Paris – SuoViaggio Edição n. 40
Zélia Rodrigues - PublisherRevistas Publicadas Europa, França, Revistas 2021
PARIS
Dos Loucos Anos 1920 às Olimpíadas de 2024
Um século de Paris
Após 16 meses de restrições aos estrangeiros, a França reabriu as suas fronteiras para os brasileiros totalmente vacinados em julho deste ano. Para comemorar essa abertura de fronteiras, trazemos uma deliciosa matéria sobre Paris, na qual viajamos no tempo para os anos 1920, quando a boêmia artística tomou conta da cidade, para depois saltarmos para os anos 2020, numa junção de pós-pandemia da Covid-19 com as Olimpíadas de 2024 que promete ser fantástica.
Além da matéria principal, esta edição marca a estreia da coluna “Vinho & Eu”, na qual exploramos o fascinante mundo dos vinhos. Então, caso você tenha alguma pergunta ou comentário pode escrever para a nossa redação, pois será um imenso prazer para nós receber o seu feedback.
Paris
Dos Loucos Anos 1920 às Olímpiadas de 2024, um século de ParisNós sempre teremos Paris! A célebre frase dita com o charme de Humphrey Bogart em Casablanca não poderia ser mais apropriada para o momento atual. Depois de 16 meses de fronteira fechada para o turismo de brasileiros por causa pandemia da Covid-19, a França reabriu suas fronteiras em julho deste ano, para a alegria dos velhos e novos visitantes do país, que é um dos mais visitados em todo o mundo e está no topo das preferências dos brasileiros. E Paris, a capital mais visitada da Europa, voltou a receber o fluxo de viajantes saudosos das inúmeras belezas da capital francesa.
E ainda no clima das Olimpíadas, Paris já deu uma demonstração do que poderemos esperar para 2024. Tudo bem que não rolou o hasteamento da bandeira na Torre Eiffel, mas o espetáculo de passagem de bastão foi bonito assim mesmo. Confesso que como grande fã de vôlei, estou ansiosa para ver as partidas de Vôlei de Praia com a Torre Eiffel como pano de fundo. Mas, enquanto aguardamos as próximas Olimpíadas, que tal flanar pelas belas ruas de Paris? A capital mais romântica da Europa já está pronta para nos receber. Afinal, nós sempre teremos Paris!
O maior cartão-postal de Paris
Um roteiro por Paris passa, obrigatoriamente, pelo seu maior cartão-postal: a Torre Eiffel. O polêmico monumento construído em 1889 por Gustave Eiffel, por ocasião da Exposição Universal, realizada na capital francesa em comemoração do Centenário da Revolução Francesa, recebeu inúmeras críticas à época de sua construção, por ser considerado um monumento feio ao ponto de desfigurar a beleza e a elegância de Paris. Mas, nem mesmo Gustave Eiffel poderia imaginar que um século depois, a sua obra tão criticada se tornaria o maior cartão-postal da capital francesa.
A torre de ferro conta com 324 metros de altura, do chão até a antena, sendo o monumento mais alto da cidade. Dividida em três níveis, a torre é um grande teste para as pessoas que sofrem de vertigem, mas é quase impossível resistir à tentação de visitá-la em seu interior. Já no primeiro nível é possível ter uma bela vista panorâmica da cidade, a partir do Campo de Marte, sendo que parte do piso desse andar foi modificado para vidro transparente, a fim de proporcionar aos visitantes a bela sensação de ter Paris sob os seus pés, literalmente!
Paris já serviu de cenário para diversos filmes, tendo sempre a Torre Eiffel como aquela coadjuvante que acaba roubando a cena. Presente em tramas que vão do drama ao romance, da comédia à ação, a Torre Eiffel sempre faz bonito. Nem mesmo o famoso agente 007 pôde deixar a Torre Eiffel de fora de suas aventuras. Aliás, uma das cenas mais célebres do cinema é justamente quando James Bond persegue May Day pela torre, até que a vilã/mocinha escapa saltando de paraquedas do topo da torre. Os amantes de Bond, James Bond, certamente se lembrarão dessa cena incrível. Mas, como sou uma romântica incorrigível, de todos os inúmeros filmes rodados em Paris, o meu preferido continua sendo o romance “Antes do pôr-do-sol”. O filme nos envolve com os interessantes diálogos entre as personagens, em meio a caminhadas aparentemente despretensiosas pela cidade. Sou muito fã do Diretor Richard Linklater e fica difícil não gostar de um trabalho dele, mas quando o talento do diretor se junta ao talento de atores como Ethan Hawke e Julie Delpy em cenários deslumbrantes de Paris, aí não tem como não se apaixonar!
