquer um dos simples mortais que ali chegam. Uma excelente forma de desfrutar de tamanha beleza é contratando um passeio de barco pelo estupendo Golfo di Tigullio até San Fruttuoso, que tem acesso apenas pelo mar, onde é possível aproveitar a bela praia local e também visitar a Abadia de San Fruttuoso, construída entre os séculos X e XIII. De volta à terra, vale a pena visitar o Castello Brown, no alto da penínsola de Portofino. A posição estratégica do castelo, que outrora servira para as suas funções de fortaleza militar, hoje proporciona aos seus visitantes uma esplêndida vista do Golfo di Tigullio! E para quem tem disposição para caminhar, o passeio pelo Parque Natural que liga as cidades de Portofino a Santa Margherita Ligure é imperdível! Para fechar o dia com chave de ouro, um jantarzinho em um dos restaurantes da Piazzetta, para apreciar o colorido casario local entre um gole e outro de vinho. A pequena Portofino é assim, sempre um espetáculo, seja vista do mar seja vista da terra!
O final da minha estadia na Ligúria se aproxima, mas jamais poderia ir embora sem visitar os tesouros de Cinque Terre. O parque nacional das cinco terras, localizado na província de La Spezia, no extremo leste da Ligúria, é composto das cidadezinhas de Riomaggiore, Manarola, Corniglia, Vernazza e Monterosso al Mare. As Cinco Terras foram declaradas Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1997, o que contribuiu para a criação do Parco Nazionale delle Cinque Terre em 1999, a fim de proteger e conservar esse importante patrimônio natural italiano. É possível visitar Cinque Terre em apenas um único dia, mas para aproveitar melhor a beleza de cada vilarejo com o ritmo vagoroso que o lugar requer, é melhor quebrar a visita em pelo menos dois dias. Comecei pelo vilarejo de Riomaggiore, a porta de entrada a Cinque Terre pela parte leste. Logo de cara, na entrada do parque, me deslumbrei com a vista do vilarejo de casas coloridas espremidas entre as rochas e o mar. Depois de uma caminhada pelo interior de Riomaggiore, parti para Manarola a pé pela Via dell´Amore, uma pequena estradinha escavada entre as rochas, cuja entrada ostenta dois corações entrelaçados. A caminhada pela Via dell´Amore é curta, mas fiz questão de esticá-la ao máximo, parando aqui e ali para me deliciar com o barulho relaxante das ondas do mar batendo nas rochas ou para ouvir os cantores que se colocam no meio do percurso para tocar as melodiosas canções que amolecem todos os corações. Impossível não se apaixonar por um cenário desses! A Via dell´Amore foi muito castigada pelas fortes chuvas que assolaram a região entre 2011 e 2012, as quais causaram a interdição dessa maravilhosa estradinha entre setembro de 2012 até abril deste ano, mas para a felicidade de seus visitantes, já está reaberta. A caminhada de Riomaggiore foi leve e tranquila, mas perdi o fôlego mesmo quando avistei o belo cenário da pequena praia de Manarola, um espetáculo que inspira artistas profissionais e amadores. Quem não se encantaria ao ver o ritmo de vida dos habitantes do pequeno vilarejo, que se distraem jogando conversa fora sentados entre os barcos “estacionados” na frente das casas? Sim, ao invés de carros (proibidos na região), os moradores têm barcos e os “estacionam” na frente de suas casas. Corniglia é o vilarejo mais alto de Cinque Terre. Localizado em um promontório a 100 metros do nível do mar, requer maior preparo físico por parte daqueles que decidem fazer o percurso a pé, pois para chegar lá é necessário encarar uma escadaria com quase 400 degraus ou a subida por uma estrada igualmente cansativa. Eu optei pelo trem e, assim, cheguei a Corniglia sem nenhum cansaço e pronta para apreciar a vista maravilhosa que se tem do alto desse vilarejo. Usando e abusando dos trens que ligam as cidadezinhas de Cinque Terre, segui para Vernazza, um antigo borgo medieval que é considerado um dos 100 borgos mais bonitos de toda a Itália! A pequena praia de Vernazza é um convite ao dolce far niente. Embora o vilarejo seja pequenininho, invista alguns minutos (ou horas) do seu dia para apreciar a beleza tranquila de Vernazza. Entre um aperitivo e outro, é possível que você chegue à inevitável constatação de que a felicidade está nas pequenas coisas da vida, ou por que não dizer, nas pequenas cidades do mundo. Seguindo adiante, era fim de tarde quando cheguei a Monterosso al Mare, o último ou o primeiro vilarejo de Cinque Terre, dependendo do ponto de partida. A praia de Monterosso é a maior de Cinque Terre, o que atrai grande número de turistas durante o verão. A Torre Aurora, a única que foi conservada de um complexo de 13 torres construídas para a defesa do borgo contra os piratas e saracenos, merece uma visita. Enquanto os garçons dos restaurantes a beira mar trabalhavam rapidamente para preparar as mesas para o jantar, me sentei para apreciar o sol se pôr naquele mar imenso e calmo… Hoje, sem riscos de invasões de piratas, Cinque Terre recebe de braços abertos a “invasão” de turistas à procura de um lugarzinho especial para as suas férias. A noite cai e Monterosso – e meu coração – se ilumina!