Eslovênia – SuoViaggio Edição n. 27
Zélia Rodrigues - PublisherRevistas Publicadas Eslovênia, Europa, Revistas 2019
Eslovênia a joia em lapidação da Europa
Sempre em busca de novos roteiros, dessa vez seguimos para desbravar os encantos da Eslovênia. Localizada entre o norte da Itália e da Croácia, a pequena Eslovênia reúne muitos encantos, como a charmosa cidadezinha de Bled, com o seu lago de conto de fadas, e a animada e bonita capital Liubliana. Embarque com a gente para conhecer essa joia em lapidação da Europa.
Aquele dia do final de julho estava quente, temperatura beirando os 40 graus. Felizmente, ladeira abaixo todo santo ajuda e, logo mais à frente, a vista compensava qualquer esforço. Ao cruzar a entrada principal do parque, fui logo procurar a sombra debaixo de uma árvore e ali estendi a toalha que trazia na cesta.
Eslovênia
A joia em lapidação da EuropaAquele dia do final de julho estava quente, com temperatura beirando os 40 graus. Felizmente, ladeira abaixo todo santo ajuda e, logo mais à frente, a vista compensava qualquer esforço. Ao cruzar a entrada principal do parque, fui logo procurar a sombra debaixo de uma árvore e ali estendi a toalha que trazia na cesta. A minha filhinha de 4 patas agradeceu efusivamente por aquela pausa na sombra. Abri a minha cesta de pic nic superequipada, presente de uma amiga francesa que trouxe um pouco do vivre Françoise para a minha vida. Logo em frente, o lago de Bled coroava o dia proporcionando uma das paisagens mais bonitas que já vi na vida. A barraca ao lado presenteava os meus ouvidos com os melhores clássicos do Rock n´Roll. Ok, sei que para muitos um gênero musical mais tranquilo poderia ser melhor, mas para mim não havia melhor trilha sonora do que aquela. E assim, embalada pelo som da guitarra do David Gilmour abri a garrafa do meu prosecco preferido e brindei mais um ano de vida ao lado do meu marido. Nesse momento pude confirmar que o verdadeiro luxo está nas pequenas coisas.
Eu poderia ficar ali por horas – e até mesmo por dias –, mas o dever moral de explorar todo o interior do magnífico parque de Bled me “obrigou” a levantar e a começar uma longa e tranquila caminhada pela área verde que circunda o belíssimo lago de apenas 1,5 km2 de superfície, cuja ilha natural em seu centro dá um toque de charme muito especial a esse pequeno lago. Nessa ilhota fica uma igreja do século XV, cuja torre é a coqueluche dos visitantes do parque. Diversas atividades esportivas podem ser praticadas no parque, sendo a canoagem a principal delas, dadas as ótimas condições do lago para a prática desse esporte. E para brindar o cenário de conto de fadas desse pequeno parque, no topo de uma rocha fica o Castelo de Bled, uma construção medieval do século XI que detém a mais bela vista do lago e arredores.
Depois de me sentir em um romance de Jane Austen na cinematográfica Bled, chegara o momento de partir para explorar a pequena capital do país, Liubliana. Logo ao chegar na cidade, me surpreendi com a movimentação da pequena capital europeia, que não fica muito atrás da movimentação das grandes capitais do velho continente. A grande concentração de habitantes na capital se justifica porque a maior parte do território da Eslovênia é de área verde, sendo grande parte dessa área preservada em parques. Assim, toda a vida urbana do país acabou se concentrando na cidade de cerca de 300 mil habitantes e outros milhares de visitantes. Observando o frenesi das pessoas nas lojas e nos muitos bares e restaurantes fica difícil se lembrar de que o país esteve sob o domínio comunista até os anos 1990, quando finalmente conquistou a sua independência da antiga Ioguslávia.
O pequeno centro de Liubliana é cortado pelo rio Liublianica, com o castelo dominando a parte norte, enquanto a parte sul é ocupada por edifícios modernos de empresas privadas e de prédios da máquina pública. As atrações do centro histórico são bastante próximas umas das outras, o que permite aos visitantes explorar toda essa área em apenas um dia. O melhor ponto de partida é o Castelo de Liubliana. Localizado no alto de uma colina, o castelo de origem medieval que serviu como fortificação de diferentes povos, foi totalmente reestruturado nos anos 1960, mas mantendo o seu estilo original. Além de ser a principal atração turística da cidade, atualmente o castelo sedia o Museu da História Eslovena, o Museu das Marionetes e hospeda uma série de eventos culturais temporários, sobretudo nos meses de primavera-verão, quando a cidade fervilha. Da torre principal do castelo se tem uma estupenda vista panorâmica da cidade. Também é possível visitar a antiga prisão, construída quando o castelo era a fortaleza da cidade.