Mas foi um outro diretor, do qual confesso não ser fã, que nos trouxe uma Paris diferente, a Paris dos loucos anos 1920. Em Meia Noite em Paris, Woody Allen joga com o tempo, fazendo o protagonista Gil viajar no tempo para encontrar os seus escritores preferidos nos anos 1920. Enquanto um frustrado Gil faz um reencontro com si mesmo, em muitas cenas lá está a Torre Eiffel iluminando a cidade e as ideias do escritor. Em mais um filme a coadjuvante Tour Eiffel rouba a cena.
A Paris dos loucos anos 1920
E como se não bastasse ser a cidade dos casais apaixonados, Paris também é uma das principais cidades do mundo para o deleite dos amantes das artes. Há tempos a cidade inspira e, portanto, atrai artistas de todo o mundo, formando um caldeirão efervescente de ideias e obras magníficas. O auge dessa concentração de grandes artistas ocorreu durante os loucos anos 1920, quando a capital francesa foi a casa de artistas modernistas como Pablo Picasso, Henri Matisse, Joan Miró, Amedeo Modigliani, Alberto Giacometti, Salvador Dalí e Di Cavalcanti, além de escritores fantásticos e premiados como Ernest Hemingway, F. Scott e Zelda Fitzgerald, James Joyce, Gertrude Stein e T.S. Eliot. Num ambiente de boêmia e totalmente favorável à proliferação de ideias, muitas obras foram pintadas e escritas em Paris.
Embora toda a cidade irradie arte, o bairro parisiense que melhor retrata essa boêmia intelectual é Montparnasse. A origem do bairro fundado nos anos 1920 é uma referência ao Monte Parnaso, a montanha grega considerada pela mitologia como o lar das nove musas de Apolo. Repleto de bares e restaurantes, Montparnasse é um convite a um café demorado para observar o passar da vida. E, para respirar as ideias dos loucos anos 1920, é obrigatório visitar a Brasserie La Coupole, que contava como clientes cativos os artistas e intelectuais desse período. Fundada em 1927, La Coupole, com sua decoração art deco e histórias fabulosas, se transformou em patrimônio histórico e um dos pontos de maior interesse em Montparnasse para locais e viajantes. Outro restaurante muito frequentado pelos artistas e intelectuais dos loucos anos 1920 é o Le Dôme. Localizado a poucos metros de distância do La Coupole, o Le Dôme conta com um ambiente acolhedor e segue sendo um dos restaurantes mais badalados de Paris.
Outra forma de vivenciar os loucos anos 1920 em Montparnasse é visitando os museus que abrigam algumas das obras dos artistas Bourdelle e Giacometti. O Museu Bourdelle fica no antigo ateliê de Antoine Bourdelle, cujo acervo permanente conta com diversas esculturas do artista e podem ser visitadas gratuitamente. Além de visitar o local onde o artista criava as suas obras, a visita proporciona uma agradável sensação de tranquilidade ao percorrer o jardim da propriedade, decorado com as belas esculturas de Bourdelle. Seguindo pelo fascinante mundo das esculturas, também vale a pena visitar o Instituto Giacometti. O escultor italiano Alberto Giacometti foi um dos mais célebres alunos de Bourdelle. O Instituto Giacometti está localizado no Hôtel Follot, o palácio histórico em estilo Art Déco do artista e decorador Paul Follot. Na visita, é possível visitar o antigo ateliê de Giacometti, bem como apreciar a beleza da arquitetura da propriedade que abriga o instituto.
Já no bairro de Le Marais, vizinho de Montparnasse, está localizado o Museu Picasso. O museu dedicado à obra de Pablo Picasso, um dos maiores expoentes da arte do século XX, fica no Hôtel Salé, construído a pedido de Pierre Aubert de Fontenay no século XVII em um estilo que combina o clássico francês com o barroco italiano. O palácio já teve diferentes usos em sua história, tendo servido, inclusive, como escola, na qual estudou o escritor Honoré de Balzac. O acervo do museu conta com mais de 5 mil obras e objetos do artista, compreendendo itens de estudo de Picasso, como rascunhos, cadernos, gravuras, filmes e documentos. Além do material de trabalho do artista, o museu também apresenta objetos pessoais de Picasso, como os milhares de livros de sua biblioteca pessoal, além de obras de outros pintores, como Matisse, Modigliani e Cézanne, que faziam parte da coleção privada de Picasso. Dentre as pinturas de Picasso, é possível conhecer um pouco de suas diferentes fases até chegar ao cubismo, destacando-se o os quadros “Autorretrato” e “O Matador”, bem como quadros que descrevem a Guerra Civil Espanhola, tão marcante na vida e obra de Picasso.
