Glacier Express – SuoViaggio Edição n. 32
Zélia Rodrigues - PublisherRevistas Publicadas Europa, Revistas 2020, Suíça
Glacier Express
Em meio a tantas incertezas, me agarro a uma certeza, a de que tudo isso vai passar. Não sabemos quando e como, mas tudo vai passar! Enquanto não passa e temos que continuar a nos reinventar em um mundo onde o isolamento social é a principal prevenção contra a Covid-19, que tal nos deixarmos levar pelas memórias de viagens já feitas e sonhar com viagens futuras?
Nesse contexto, divido com vocês uma das melhores experiências de viagem que já tive em minha vida. Embora nem tudo tenha saído como o planejado, carrego comigo a grande emoção vivida nos dias em que percorri os alpes suíços a bordo do Glacier Express, na Suíça, o trem que se orgulha de ser o mais lento do mundo.
Glacier Express
Bem-vindo a Bordo… É Tempo de Sonhar!Por Zélia Rodrigues
Estamos vivendo um momento muito particular na história da humanidade, com centenas de milhões de pessoas isoladas em suas casas ao redor do mundo. Aviões parados nos pátios de hangares e aeroportos à espera de ganharem os céus novamente. Hoteis vazios e fechados. E um batalhão de profissionais de turismo tentando sobreviver em um mundo onde o turismo foi suspenso em todos os continentes. Tudo me parece tão surreal que, muitas vezes, me pergunto se realmente estou vivendo tudo isso ou se fui colocada no enredo de um filme de ficção científica futurística. A vida imita a arte, mas dessa vez a realidade superou – e muito – a criatividade dos roteiristas de cinema.
Nesse momento eu deveria estar em uma viagem de um mês pela Europa. Pretendia aproveitar o período de primavera avançada no continente europeu para revisitar alguns lugares e visitar outros novos, mas esses planos foram frustrados por causa da pandemia da Covid-19, assim como o de tantas outras pessoas. Enquanto os países europeus iniciam um processo de reabertura gradativa, estamos na iminência de atingirmos o pico de contágios no Brasil. Sim, são tempos difíceis…
Em meio a tantas incertezas, me agarro a uma certeza, a de que tudo isso vai passar. Não sabemos quando e como, mas tudo vai passar! Enquanto não passa e temos que continuar a nos reinventar em um mundo onde o isolamento social é a principal prevenção contra a Covid-19, que tal nos deixarmos levar pelas memórias de viagens já feitas e sonhar com viagens futuras?
Nesse contexto, divido com você uma das melhores experiências de viagem que já tive em minha vida. Embora nem tudo tenha saído como o planejado, carrego comigo a grande emoção vivida nos dias em que percorri os alpes suíços a bordo do Glacier Express, o trem que se orgulha de ser o mais lento do mundo.
O longo caminho para a realização de um sonho
Nos longínquos anos de 1990 eu ouvi falar pela primeira vez do Glacier Express. Depois de ler algumas informações e ver duas ou três fotos eu já tinha caído de amores pelo charmoso trem que corta os Alpes Suíços. Na época eu ainda era muito jovem para poder me permitir uma viagem desse gênero, mas jamais deixei de sonhar com ela. Anos se passaram, muitas coisas aconteceram até que, finalmente, em 2012 eu estava pronta para realizar o sonho de embarcar no Glacier Express.
Havia programado a viagem para fevereiro de 2012, pois embora as paisagens ao longo do percurso do Glacier Express sejam belas em todas as épocas do ano, é durante o inverno que elas ficam ainda mais deslumbrantes, com os alpes cobertos de neve e os lagos congelados. Com tudo pronto, encaro horas no trânsito alucinante de São Paulo em plena sexta-feira de carnaval pós temporal. Depois de tensas 4 horas no trânsito, chego ao Aeroporto de Cumbica onde o caos imperava. Encarei uma fila quilométrica e nervosa no check in da Latam – na época ainda Tam – para ao fim descobrir que não poderia embarcar no voo para Milão. A companhia havia feito overbooking em vários de seus voos e deixado em terra dezenas e mais dezenas de passageiros! Após inúmeras discussões, me convenço de não conseguir embarcar e remarco a viagem para dois dias depois. Saio do guichê de remarcação com a minha nova passagem em mãos, mas totalmente sem energia, sem ânimo, completamente perdida em meus pensamentos e vivendo a frustração de ter que adiar por mais tempo a realização da minha viagem dos sonhos. Me jogo no chão do aeroporto e começo a chorar desesperadamente, até que uma mão gentil me estende um lenço. Um jovem francês sentado ao meu lado teve esse gesto carinhoso em meio a uma noite turbulenta, onde até então eu só havia encontrado mal educação e desrespeito. Nem tudo estava perdido!
