Alto do Paraíso – SuoViaggio Edição n. 34
Zélia Rodrigues - PublisherRevistas Publicadas Américas, Brasil, Revistas 2020
Alto do Paraíso
É natural que após tantos meses em isolamento, nos venha aquela vontade de viajar, mesmo ainda se submetidos a tantas restrições. Neste caso, jogamos com a vantagem de vivermos em um país lindíssimo, com tantos lugares interessantes para conhecer que talvez nem em uma inteira vida sejamos capazes de conhecer a todos. Porém, em um ano tão difícil e repleto de desafios de diferentes tipos, essa nossa viagem “para dentro” pode ser mais ampla. Uma viagem para dentro das belezas de nosso país e para dentro de nós mesmos.
Graças à rica diversidade de sua fauna e flora, típicas da vegetação do serrado, Alto do Paraíso foi declarada Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO.
A cidade é a meca do ecoturismo de Goiás, contando com mais de 120 cachoeiras de águas cristalinas e de diferentes tamanhos.
Alto do Paraíso e Chapada dos Veadeiros
A Divina NaturezaPor Zélia Rodrigues
Resiliência é uma das maiores qualidades do povo brasileiro. Por causa das inúmeras crises e dificuldades de todas as sortes que sempre estiveram presentes na vida dos brasileiros, desenvolvemos uma enorme capacidade de nos adaptar a essas crises e até mesmo de tentar transformá-las em algo positivo. Não seria diferente com a atual crise gerada pela pandemia da Covid-19. Superando a questão sanitária e passando ao turismo, de um lado temos um câmbio na estratosfera; de outro as restrições de países estrangeiros, principalmente da Europa, onde estamos na “lista de indesejados”, cuja entrada é permitida somente em situações especiais. Então, se até 2019 tínhamos um câmbio aceitável e estávamos acostumados com nossas viagens ao exterior, a pandemia nos obrigou a olhar para dentro.
É natural que após tantos meses em isolamento, nos venha aquela vontade de viajar, mesmo ainda submetidos a tantas restrições. Neste caso, jogamos com a vantagem de vivermos em um país lindíssimo, com tantos lugares interessantes para conhecer que talvez nem em uma inteira vida sejamos capazes de conhecer a todos. Porém, em um ano tão difícil e repleto de desafios de diferentes tipos, essa nossa viagem “para dentro” pode ser mais ampla. Uma viagem para dentro das belezas de nosso país e para dentro de nós mesmos.
Alto do Paraíso
A cidade de Alto do Paraíso fica no coração do Brasil e abriga um dos parques mais importantes do país, a Chapada dos Veadeiros. A principal porta de entrada da cidade é o aeroporto de Brasília, a 240 quilômetros de distância. De lá, deve-se seguir de carro até a pequena cidade localizada no nordeste de Goiás.
A história de ocupação da região de Alto Paraíso está ligada à mineração do século XVIII, quando os bandeirantes foram atraídos para a região em busca de ouro. Um século mais tarde as reservas de ouro da região esgotaram-se, mas a região já havia desenvolvido uma boa base agrícola. Logo em seguida a região passou a atrair esotéricos e espíritas que encontraram na natureza exuberante da região o ponto perfeito para a prática espiritual.
Graças à rica diversidade de sua fauna e flora, típicas da vegetação do serrado, Alto do Paraíso foi declarada Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO. A cidade é a meca do ecoturismo de Goiás, contando com mais de 120 cachoeiras de águas cristalinas e de diferentes tamanhos.
Parque Chapada dos Veadeiros
A porta de entrada do Parque Chapada dos Veadeiros é o Distrito de São Jorge, uma antiga vila de garimpeiros de cristais no início do século XX que soube se reinventar e hoje é o mais importante polo de ecoturismo no estado. O parque foi criado no início dos anos 1960 e originalmente contemplava uma área de 625 mil hectares, abrangendo toda a chapada, mas com o passar do tempo a área do parque foi reduzindo-se até a atual de aproximadamente 240 mil hectares.
Declarado Patrimônio Mundial Natural pela UNESCO em 2001, o parque é um dos mais importantes do país e contempla uma vegetação típica do cerrado. Além das inúmeras cachoeiras e nascentes de água e rochas com mais de um bilhão de anos, o parque também conserva parte da história local, através de áreas de antigos garimpos. Poucos parques no mundo podem oferecer essa fantástica simbiose entre natureza e história. Percorrer as trilhas que em outros tempos eram utilizadas pelos garimpeiros nos faz voltar ao tempo e imaginar a vida nada fácil de quem buscava fortuna nessas terras.
