Vinho & Eu: Terroir – Parte 2

Terroir – Parte 2

Até que ponto o terroir é decisivo na qualidade final dos vinhos?

Dois meses atrás nós abordamos a questão do terroir nesse espaço, mas decidimos voltar ao tema nesta edição por causa do grande número de questionamentos que chegaram até a nossa redação. Aliás, aproveito a oportunidade para corroborar que se você tiver alguma dúvida ou sugestão sobre o universo dos vinhos, pode nos escrever (redaçã[email protected]) que abordaremos a questão no futuro para tentar esclarecer no que pudermos.

Bom, de volta ao tema terroir, a principal questão que surgiu foi se e o quanto o terroir pode influenciar na qualidade de um vinho. Ou seja, considerando dois produtores, cada um deles localizado em uma área geográfica bem distinta uma da outra, que utilizem as mesmas cepas, as mesmas técnicas e a mesma forma de produção/manuseio em cada etapa, ao final do mesmo ano como serão os vinhos produzidos por esses dois produtores? Os vinhos serão de igual qualidade ou poderão ser de qualidades diferentes em razão do terroir?

Saltando diretamente para a conclusão, sim, os vinhos poderão ser de qualidades diferentes, pois o terroir é um dos fatores chaves da produção vinícola.

Como vimos na primeira coluna sobre terroir, essa terminologia é muito ampla, considerando não apenas o solo e o subsolo, mas também compreendendo outras características como altitude, relevo, ambiente e clima, formando um conjunto de parâmetros que contribuem para o resultado do vinho. Portanto, se considerarmos duas áreas geográficas muito distintas uma da outra, mesmo utilizando as mesmas técnicas, os vinhos ao final do processo serão diferentes.

A importância fundamental do terroir na qualidade final do vinho foi o cerne da luta pela denominação de origem controlada (DOC) na França e na Itália, o segundo e o primeiro maior produtor de vinhos do mundo, respectivamente. Não por acaso todas as obras especializadas francesas e italianas evocam a forma pela qual as características do terroir afetam os aromas e o gosto do vinho. Essa diferenciação pode ocorrer, até mesmo, entre regiões de um mesmo país.

Porém, embora o terroir influencie significativamente a qualidade final dos vinhos, o fator humano também pode alterar o resultado, adequando certas técnicas e composições para o terroir no qual se está produzindo. Neste momento, entra em campo – literalmente – a figura do vinicultor, capaz de extrair o melhor do terroir e trabalhar com os limites impostos pela natureza. Além do domínio das técnicas já consolidadas, os grandes vinicultores carregam com si uma forte dose de inovação e ousadia, fundamentais para buscar soluções quando os parâmetros ideais não estão presentes. Exemplificativamente, podemos citar Paul Draper, que fez um trabalho fantástico na Califórnia, colocando a região americana entre as melhores produtoras de vinhos do mundo.

Desta forma, podemos verificar que mesmo regiões que não contam com terroirs de excelência como o Chile, a Argentina, o Brasil, os Estados Unidos, a África do Sul, a Austrália e a Nova Zelândia podem produzir vinhos de ótima qualidade, graças ao trabalho árduo e competente de vinicultores visionários que extraem o melhor de seus terroirs e adequam a produção a novas e interessantes técnicas. Se hoje temos produção vinícola de qualidade no Novo Mundo, muito devemos a esses competentes e pacientes vinicultores.

 

Se você tiver dúvidas, comentários ou sugestões sobre o universo dos vinhos, escreva para mim em [email protected].

Foto divulgação