Enquanto eu voltava para casa e tentava descansar, meu marido, que me aguardava na Itália, movia céus e terras para readequar a viagem ao último momento. Não é fácil conseguir reprogramar uma viagem dessa forma, mas passei a não subestimar o poder de persuasão de um homem apaixonado. No dia seguinte acordei com a notícia de que a viagem a bordo do Glacier Express estava confirmada!
Glacier Express – Do Sonho à Realidade
Três dias depois da fatídica noite do overbooking eu estava em Zermatt, uma das estações de inverno mais importantes e exclusivas da Suíça. O principal cartão-postal da cidade é o Matterhorn – ou Cervino como é chamado na parte italiana – um dos maiores picos da Suíça. Com 4.478 metros de altura e o charme de sua forma piramidal, a Matterhorn atrai de alpinistas profissionais a viajantes comuns. A montanha suíça que ilustra as embalagens de chocolates como o Alpino e o Toblerone é famosa em todo o mundo e segue encantando pessoas de todas as idades e nacionalidades.
No dia seguinte, acordei com a ansiedade de uma criança em dia de Natal. Chegara o grande dia! Eu que nunca fui reconhecida pela pontualidade, cheguei tão cedo na estação de Zermatt que nem o trem havia chegado. Ao ver a plataforma vazia, pensei que o trem havia partido sem mim como o avião o fizera três dias antes, mas felizmente era eu quem estava muito adiantada. Algum tempo depois o brilho dos faróis do trem começou a iluminar a plataforma, lá estava o Glacier Express com todo o seu charme!
Fui a primeira a embarcar na primeira classe do trem e por um bom tempo tive todo o vagão apenas para mim e meu marido. As grandes janelas de vidro, o conforto das poltronas, o serviço eficiente e o concierge prestativo e simpático formavam a combinação perfeita para a viagem de 8 horas que estava para iniciar até a sua parada final em Saint Moritz.
Pontualmente, às 08:52, o Glacier Express deu início à sua viagem, deixando para trás a estação de Zermatt. O dia foi clareando e comecei a receber os primeiros raios de sol daquele dia memorável. Como leonina, é o sol que rege o meu signo e, mesmo não sendo muito ligada à astrologia, me sinto reconfortada em sempre poder contar com o meu fiel companheiro. Em todos os momentos importantes da minha vida o astro-rei estava lá para abrilhantar esses momentos, não foi diferente com a minha jornada a bordo do Glacier Express.
Mesmo com a sua velocidade de 30 Km/h, não demorou muito para que o cenário começasse a ser desvendado. Pequenos vilarejos cobertos de neve, chalés tipicamente suíços espaçados naquela imensidão de neve, lagos congelados e suas quase 300 pontes fazem do trajeto do Glacier Express um dos mais lindos e fascinantes do mundo, sobretudo durante os meses de inverno. Esse trem atinge os pontos mais altos dos alpes suíços, onde nenhum outro trem é capaz de chegar, como o Passo de Oberalp, a 2.033 metros de altitude.
O Glacier Express faz pequenas paradas nas cidades de Andermatt, Disentis e Chur, sendo possível desembarcar para ver um pouco desses lugares, mas eu preferi permanecer no interior do trem e aproveitar a vista panorâmica que tinha da minha ampla janela. O tempo pareceu voar até que às 16:55, sempre pontualmente, o Glacier Express encerrou o seu trajeto na estação de Saint Moritz, um dos destinos de inverno mais requisitados e belos dos alpes suíços.
A minha viagem pela Suíça prosseguiu, mas o dia em que cortei os alpes suíços do oeste ao leste a bordo do Glacier Express permanece como uma das experiências mais incríveis e fascinantes que já tive em minha vida.
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