Para finalizar a visita pelo efervescente bairro de Montparnasse em grande estilo, vale a pena fazer um desvio no Boulevard Edgar Quinet para entrar na Rue de la Gaité, muito frequentada por artistas e boêmios em geral nos anos 1920 por causa de seus muitos cabarés. Ainda hoje, a Rua da Alegria mantém sua alma vibrante, com teatros onde é possível assistir a um autêntico espetáculo de cabaré, além de muitos restaurantes e lojas. Quando for possível deixar a contagiante atmosfera festiva dessa rua, aprecie a beleza de Paris do alto da Torre de Montparnasse. Com 210 metros de altura, esse prédio é o mais alto de Paris, sendo possível subir ao 56º andar, onde fica o observatório da torre, para apreciar a mais bela vista da cidade, sobretudo no final do dia quando as luzes de Paris começam a se acender. É do observatório que se tem a vista mais deslumbrante da Torre Eiffel, sobretudo quando o símbolo maior da cidade fica toda iluminada. Ver Paris toda iluminada me faz imaginar a quantidade de ideias que estão surgindo nas mentes de tantos outros novos artistas naquele instante, imersos no caldeirão de ideias que ferve na boêmia parisiense.
A Paris dos absurdos anos 2020
Viajando no tempo com um século de distância, deixamos a exuberância dos loucos anos 20 do século XX, para aterrissar nos absurdos anos 20 do século XXI. A pandemia da Covid-19 que teve início na longínqua província chinesa de Wuhan, tomou de assalto o mundo inteiro, tendo já causado mais de 4,5 milhões de mortes ao redor do globo. A Covid-19 é a pandemia que parou o mundo! Por causa da alta taxa de contágio, governos de todos os países, em maior ou menor grau, adotaram medidas restritivas para cidadãos do país e estrangeiros em geral. Fronteiras foram fechadas, voos cancelados, hoteis e restaurantes de destinos turísticos quando abriam ficavam às moscas. Milhões de trabalhadores diretos e indiretos da indústria do turismo perderam seus empregos. Centenas de milhares de empresas turísticas foram definitivamente fechadas ou faliram. São dados estarrecedores!
A pandemia da Covid-19 gerou uma tragédia tão grande que é impossível não fazer um paralelo com a Gripe Espanhola, a pandemia do século XX que também é conhecida como a “Mãe das Pandemias”. A Gripe Espanhola durou mais de 2 anos, entre 1918 e 1920, tendo infectado cerca de 500 milhões de pessoas, o que representava um quarto da população mundial da época, causando a morte de dezenas de milhões de pessoas. Considerada a pandemia mais letal da história, a Gripe Espanhola teve seu início no último ano da Primeira Guerra Mundial e seu fim no ano de 1920, antecedendo a década que seria marcada pela sua exuberância econômica e artística.
Paris não passou incólume a nenhuma das pandemias. Para refrear o avanço da Covid-19, a capital europeia que mais recebe visitantes estrangeiros também teve o seu acesso restringido. A cidade das artes teve que suportar ver seus diversos museus e galerias fechados por longos meses. A cidade-luz de repente ficou escura. Mas, graças à rápida resposta da ciência, a pesquisa e produção de vacinas eficazes em tempo recorde tem contribuído para a contenção do avanço da Covid-19. Então, almejando um retorno à normalidade, a França foi um dos primeiros países europeus a anunciar a reabertura de suas fronteiras para estrangeiros totalmente vacinados. O certificado de vacinação, também passou a ser chamado de passaporte sanitário, pois se tornou um documento obrigatório para viajantes. Em muitos locais na cidade também é obrigatória a apresentação do certificado de vacinação, chamado na Europa de green pass, restringindo o acesso às pessoas totalmente vacinadas, curadas ou portadoras de testes recentes com resultado negativo de Covid-19, sendo estrangeiras ou não.