De volta à parte baixa da cidade, parei na Praça Prešeren para me refrescar do calor escaldante com uma cerveja gelada – na verdade, para os padrões brasileiros não estava tão gelada assim, mas era o que tínhamos para o momento. Como principal porta de entrada para o centro histórico de Liubliana, a Praça Prešeren é puro frenesi. Dominada pela Igreja da Anunciação do século XVII, a praça conta em seu entorno com prédios da administração pública, bancos, lojas, bares e restaurantes. Até o início do século XIX, a praça era o ponto de entrada na cidade murada e, mesmo com a demolição das muralhas medievais, a praça continua a ser o marco zero da cidade antiga. Vale a pena deixar de lado a movimentação da praça para percorrê-la devagar, pois é assim que se pode aproveitar toda a beleza do lugar e da pequena e charmosa Ponte Tríplice, construída no início do século XX para ligar uma margem a outra do rio. No centro da praça fica o monumento em homenagem ao poeta esloveno France Prešeren, um dos mais importantes artistas eslovenos. A poucos passos da praça fica a Ponte dos Dragões, construída no início do século XX em homenagem ao imperador Franz Joseph I da Áustria, em comemoração aos 40 anos de seu governo, no período em que a Eslovênia ainda estava sob o domínio do império austro-húngaro. Mesmo com o trânsito da ponte, vale a pena dedicar um tempo para fotografar os imponentes dragões que decoram uma das pontes mais famosas da cidade e, “carinhosamente” apelidada pelos locais de “sogra”, por causa do aspecto aterrorizante das estátuas dos dragões. Uma outra forma interessante de apreciar a beleza dos palácios de Liubliana é da perspectiva do rio Liublianica, através de um passeio de barco que dura cerca de meia hora e passa por todo o centro histórico da cidade, inclusive sob as famosas Ponte Tríplice e Ponte dos Dragões.
No fim da tarde, com a luz do sol radiante do auge do verão europeu, fui dar uma volta pelo Parque Tivoli, localizado no coração da cidade. Logo após o ingresso principal do parque, a Alameda Jakopic, cercada por árvores e sempre decorada com uma exposição de obras de arte, impressiona. As obras em exposição variam e, normalmente, fazem parte do acervo da Galeria Nacional, cuja sede fica um pouco mais à frente, no belíssimo palácio em estilo neoclássico. A galeria de arte é um dos símbolos de Liubliana e vale uma visita mais demorada, para apreciar a ampla coleção de arte que compreende o período que vai da Idade Média até o século XX. Além das áreas de exposição, a galeria conta com uma importante biblioteca e um ótimo café, com vista para o estupendo jardim do parque, perfeito para um café ou aperitivo de fim de tarde. O parque hospeda, ainda, o Castelo Cekin, construído em estilo barroco e onde, desde o pós-guerra, funciona o Museu de História Contemporânea da Eslovênia. Com tantos atrativos, é possível dedicar um dia inteiro ao parque, mas, se como eu, você só tiver algumas horinhas, já está valendo.
Assim, vou me despedindo desse país de pequenas proporções, por séculos ocupado por diferentes povos por causa de sua posição geográfica estratégica e que, finalmente, após a liberdade conquistada ao fim da sangrenta Guerra dos Balcãs, está imprimindo a sua própria identidade. Com uma língua dura e modos aparentemente ríspidos, os eslavos não parecem muito acolhedores a princípio, mas bastam poucos minutos e um sorriso para eles revelarem toda a simpatia que se escondia nos modos calejados pela dureza de séculos de ocupações e guerras. A geração de jovens pós anos 1990 emana uma grande vibração, que vai irradiando as ruas do centro da capital Liubliana, sobretudo nos arredores da universidade do país. Com um apelo cultural muito forte, o país está moldando o seu percurso para um futuro livre e promissor. A Eslovênia é, de fato, é uma pequena joia em processo de lapidação na Europa.