Roma amoR eterno – SuoViaggio Edição n. 10

Roma
amoR Eterno

As pessoas viajam por diferentes motivos: vontade de explorar o novo, celebração, realização de um sonho, vontade de fugir de algo ou de alguém etc. O fato é que viajar é um excelente remédio para muitos males e a sua única contra-indicação é o risco de gerar dependência. Atire a primeira pedra aquele que nunca voltou de uma viagem já pensando na próxima! Estive em Roma pela primeira vez em um momento muito especial e delicado da minha vida. Atravessava uma fase difícil e me sentia frustrada quando decidi “largar tudo” e passar uma temporada na Itália, viagem que há muito sonhava fazer, mas que sempre era adiada por alguma razão. Desembarquei em Roma sozinha e perdida, ainda tentando me localizar na cidade nova, com língua nova e costumes novos.

De forma desajeitada peguei o caminho do Coliseu. Passei batida pelos gladiadores de araque e entrei na arena de 3.357 m2, onde disputei cada centímetro de espaço com os grupos de japoneses e suas vorazes máquinas fotográficas. O maior anfiteatro do mundo, com capacidade para até 75.000 espectadores, é o maior munumento da Roma Antiga conservado até a atualiadade e, não por acaso, foi declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1980. Os demais visitantes entravam e saíam enquanto eu permanecia ali, absorta em meus pensamentos, imaginando as várias batalhas mortais que foram travadas naquela arena. Logo ao lado ficam os Fóruns Imperiais (Fori Imperiali) e o Palatino, o complexo de ruínas do que um dia foi o centro político, religioso, econômico e cultural do Império Romano. Dentre os templos remanescentes, um dos mais conservados é a Casa delle Vestali, antigo colégio de sacerdotisas dedicadas à Deusa Vesta. Também vale a pena dedicar um tempo maior para explorar o que restou da casa de Augusto (Domus Augustana). A Via dei Fori Imperiali, sempre repleta de turistas de todo o mundo, é fechada todos os anos no dia 02 de junho para o desfile em comemoração à festa da República da Itália, uma das mais importantes do país. Se você estiver na cidade nesse dia, vale a pena se misturar aos italianos e aproveitar a festa. Caminhando até a Piazza della Rotonda, encontramos o Pantheon, o monumento mais bem conservado da Roma Antiga. O Pantheon é um local sacro dedicado à Santa Maria e os Mártires, onde foram sepultados importantes personagens da história da Itália, dentre os quais o rei Vittorio Emanuele II, o primeiro rei da Itália unificada, o rei Umberto I e sua esposa Margherita de Savoia. Observando a perfeição da cúpula de 5.000 toneladas de concreto e mais de 43 metros de diâmetro, com o oculus em seu centro, me rendi à genialidade dos projetistas e executores de uma obra tão perfeita e bela como a cúpula do Pantheon.

Além de capital do antigo Império Romano e da atual República da Itália, Roma também é a capital do Estado da Cidade do Vaticano. Não importa se você é católico, protestante, evangélico ou ateu, o Vaticano merece a sua visita. O menor Estado independente do mundo reúne em um território de apenas 0,44 km2 uma riqueza artística e arquitetônica de valor imensurável. A Praça São Pedro, com a basílica ao fundo, já é um espetáculo arquitetônico que faz brilhar os olhos de seus visitantes, graças sobretudo ao magnífico conjunto de colunas de Bernini que circundam a praça até se colegarem à fachada da basílica. Ao entrar na Basílica de São Pedro, no lado direito, nos deparamos com uma das maiores obras de arte do mundo, a Pietà de Michelangelo, devidamente protegida por uma parede de vidro, após ter sofrido um ataque furioso de um louco em 1972. Ao percorrer os 90 metros de comprimento da nave principal deve-se ter cuidado, pois a atenção fica muito dispersa com tantas obras impressionantes e os olhos fazem movimentos ligeiros entre o teto e o chão de mármore, ambos estupendos! A cúpula projetada por Michelangelo impressiona seja do lado externo seja do lado interno. Com 133 metros de altura e 41,50 metros de diâmetro, menor apenas do que a cúpula do Pantheon, tem um peso estimado de 14.000 toneladas! Encarei os 320 degraus (peguei o elevador até o terraço) para subir à cúpula e não me arrependi. De lá tem-se uma vista incrível do Vaticano e da cidade de Roma! Esqueci o meu medo de altura e passei longos minutos na parte externa da cúpula me divertindo em identificar os principais cartões-postais da cidade. Além disso, é da cúpula que se tem o melhor ângulo da Piazza San Pietro. Voltando ao interior da basílica, abaixo da cúpula em sua parte central, fica o altar papal, ao lado do belíssimo Baldacchino di San Pietro, uma outra obra maravilhosa do gênio Bernini. Descendo ao piso inferior, encontram-se as Grutas Vaticanas onde foram sepultados muitos pontífices, dentre os quais João Paulo II.