A reabertura dos museus, bares e restaurantes foi ansiosamente aguardada por estrangeiros e parisienses, mas a reabertura de maior simbologia foi a da Torre Eiffel. Fechado em outubro de 2020, quando a França enfrentava a segunda onda de contágios da Covid-19, o símbolo maior de Paris foi reaberto à visitação pública em julho deste ano, marcando a reabertura gradual da cidade. É claro que visitar Paris hoje ainda não é como nos tempos pré-pandemia. Temos que lidar com limitação no número de visitantes e horários, utilizar máscaras e passear acompanhados do álcool gel, mas assim a cidade vai retomando a sua vida e a sua magia.
A Paris do caldeirão esportivo das Olímpiadas de 2024
Se Paris no pós-pandemia da Gripe Espanhola se tornou um caldeirão fervilhante das artes, com uma concentração impressionante de pintores, escultores e escritores de todo o mundo, a Paris no pós-pandemia da Covid-19 se tornará um caldeirão dos esportes. Os XXXIII Jogos Olímpicos têm tudo para entrarem na história, seja pela importância do momento histórico seja pelas inovações que o Comitê Olímpico Francês promete trazer para o evento. Com o objetivo de fazer uma organização mais sustentável, os franceses, imbuídos de uma boa dose de criatividade, trarão muitas novidades para os amantes das olímpiadas. Ao invés de arenas montadas fora do grande centro da cidade, Paris trará as diferentes modalidades de esportes olímpicos para os principais pontos turísticos da cidade, o que promete ser um show extra para os espectadores que puderem assistir aos eventos in loco, assim como para os milhões de espectadores ao redor do mundo que acompanharão o evento pela televisão.
O hipismo será realizado nos estupendos jardins do Palácio de Versalhes, um dos locais mais lindos dos arredores de Paris, enquanto o tiro com arco terá como palco o Hôtel National des Invalides, onde fica a sede do Museu das Armas e está sepultado Napoleão Bonaparte, com a bela cúpula da Catedral de Saint-Louis-des-Invalides como destaque. Já o ciclismo percorrerá a bela Champs-Élysées, tendo como destaque o Arco do Triunfo, assim como já ocorre anualmente no Tour de France. O basquete 3X3 também não fica atrás e terá seus jogos disputados na Place de la Concorde, que além do basquete, receberá as disputas do skate e da estreante modalidade olímpica breakdance. Já o Grand Palais, construído para a Expo de 1900, receberá os atletas de taekwondo e da esgrima. A arena do vôlei de praia, uma das minhas modalidades esportivas preferidas, será montada no Campo de Marte, aos pés da Torre Eiffel, o maior cartão-postal de Paris. Difícil mesmo será se concentrar nos jogos com um cenário de fundo como esse!
As águas do rio Sena, tantas vezes navegadas por casais apaixonados, será palco da maratona aquática e do triatlo. A canoagem e o remo também serão disputadas nas águas do Sena, mas já na pequena cidade de Vaires-sur-Marne, nos arredores de Paris. Alguns esportes terão que ser sediados por outras localidades francesas, como é o caso das competições de vela que ocorrerão na bela cidade de Marselha, localizada no sul da França, assim como o surfe que depende de boas ondas e será recebido pelo Taiti, na Polinésia Francesa. Em 2024, além de torcermos para o Brasil levar outro ouro no surfe e na vela, de lambuja ainda poderemos nos encantar com as belas paisagens do Taiti e dos calanques de Marselha.
Com o savoir-faire francês, Paris promete levar todo o mundo em um grande tour pela cidade e arredores, nos proporcionando as mais belas paisagens parisienses enquanto assistimos aos jogos olímpicos. A festa de abertura será realizada às margens do rio Sena e tem tudo para ser imperdível. Depois de 2 anos de nebulosidades, Paris está tornando a ser a cidade-luz, iluminando não apenas os seus monumentos, mas também os corações de seus visitantes. E, em breve, poderemos ver a tocha olímpica chegar a Paris, trazendo a sua mensagem de paz e amizade entre os povos, para iluminar a pira olímpica e a vida de atletas e espectadores de todo o mundo. O período nebuloso está ficando para trás, é hora de iluminarmos as nossas mentes e corações para vermos as belezas do mundo. Paris, com suas luzes, sua criatividade e o seu savoir-vivre é o melhor destino para vivermos esses anos 2020!