O parque conta com 3 diferentes trilhas, com níveis de dificuldade que vão do leve ao pesado. A Trilha da Siriema é a mais fácil de todas, podendo ser percorrida em cerca de 1 hora e meia, mesmo por pessoas com dificuldade de locomoção, pois é feita em terreno plano. Já a Trilha dos Cânions, de nível moderado, exige um pouco mais de preparo físico de seus visitantes, já que passa por trechos pedregosos. Essa trilha de 12 quilômetros entre ida e volta, pode ser percorrida entre 4 e 6 horas e passa por belas paisagens, como a Cachoeira das Cariocas e o Cânion II, onde fica um grande poço de banho. Por fim, a Trilha dos Saltos, Carrossel e Corredeiras é de nível avançado e exige uma ótima preparação física de seus visitantes. São 12 quilômetros de extensão e também pode ser percorrida entre 4 e 6 horas, mas o percurso é quase todo em terreno acidentado e pedregoso. Para os trilheiros que superam os desafios desse percurso, está reservado o prêmio de paisagens deslumbrantes. Nesse trajeto é possível visitar o Garimpo, que foi conhecido como o maior garimpo regional de cristal de quartzo em atividade durante os anos de 1912 e 1961. O ponto alto dessa trilha é o Mirante do Salto do Rio Preto, onde se vê a espetacular queda d´água de 120 metros, uma beleza de tirar o fôlego. E como se não bastasse, a trilha ainda prevê a Cachoeira do Garimpão, onde é possível tomar banho, o Mirante e Poço do Carrossel e as Corredeiras do Rio Preto, onde se pode fazer uma hidromassagem natural com as pequenas quedas d´água do local. É uma trilha realmente pesada, com subidas cansativas em terreno pedregoso, mas quem tem a possibilidade de fazê-la não se arrepende e volta revigorado pela beleza estonteante da natureza.
Além dessas trilhas, outra atração muito procurada no parque é a Travessia de Sete Quedas, aberta somente durante o período de seca, que vai de junho a novembro. A travessia dura entre 2 e 3 dias e percorre uma extensão aproximada de 23,5 quilômetros, passando por cânions, rios, trilhas históricas da época do garimpo e áreas do cerrado rupestre. Porém, essa travessia só é recomendada para quem tem ótimo preparo físico e boa disposição para aventuras, dada a dificuldade de muitas partes do trecho. Para quem atende a essas características, a contemplação de paisagens exuberantes está assegurada nesse passeio.
As paisagens da chapada se alternam no decorrer do ano, proporcionando aos visitantes sempre uma experiência nova e encantadora. Os banhos de cachoeira em meio a essa beleza excepcional são a principal atividade dos visitantes do parque, mas considerando a aura mística do lugar, é onde as pessoas podem efetivamente lavarem as suas almas.
Atividades Holísticas
O misticismo que envolve a região de Alto do Paraíso remonta à metade do século XX, quando foi fundada a Fazenda Bono Espero, a primeira fazenda escola do movimento esperantista. Alguns anos depois, instalou-se na região a Fazenda Escola Cidade da Fraternidade, ligada ao movimento kardecista. Esses pioneiros foram atraindo outras pessoas em busca de misticismo e espiritualidade, transformando Alto do Paraíso em um lugar onde todas as “tribos” místicas se encontram, com respeito mútuo e total harmonia com a natureza.
Independentemente de fé religiosa, a cidade evoluiu na questão da espiritualidade e hoje conta com diversos centros holísticos para receber os visitantes, iniciados ou não, para práticas de yoga e meditação. O Centro de Estudos Budistas Bodisatva, localizado próximo ao Parque Chapada dos Veadeiros, é uma opção para quem deseja se aprofundar nas práticas budistas ou simplesmente fazer uma atividade de meditação. A cidade também conta com outros templos e spas, preparados para as práticas holísticas e com diferentes programas, abrangendo desde atividades de poucas horas até retiros espirituais que duram alguns dias. Para quem busca um controle das ansiedades e maior sensação de tranquilidade e bem-estar, Alto do Paraíso é o lugar ideal para esse objetivo. A natureza vasta e exuberante, o poder dos cristais e as diversas estruturas especializadas oferecem a combinação ideal para nos entregarmos ao silêncio, à contemplação e ao olhar interior.
A experiência com a pandemia da Covid-19 me fez recordar as várias histórias que meus sogros me contavam sobre a Segunda Guerra Mundial. Eles eram jovens na época, mas viveram e assistiram a alguns horrores daquele período na Itália. Restrição de locomoção, perda de renda com uma consequente e drástica crise econômica e medo, muito medo pelo presente e pelo futuro. A pandemia da Covid-19 trouxe para a minha geração essas mesmas consequências, mas com a particularidade de vivê-las em tempos de paz. Em momentos críticos vem à tona a necessidade pela busca de equilíbrio e bem-estar. Acreditando que as dificuldades ensinam, aprendi a olhar mais para dentro. Para dentro desse meu país de belezas ímpares e para dentro de mim mesma, redescobrindo o meu lar e a mim mesma.