Embora todo o Vaticano possa ser visitado em um único dia, eu preferi deixar os museus para uma outra visita, para não “acumular informações”. Com horário agendado, evitei a enorme fila de cerca de 2 horas, recomendo! Embora o número de visitantes fosse grande, cheguei a ficar sozinha em algumas salas enquanto as pessoas se espremiam nos corredores em direção à Capela Sistina. Os museus do Vaticano reúnem um vasto conjunto de obras artísticas, dispostas em 25 áreas diferentes. A ampla coleção egípcia contém peças de 2600 a.C., ocupando 9 salas do museu. Já o apartamento Borgia abriga a Coleção de Arte Religiosa Moderna e Contemporânea. Depois de passar por várias salas e galerias, chegou o momento de apreciar a maior atração de todos os museus do Vaticano, a Capela Sistina. Entrei naquela imensa sala, olhei para o teto e estava totalmente encantada com a perfeição da obra de Michelangelo quando minha concentração foi bruscamente interrompida pelo segurança, que berrava para as pessoas se moverem e – pasmem – fazerem silêncio! Aquele segurança nem de longe poderia ser comparado aos simpáticos membros da Guarda Suíça que encontrei antes, pois mesmo sendo os responsáveis pela segurança pessoal do Papa, posaram para fotos esbanjando simpatia e com sorriso no rosto. De volta à realidade, tratei de apreciar os afrescos de Michelangelo em movimento, num fluxo tão alucinante quanto aquele da Estação da Sé do Metrô de São Paulo em horário de pico. Para quem quiser evitar o tumulto e se deliciar com o perfeccionismo de Michelangelo, basta colocar a mão no bolso e reservar uma visita semi-privata em um pequeno grupo de, no máximo, 15 pessoas. Desta forma, é possível apreciar a Capela Sistina quando os demais visitantes já foram embora, sem nenhum segurança berrando para se mover!

Depois de cumprir o meu roteiro sacro, era chegada a hora de um programinha bem mundano… conhecer os bares animadíssimos da região de Trastevere. O bairro se desenvolveu por causa da sua proximidade com o rio Tevere (Tibre em português), tendo sido ocupado por marinheiros e pescadores durante a Idade Republicana. Hoje, é reduto de grupos de jovens e de nem tão jovens assim, romanos e estrangeiros de todo o mundo, mas todos sempre muito animados! O que não faltam são opções de locais interessantes para beber e se divertir, mas se você quiser se sentir um pouco mais italiano(a), pegue a sua cerveja e vá bebê-la no meio das praças Trilussa ou Santa Maria in Trastevere. Durante os meses de verão, a região fica ainda mais animada – se é que isso é possível – por causa das atividades e bares temporários montados ao longo do Tevere, vale a pena ver a noite chegar, lá pelas 10,  em um de seus bares temporários.

Repleta de belas praças, Roma é uma cidade para ser vivida a céu aberto. Como todos os turistas que passam pela cidade, tratei logo de visitar e babar pela estupenda Fontana di Trevi. A fonte foi progetada em 1732 por Nicola Salvi, um renomado arquiteto romano de sua época, e concluída por Pietro Bracci após a morte de Salvi, em 1762. Reza a lenda que aquele que jogar uma moeda na fonte com a mão esquerda voltará a Roma e eu não poderia arriscar a ficar de fora. Joguei a minha moedinha para garantir um breve retorno. E retornei mais vezes do que imaginava! Vi essa cena se repetir muitas e muitas vezes, mas nunca me cansei de sentar na escadaria da Fontana para passar o tempo observando turistas de todo o mundo jogar as suas moedinhas. Também jamais me cansei de apreciar o Netuno de Bracci, lindo durante o dia e magnífico durante a noite, quando a Fontana é iluminada. Agora ainda mais bonito, após o trabalho de restauração patrocinado pela grife de origem romana Fendi e concluído em novembro de 2015. A poucos passos da Fontana di Trevi nos deparamos com a Piazza di Spagna e a famosa escadaria que liga a praça à igreja Trinità dei Monti. No centro da praça está a recentemente restaurada Fontana della Barcaccia, esculpida por Pietro Bernini e seu filho, Gian Lorenzo Bernini, que viria a se tornar um dos maiores artistas da Itália. É nas imediações da Piazza di Spagna que estão instaladas as lojas das maiores grifes italianas e estrangeiras, sobretudo na Via dei Condotti, também conhecida como a Via della Moda. Seguindo a Via dei Condotti até o final, chegamos na Via del Corso, uma das principais ruas do centro histórico de Roma e, pegando o lado direito, se chega à Piazza del Popolo. Em uma cidade repleta de praças fantásticas, a Piazza del Popolo acaba sendo um pouco esquecida, mas também é uma joia da arquitetura italiana. Sede de 3 igrejas católicas, dentre as quais as igrejas Santa Maria in Montesanto e Santa Maria dei Miracoli, mais conhecidas como “as gêmeas”, a Piazza del Popolo esbanja beleza com as suas várias estátuas e fontes. As estátuas dos leões que jorram água nas fontes no centro da praça junto ao obelisco é um convite para a pausa, pois é o local ideal para se sentar e apreciar a beleza da praça enquanto se descansa das andanças por Roma. No outro extremo da Via del Corso, desembocamos na caótica Piazza Venezia, facilmente identificada pelo Monumento Vittoriano, erguido todo em mármore bresciano em homenagem ao rei Vittorio Emanuele II. E se bater uma saudadezinha do Brasil, bastar caminhar um pouquinho até a Piazza Navona, onde a Embaixada do Brasil está muito bem instalada no belíssimo Palazzo Pamphili. O grande destaque da Piazza Navona é a Fontana dei Quattro Fiumi, obra-prima de Bernini que retrata os quatro grandes rios do mundo: Nilo, Prata, Ganges e Danúbio.

O meu amor por Roma foi se consolidando a cada visita, até que chegou ao ponto de eu sentir falta da cidade quando passo muito tempo sem revê-la. O meu programa preferido é flanar pelas ruas e praças do centro histórico de Roma, sem nunca me cansar de ver os belos monumentos dessa cidade tão histórica e arquitetonicamente rica. Roma, a cidade eterna é também o meu amoR eterno!