MASP exibe pela primeira vez no Brasil
filme de Tania Ximena sobre mudanças climáticas
Obra em dois canais conecta paisagens da Antártida e do México para refletir sobre impactos ambientais e vulnerabilidade dos modos de vida diante da crise ecológica
22 de agosto a 28 de setembro de 2025
O MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand apresenta a Sala de Vídeo: Tania Ximena, de 22 de agosto a 28 de setembro. A mostra exibe o filme La marcha del Líquen (2024), um dos trabalhos mais recentes da artista mexicana Tania Ximena (Hidalgo, México, 1985), já apresentado em diversos festivais e na 15ª Bienal FEMSA. A obra destaca-se pelo protagonismo da paisagem e dos ecossistemas investigados pela artista, que parte da premissa da inter-relação entre todos os seres vivos e não vivos, incluindo elementos geológicos e naturais que compõem a vida na Terra.
La marcha del Líquen é apresentada em dois canais e registra transformações em territórios geograficamente distantes, mas intimamente conectados. O primeiro vídeo, filmado na Antártida, documenta o derretimento do gelo glacial e o consequente esverdeamento do território, a partir da proliferação de líquens e musgos sobre o solo exposto. À medida que o branco polar recua — num processo natural, porém acelerado pelas mudanças climáticas — o verde toma conta do continente antártico.
O segundo canal, filmado nos mangues e pântanos de Centla, Tabasco, no México, acompanha a erosão costeira que levou ao desaparecimento da comunidade indígena Yokot’an de El Bosque, impactada pela elevação do nível do mar — consequência indireta do degelo polar. Historicamente, a região já apresentava ciclos hídricos, mas a intensificação desses eventos levou os Yokot’an a substituir técnicas construtivas ancestrais pela alvenaria moderna. As novas estruturas, no entanto, não resistiram às inundações. Árvores submersas e ruínas das edificações aparecem no vídeo como vestígios da antiga ocupação de El Bosque.
A partir desses dois contextos, a obra propõe um olhar atento para os efeitos da emergência climática, sugerindo que, diante das transformações da paisagem, são os modos de vida humanos que se tornam vulneráveis ao desaparecimento. Ao mesmo tempo, questiona a capacidade — ou escolha — da humanidade de adaptação, ao abandonar relações ancestrais com a terra em favor de soluções frágeis diante da força da natureza. Mais do que denunciar o aquecimento global, a obra convida à reflexão sobre diferentes formas de habitar o planeta e sobre possibilidades de aprendizado com os ciclos naturais.
Com curadoria de Matheus de Andrade, assistente curatorial, MASP, a Sala de Vídeo funciona como uma imersão nesses ambientes. A projeção ocorre em sequência: primeiro, as imagens da Antártida ocupam a parede principal; em seguida, a narrativa continua na tela à esquerda, com cenas filmadas no México. Essa disposição espacial reforça a distância geográfica entre os territórios retratados e evidencia as especificidades de cada ecossistema, ao mesmo tempo que sugere conexões entre processos distintos, mas interligados pela crise climática.
As paisagens que a artista relaciona podem, à primeira vista, parecer desconectadas, mas revelam vínculos profundos atravessados por tempos históricos e geológicos. Ao atribuir protagonismo à paisagem, a obra desloca o foco da observação, ampliando o olhar para além do humano e considerando sua inserção em um ecossistema mais abrangente, que envolve dimensões naturais, espirituais e sociais.
“Outro contraste importante está nas cores dos dois canais. O primeiro é marcado pelo branco das geleiras, que pouco a pouco se transforma em cinza, marrom e verde. Já o segundo vídeo, gravado em infravermelho, apresenta uma tonalidade alaranjada que imprime outra atmosfera à paisagem, evocando imagens futuristas ou distópicas. Ao mesmo tempo, essas cores realçam o verde da floresta e os reflexos na água — agente central no filme, responsável por transformar a vida tanto na Antártida quanto no México”, afirma Matheus de Andrade.
O segundo vídeo conta ainda com a participação de Esmeralda López Méndez, poeta Yokot’an que narra os acontecimentos em Tabasco, refletindo sobre a íntima relação entre território e água: “Fazer parte de algo que já não existe é o que o mar nos ensinou: que nada te pertence. Ele te desnuda, restando apenas a lembrança do lugar onde você cresceu, onde viveu, onde amou. O mar levou tudo, mas seguimos vivendo com ele. E não é nossa culpa nos alimentarmos dele, ainda que ele também tenha levado tudo”.
Sala de Vídeo: Tania Ximena integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias da ecologia. A programação da Sala de Vídeo em 2025 também inclui mostras de Janaina Wagner, Emilija Škarnulytė, Maya Watanabe, Inuk Silis Høegh e Vídeo nas Aldeias.
Sobre a artista
Tania Ximena (Hidalgo, México, 1985) é artista visual e cineasta. Sua prática combina pesquisa de campo e experiências vividas em territórios marcados por tensões ecológicas, sociais e políticas. Sua obra articula paisagem, memória e modos de vida, explorando diferentes mídias, como vídeo, som, escultura e instalação. Participou de exposições em instituições como Ex Teresa Arte Actual, Museo Jumex e Museo de Arte Carrillo Gil, além de bienais como FEMSA (2024), Bienal Sur (2021) e Bienal de Arquitetura de Orléans (2019).
REALIZAÇÃO E APOIO
Sala de Vídeo: Tania Ximena é realizada por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
- Curadoria: Matheus de Andrade, assistente curatorial, MASP
- 2º subsolo, Edifício Lina Bo Bardi
- Visitação: 22.8.2025 a 28.9.2025
- MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
- Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista, São Paulo, SP 01310-200
- Telefone: (11) 3149-5959
- Horários: terças grátis, das 10h às 22h (entrada até as 21h); quarta e quinta das 10h às 18h (entrada até as 17h); sexta das 10h às 22h (entrada gratuita das 18h às 21h); sábado das 10h às 22h (entrada até as 21h); domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas.
- Agendamento on-line obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos
- Ingressos: R$ 75 (entrada); R$ 37 (meia-entrada)
- Site oficial
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